São Paulo, sábado, 25 de abril de 2009

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Em alta, Betão celebra final dos "pais"

Símbolo do rebaixamento corintiano, defensor se julga um filho biológico do Corinthians e um filho adotivo do Santos

Na semifinal da Copa da Uefa com o Dínamo de Kiev, virtual campeão ucraniano, beque lembra elogio de Pelé e diz ser aplaudido sempre

RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL

Betão, 25, deu a volta por cima. Talvez mais que o Corinthians, que voltou à Série A, e o Santos, que quase foi à Série B. O defensor virou símbolo do descenso corintiano e iniciou a recuperação no Santos. Ele diz que os finalistas do Paulista são seus pais. E que vive sua melhor fase no Dínamo de Kiev, semifinalista da Copa da Uefa.

 

FOLHA - Vive sua melhor fase?
BETÃO
- Estou muito feliz com tudo o que estou passando. Pegamos um grupo muito forte na Copa dos Campeões e quase nos classificamos. Passamos à Copa da Uefa. Em comparação com anos anteriores, foi maravilhoso. Estou feliz por ter jogado com grandes atletas, os melhores do mundo, e em estádios em que nunca pensei em atuar.

FOLHA - Dizem que na Ucrânia o jogador fica sem visibilidade...
BETÃO
- No Brasil, ninguém olha a gente. Mas estou um ano aqui e jogando contra Arsenal, Porto, Fenerbahce, Valencia, PSG... Quando, no Brasil, jogaria contra essas equipes?

FOLHA - Tem atuado de lateral, não? Já tinha feito isso no Santos.
BETÃO
- Não entenda esse lateral como se fosse lateral do Brasil. É diferente, aqui você tem a obrigação de defender e, se der, atacar. Na Copa dos Campeões, dificilmente ia ao fundo, mais marcava que atacava. Fiz cinco ou mais partidas no Santos como lateral, até na Libertadores.

FOLHA - Imaginou que um dia jogaria a Copa dos Campeões?
BETÃO
- Quem está no Brasil enxerga a Copa dos Campeões muito distante. Para jogá-la, tem que estar num time top. Há jogadores ícones que nunca jogaram a Copa dos Campeões.

FOLHA - Deve estar muito feliz com a recuperação do Corinthians...
BETÃO
- Com o Santos também. No ano passado, esteve para cair. Nós três estamos num momento bom. Fico feliz porque o Corinthians não merecia permanecer naquela situação [Série B]. Conseguiu dar a volta por cima. Modéstia à parte, não sou jogador para ficar por baixo por tudo aquilo que fiz. Tem um lugar que está preparado para mim. Hoje, estou feliz por ter alcançado coisas que poucos conseguem.

FOLHA - Você demonstra hoje um carinho todo especial com o Santos.
BETÃO
- Demais. Digo que o Corinthians é meu pai biológico, e o Santos é meu pai adotivo. Fui criado no Corinthians e, depois daquele momento ruim, o Santos abriu as portas para mim, consegui o reconhecimento da torcida. Até o Pelé me deu elogio. É diferente, mas tenho carinho grande pelos dois.

FOLHA - Palpite para domingo?
BETÃO
- Posso fazer um panorama do jogo. No primeiro, o Santos vai mais para cima, terá mais estudo. No segundo, os times vão para o tudo ou nada.

FOLHA - Você se sentiu desprestigiado quando saiu do Corinthians?
BETÃO
- A gente sempre acha que é menos valorizado do que merece. O pensamento vale em todas as profissões. Poderia ter tido mais apoio por tudo o que passei no Corinthians, por tantas vezes que dei a cara para bater na imprensa, para resolver questões que nem cabiam a mim. Tinha que falar de problemas da MSI, Carlitos [Tevez], um monte de coisas. Mas não fui totalmente desamparado.

FOLHA - Por que o time caiu?
BETÃO
- O efeito bola de neve. Quando a coisa não começa bem, é difícil terminar bem. Uma hora ia estourar em campo tudo o que foi feito fora. Não sei todos os detalhes, mas foi feita a parceria [Corinthians e MSI], tudo estranho. Contratam 14 jogadores e, de repente, tiram todos e contratam mais 14. Os outros ficam sem saber o que fazer, e fomos rebaixados. A desorganização veio de anos atrás, e quem estava lá acabou pagando. É difícil ver um jogador daquele time que se firmou bem em time grande. A não ser o Felipe, que permaneceu.

FOLHA - Você fez o gol que quebrou jejum contra o São Paulo. Agora é o Corinthians que não perde.
BETÃO
- Sei da invencibilidade e fico feliz por fazer parte. Queira ou não, abri a porteira. Ali foi um momento isolado dentro de um momento ruim [1 a 0, em 2007]. Mas hoje estou no meu melhor momento.

FOLHA - O que planeja para sua carreira? Quer voltar ao Brasil logo?
BETÃO
- Meu pensamento é abrir portas na Europa, permanecer, ir para um centro como Espanha ou Itália. Se tiver que ficar na Ucrânia, estarei feliz. Quero firmar meus passos, talvez por bastante tempo, sem previsão de volta. A não ser que aconteça uma situação que me force a voltar, uma situação familiar, se perder espaço aqui.

FOLHA - Não há pressão de torcida aí, como no Brasil?
BETÃO
- Ganhando ou perdendo, batem palma. Facilita demais. A torcida na Europa vê o futebol como profissão. O jogador entra para fazer o melhor. Se deu certo, muito bem. Se não deu, fazer o quê? O respeito que eles têm é muito grande, você sai na rua e não tem problema.


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