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Atacante larga carreira depois de levar calote
DA REPORTAGEM LOCAL
O fato de a Lei Pelé ter garantido aos jogadores a chance de
conseguir a liberação de seus
clubes na Justiça do Trabalho
não acabou com as injustiças
do mundo do futebol.
É o que constata o ex-atacante Vicente Madella, 24, que hoje cursa faculdade de administração de empresas e faz estágio no setor de contabilidade de
uma distribuidora de material
de construção em Sorocaba, cidade do interior paulista.
Ele abandonou a carreira de
jogador profissional por causa
de uma dívida de R$ 1.200. Era
o que ele tinha a receber do Sumaré, clube que defendeu na
Série B do Paulista em 2006.
"Fora o bicho, que nunca vi, o
salário registrado era R$ 350.
Mas o combinado era pagarem
R$ 400", conta Vicente, mostrando que o expediente de
acertar remuneração além da
prevista no contrato de trabalho não é exclusividade de estrelas com ganhos vultosos.
Meros R$ 50, que na quarta
divisão estadual não podem ser
chamados de direito de imagem, o eufemismo utilizado nas
grandes contratações.
Vicente obteve ganho de causa na Justiça. Na verdade, o Sumaré nem recorreu. Um acordo
acabou sendo feito, mas até hoje o ex-jogador diz não ter recebido dinheiro. "Sinceramente,
acabei perdendo a vontade depois de tantos contratempos."
Formado no São Bento de
Sorocaba, Vicente alcançou,
mesmo que discretamente, associações mais tradicionais pelo país. Jogou no Coritiba e no
time B do Palmeiras.
No Sumaré, acredita, o problema foi um grupo de empresários que apoiava o clube ter
abandonado o projeto de investimento na véspera do início da
competição. "Aí, começou a faltar tudo. Houve dias em que até
o treino era cancelado, porque
não tínhamos uniformes para
usar. Foi uma insegurança
muito grande, tanto que os jogadores nem sabiam se iríamos
ou não entrar nas partidas. Até
comida, que eles prometeram
para todo os jogadores que não
eram da cidade, faltava", conta.
Sempre que um atleta natural da cidade comia no clube, o
resto do grupo, que vivia em um
alojamento do Sumaré, ficava à
míngua. "Era literalmente vender o almoço para comprar o
jantar", diz. "No fim das contas,
eu até pagava para ficar lá, porque nem mesmo os reembolsos
das passagens que eu comprava
para ir até a cidade eu recebia."
Traumatizado, Vicente nem
mesmo guardou a camisa de
seu último clube. "Fizeram tanta sacanagem comigo que eu
não quis levar camisa deles."
Depois de tentar em vão receber por três meses ("Passava
toda semana na sala do presidente, mas ele era quem menos
sabia das coisas e só enrolava, e
o empresário não aparecia
nunca para pagar"), ele recorreu ao sindicato dos jogadores,
que ofereceu auxílio jurídico.
Mas passou a se sentir um
peso para a família, ainda mais
ao ver seus dois irmãos na faculdade, procurando outros caminhos profissionais. Após falar com os pais, desistiu da carreira e retomou os estudos.
"Sei das dificuldades do
mundo da bola. Mas tenho uma
vontade enorme de voltar",
afirma Vicente, sem esconder
as mágoas pelo prematuro fim
que teve sua carreira de jogador
profissional.
(LF E RM)
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