São Paulo, sexta-feira, 25 de abril de 2008

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Pequim 2008 - A graça do esporte

Sintonia e rapidez em um salto

O instante de superar o obstáculo exige harmonia entre cavaleiro e cavalo, anos de treinamento, e faz a graça desse esporte olímpico

FABIO GRIJÓ
DA REPORTAGEM LOCAL

Dez centímetros decidem a sorte do cavaleiro -e por que não, do cavalo. A medida é o diâmetro médio do obstáculo que tem de ser superado pelo conjunto na prova de saltos. Obstáculo frágil, que não pode ser derrubado. Sem falha. Nem do homem nem do animal.
Passar pela pista sem ver a peça cair é a meta de qualquer ginete. Há, ainda, uma segunda variável: completar o trecho no menor tempo possível.
A chave para o sucesso é a sintonia -mais que harmonia- entre o cavaleiro e sua montaria. São anos a fio de treinamentos para que um "descubra" o outro. Um cavalo "top", de nível olímpico, tem idade média de dez anos.
Será essa sintonia que irá formar um conjunto campeão. Capaz de não parar diante dos obstáculos, mesmo os mais difíceis que surgirem à frente.
Tudo é calculado milimetricamente antes da competição. O cavaleiro caminha, a pé, para se inteirar do percurso. Dá passos entre as barreiras. Faz contas. Mentalmente, compara as distâncias com a quantidade de galopes que o cavalo terá de realizar entre os obstáculos.
"A beleza do salto é a sincronia entre cavalo e cavaleiro. Isso é que faz o salto sair perfeito", diz Álvaro Affonso de Miranda Neto, o Doda, medalhista de bronze por equipes em Atlanta-1996 e Sydney-2000.
Um toque no animal -bem treinado- serve como estímulo para ele reagir da maneira necessária na disputa. Saltar, galopar, acelerar o ritmo. É a senha para a montaria desempenhar seu papel conforme seja preciso naquele instante. O homem pensa. O cavalo executa. Às vezes, não.
"Num treino, a importância de cada um, cavalo e cavaleiro, é de 50%. Mas, na prova, o cavalo passa a ter de 60% a 70%", fala Nelson Pessoa, o patriarca do clã que tem Rodrigo Pessoa como atual campeão olímpico.
"O cavaleiro tem de transmitir confiança o tempo inteiro ao cavalo, mostrar que acredita que o cavalo irá obedecer e contribuir na competição."
A caminhada antes da prova serve também para o atleta identificar pontos delicados do percurso, que pode chegar a 650 metros, com até 17 saltos em provas internacionais, como os Jogos Olímpicos.
Ganchos e varas são montados para indicar o grau de dificuldade. Um simples toque pode ser o suficiente para derrubar um obstáculo. Nas provas de saltos, a pista é montada para testar a capacidade do cavaleiro de controlar o cavalo.
Existem designers especializados em montar o palco onde o conjunto tentará brilhar. O objetivo é avaliar o quanto o animal foi bem trabalhado.
Até porque ele irá encontrar "distrações" pela frente.
Além de obstáculos duplos e triplos, a pista conta com componentes como muros e rios, que "atraem" a atenção do animal e podem desconcentrá-lo.
"O que quer que aconteça, o cavaleiro jamais pode deixar seu cavalo estressado", diz Nelson Pessoa. "Tem de deixar o animal o mais tranqüilo possível. O cavaleiro deve conhecer os limites de seu cavalo."


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