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FUTEBOL
Os técnicos: Heráclito
JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA
"Faleceu hoje nessa cidade o senhor Heráclito Gomes. Não deixa parentes." A nota, publicada no "Correio de Piracanjuba", não dá a medida do
que foi homem. Nos dias de glória, ele simplesmente virou o futebol goiano de cabeça para baixo.
Devo contar sua história antes
que seja esquecida.
O início de tudo foi num quase
desastre. Heráclito, com seus 15
anos, estava numa canoa que
atravessava um caudaloso rio.
Então a canoa virou e Heráclito,
como não sabia nadar, estava
condenado à morte. Porém um
matuto que pescava em uma das
margens viu o garoto se afogando
e nadou para salvá-lo.
Depois, já recuperado, Heráclito agradeceu: "Obrigado, senhor,
nunca mais vou entrar neste rio".
E o Matuto, ao escutá-lo, matutou e disse: "Nunca mesmo, porque nenhum homem entra duas
vezes num mesmo rio".
Heráclito respondeu apenas
com um "Hã", e o matuto, percebendo que havia sido obscuro, explicou: "É que, na próxima vez
que entrar no rio, você já não será
o mesmo, e o rio já será outro".
Essa idéia rodopiou pela cabeça
de Heráclito durante a sua vida e
foi o pilar de sua filosofia como
técnico. Para ele, nada na natureza era estático e permanente, e
um time de futebol deveria encarnar esse conceito dentro de campo se quisesse atuar em consonância com as forças da vida.
Assim sendo, Heráclito, nos distantes anos 30, já fazia com que
seus jogadores não guardassem
posição fixa e se movimentassem
por todo o campo. Foi uma revolução! Algo parecido com o Piracanjuba de Heráclito só seria visto quatro décadas depois: a Holanda de Rinus Michels.
Já na partida de abertura da
Taça Governador do Estado, o time aplicou uma notável goleada:
6 a 0. A vítima foi o Internacional
de Mairipotaba. Vale a pena reproduzir um trecho da matéria
publicada pelo "Correio Piracanjubense": "Os jogadores dirigidos
pelo técnico Heráclito parecem
grãos de milho numa panela: pulam de um lado para outro, mudam de lugar a cada instante e é
impossível adivinhar qual será o
lance seguinte".
Foram 12 jogos e 12 vitórias. E,
na final do torneio, o time enfrentaria o mesmo Internacional de
Mairipotaba.
Dessa vez, Heráclito radicalizou
em sua filosofia. Antes da decisão,
escreveu no quadro negro a inesquecível frase: "Nenhum time ganha duas vezes do mesmo adversário". E assim sendo escalou apenas os reservas.
O resultado foi 6 a 0 para o Mairipotaba.
Heráclito foi despedido.
Mas isso não é a página mais
triste de sua história.
Depois de pegar suas coisas no
clube, para espairecer um pouco
ele foi pescar no mesmo rio em
que quase se afogara. Fisgou um
lambari, mas o peixe escapou. Fora de si, Heráclito atirou-se às
águas atrás dele. Nem se lembrou
de que não sabia nadar.
Uma testemunha ainda ouviu
suas palavras finais:
- Ninguém se afoga duas vezes
no mesmo rio, glub, glub...
Torcedores culpados
Ainda não sei o que significa a
derrota do Palmeiras por 7 a 2,
em pleno Parque Antarctica,
para o Vitória. Só espero que os
torcedores que apoiaram Mustafá Contursi e não apoiaram
alguns jogadores, assumam sua
parcela de culpa.
Atletas desculpados
A maior vergonha da semana
no mundo esportivo (ou do
mês, ou do ano) é o caso do
Usoc, o comitê olímpico norte-americano. Carl Lewis foi pego
três vezes em exames antidoping, mas, em vez de punir o
atleta, o Usoc encobriu o caso.
Os norte-americanos, assim no
esporte como na política externa e na economia, não precisam seguir leis. Quem tem poder faz as suas próprias regras e
passa sobre qualquer mediador, seja a ONU ou o COI.
E-mail torero@uol.com.br
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