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DEPOIMENTO
Campeão ou não, time vai alegrar a moçada do bairro
THALES DE MENEZES
DA REPORTAGEM LOCAL
É difícil torcer para o Santo
André. E aqui não há referência
à cabeluda tarefa de bater o
Santos na final que começa hoje. Sempre foi complicado virar
torcedor do time, um complô
que tem até razões geográficas.
Santo André é praticamente
colada na capital. Em um dia
sem congestionamentos infernais (isso ainda existe?), ir de lá
ao Pacaembu é coisa de menos
de uma hora. Assim, quem nasce andreense tem tudo para virar corintiano, palmeirense,
são-paulino ou, menor chance,
santista. Os pais nem se lembram do time da cidade na hora
de encaminhar os pimpolhos.
Na década de 1970, com o time preso à segunda divisão
paulista, os jogos no Bruno José Daniel eram praticamente
um programa dos moradores
dos bairros próximos. Este repórter, pré-adolescente, morava a uma caminhada do estádio
e encontrava apenas rostos conhecidos nas arquibancadas.
A coisa continuou assim
quando o Santo André passou a
frequentar a elite paulista, nos
anos 80. Para encher o Brunão,
só o Corinthians. Cansei de ver
jogos do São Paulo e do Palmeiras no estádio vazio.
A torcida do Ramalhão atravessou anos pequena e muito
jovem, porque só adolescente
mesmo para ter pique de ir ao
estádio testemunhar "clássicos" contra times do interior
paulista. A ascensão rápida do
São Caetano, em paralelo a
uma fase ruim do Santo André,
quase foi o tiro de misericórdia.
Mas veio a bela campanha na
Copa do Brasil de 2004 para revigorar o time. Ou não?
Quem foi ao Parque Antarctica ver o primeiro jogo da final?
Cariocas radicados em São
Paulo. O Flamengo jogou "em
casa", 90% do público era rubro-negro. A torcida azul nem
lotou o reduzido gomo de arquibancada destinado a ela.
O título que calou o Maracanã dias depois foi mais comemorado por vascaínos, tricolores e botafoguenses do que por
legítimos torcedores do Ramalhão. Estes poucos, provavelmente ex-frequentadores do
Brunão no século passado, festejaram discretamente, espalhados por aí, em seus sofás.
A boa fase de agora não ilude.
Nem os ingressos distribuídos
por políticos dispostos a tirar
uma casquinha lotam o estádio.
Mas os torcedores históricos
têm dois motivos para alegria.
Primeiro, a disputa do título
do Paulista chega poucos meses depois de outro rebaixamento no Brasileiro, que marcou o fim de um time cheio de
veteranos que não deixa saudade. Livre de Marcelinho Carioca, Gustavo Nery e congêneres,
o técnico Sérgio Soares pôde
escalar uma molecada esperta.
Segundo, o time entra como
franco-atirador. Se tomar duas
goleadas do Santos, valeu a final. Se aprontar, o Pacaembu
vira Maracanã em 1950.
Campeão ou não, a moçada
que morou ou ainda mora no
bairro do Brunão vai ficar contente. No fim das contas, a gente acha que o Santo André joga
só para a nossa velha turma.
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