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Em alta, Betão celebra final dos "pais"
Símbolo do rebaixamento corintiano, defensor se julga um filho biológico do Corinthians e um filho adotivo do Santos
Na semifinal da Copa da Uefa com o Dínamo de Kiev, virtual campeão ucraniano, beque lembra elogio de Pelé e diz ser aplaudido sempre
RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL
Betão, 25, deu a volta por cima. Talvez mais que o Corinthians, que voltou à Série A, e o
Santos, que quase foi à Série B.
O defensor virou símbolo do
descenso corintiano e iniciou a
recuperação no Santos. Ele diz
que os finalistas do Paulista são
seus pais. E que vive sua melhor
fase no Dínamo de Kiev, semifinalista da Copa da Uefa.
FOLHA - Vive sua melhor fase?
BETÃO - Estou muito feliz com
tudo o que estou passando. Pegamos um grupo muito forte na
Copa dos Campeões e quase
nos classificamos. Passamos à
Copa da Uefa. Em comparação
com anos anteriores, foi maravilhoso. Estou feliz por ter jogado com grandes atletas, os melhores do mundo, e em estádios
em que nunca pensei em atuar.
FOLHA - Dizem que na Ucrânia o jogador fica sem visibilidade...
BETÃO - No Brasil, ninguém
olha a gente. Mas estou um ano
aqui e jogando contra Arsenal,
Porto, Fenerbahce, Valencia,
PSG... Quando, no Brasil, jogaria contra essas equipes?
FOLHA - Tem atuado de lateral,
não? Já tinha feito isso no Santos.
BETÃO - Não entenda esse lateral como se fosse lateral do Brasil. É diferente, aqui você tem a
obrigação de defender e, se der,
atacar. Na Copa dos Campeões,
dificilmente ia ao fundo, mais
marcava que atacava. Fiz cinco
ou mais partidas no Santos como lateral, até na Libertadores.
FOLHA - Imaginou que um dia jogaria a Copa dos Campeões?
BETÃO - Quem está no Brasil
enxerga a Copa dos Campeões
muito distante. Para jogá-la,
tem que estar num time top. Há
jogadores ícones que nunca jogaram a Copa dos Campeões.
FOLHA - Deve estar muito feliz com
a recuperação do Corinthians...
BETÃO - Com o Santos também. No ano passado, esteve
para cair. Nós três estamos
num momento bom. Fico feliz
porque o Corinthians não merecia permanecer naquela situação [Série B]. Conseguiu dar
a volta por cima. Modéstia à
parte, não sou jogador para ficar por baixo por tudo aquilo
que fiz. Tem um lugar que está
preparado para mim. Hoje, estou feliz por ter alcançado coisas que poucos conseguem.
FOLHA - Você demonstra hoje um
carinho todo especial com o Santos.
BETÃO - Demais. Digo que o
Corinthians é meu pai biológico, e o Santos é meu pai adotivo.
Fui criado no Corinthians e, depois daquele momento ruim, o
Santos abriu as portas para
mim, consegui o reconhecimento da torcida. Até o Pelé me
deu elogio. É diferente, mas tenho carinho grande pelos dois.
FOLHA - Palpite para domingo?
BETÃO - Posso fazer um panorama do jogo. No primeiro, o
Santos vai mais para cima, terá
mais estudo. No segundo, os times vão para o tudo ou nada.
FOLHA - Você se sentiu desprestigiado quando saiu do Corinthians?
BETÃO - A gente sempre acha
que é menos valorizado do que
merece. O pensamento vale em
todas as profissões. Poderia ter
tido mais apoio por tudo o que
passei no Corinthians, por tantas vezes que dei a cara para bater na imprensa, para resolver
questões que nem cabiam a
mim. Tinha que falar de problemas da MSI, Carlitos [Tevez],
um monte de coisas. Mas não
fui totalmente desamparado.
FOLHA - Por que o time caiu?
BETÃO - O efeito bola de neve.
Quando a coisa não começa
bem, é difícil terminar bem.
Uma hora ia estourar em campo tudo o que foi feito fora. Não
sei todos os detalhes, mas foi
feita a parceria [Corinthians e
MSI], tudo estranho. Contratam 14 jogadores e, de repente,
tiram todos e contratam mais
14. Os outros ficam sem saber o
que fazer, e fomos rebaixados.
A desorganização veio de anos
atrás, e quem estava lá acabou
pagando. É difícil ver um jogador daquele time que se firmou
bem em time grande. A não ser
o Felipe, que permaneceu.
FOLHA - Você fez o gol que quebrou jejum contra o São Paulo. Agora é o Corinthians que não perde.
BETÃO - Sei da invencibilidade
e fico feliz por fazer parte.
Queira ou não, abri a porteira.
Ali foi um momento isolado
dentro de um momento ruim [1
a 0, em 2007]. Mas hoje estou
no meu melhor momento.
FOLHA - O que planeja para sua
carreira? Quer voltar ao Brasil logo?
BETÃO - Meu pensamento é
abrir portas na Europa, permanecer, ir para um centro como
Espanha ou Itália. Se tiver que
ficar na Ucrânia, estarei feliz.
Quero firmar meus passos, talvez por bastante tempo, sem
previsão de volta. A não ser que
aconteça uma situação que me
force a voltar, uma situação familiar, se perder espaço aqui.
FOLHA - Não há pressão de torcida
aí, como no Brasil?
BETÃO - Ganhando ou perdendo, batem palma. Facilita demais. A torcida na Europa vê o
futebol como profissão. O jogador entra para fazer o melhor.
Se deu certo, muito bem. Se não
deu, fazer o quê? O respeito que
eles têm é muito grande, você
sai na rua e não tem problema.
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