São Paulo, sexta-feira, 25 de março de 2011

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XICO SÁ

Pacto com Exu


Se tem gol de Jesus, como as bolas na rede dos evangélicos, também vale gol dos orixás


AMIGO TORCEDOR, amigo secador, eliminado da Copa do Brasil, em baixa no certame pernambucano, a diretoria do Sport resolveu honrar o pacto que havia feito com Exu, a poderosa entidade do candomblé e da umbanda cujo papel é conduzir os pedidos dos homens aos orixás.
A dívida do clube do Recife, terra do boi voador holandês, era um búfalo. Deveria ser entregue ao pai Carlos, no terreiro do Jordão Baixo. Achar um búfalo na área não é das tarefas mais fáceis. O rubro-negro então pagou em dinheiro, R$ 5.000, agora Exu que se vire para sacrificar o bovino.
Bom demais saber, em plena novela chata da venda de cotas para a TV, que esse tipo de crença e folclore ainda rolam no futebol. Parabéns ao Sport por cumprir o trato, mesmo depois de três anos de atraso, com o culto afro-brasileiro. Mui digno.
O búfalo rendeu a Copa do Brasil ao Leão, em 2008, o ano em que a Ilha do Retiro se transformou em Ilha de Lost. Os grandes adversários, como o Inter de Abel e o Corinthians de Mano Menezes, favoritíssimos ao caneco, perderam-se lá dentro como os personagens do seriado televisivo.
Bom demais saber, em um tempo em que nada se cumpre no futebol -nem contratos nem palavras- que o clube recifense honrou a sua história. O acerto com Exu nem havia sido feito pelos cartolas. Foi crendice de torcedor maluco mesmo. Motivo de gozação por parte dos torcedores do Santa Cruz e do Náutico, o búfalo já enfeita, no lugar do Leão, um novo escudo do Sport que circula na internet e em faixas nas ruas.
A relação com os orixás, costume brasileiríssimo combatido pela cruzada evangélica no rádio e na TV, merece mesmo ser louvado. Sempre esteve presente no futebol. Na Bahia e alhures. Pai Santana, do Vasco, que o diga. Robério de Ogum, a quem sempre recorre o técnico Luxemburgo, é outro em atividade ludopédica.
Quem não gosta nada da presença dos orixás em campo é a turma dos atletas de Cristo, corrente cada vez mais hegemônica. Bom que saiba respeitar as diferenças religiosas nessa hora.
A fábula do búfalo rubro-negro, além da greia -gozação em bom pernambuquês-, ajuda a tornar mais ecumênica a presença religiosa em campo. Se tem gol de Jesus, como as bolas na rede dos evangélicos, também vale gol dos orixás.
Eu só acredito nos deuses que dançam. Seja no corpo de uma bela mulher na pista, seja no estádio depois de um gol de placa.

xico.folha@uol.com.br

@xicosa


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