São Paulo, domingo, 25 de abril de 2010

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DEPOIMENTO

Campeão ou não, time vai alegrar a moçada do bairro

THALES DE MENEZES
DA REPORTAGEM LOCAL

É difícil torcer para o Santo André. E aqui não há referência à cabeluda tarefa de bater o Santos na final que começa hoje. Sempre foi complicado virar torcedor do time, um complô que tem até razões geográficas.
Santo André é praticamente colada na capital. Em um dia sem congestionamentos infernais (isso ainda existe?), ir de lá ao Pacaembu é coisa de menos de uma hora. Assim, quem nasce andreense tem tudo para virar corintiano, palmeirense, são-paulino ou, menor chance, santista. Os pais nem se lembram do time da cidade na hora de encaminhar os pimpolhos.
Na década de 1970, com o time preso à segunda divisão paulista, os jogos no Bruno José Daniel eram praticamente um programa dos moradores dos bairros próximos. Este repórter, pré-adolescente, morava a uma caminhada do estádio e encontrava apenas rostos conhecidos nas arquibancadas.
A coisa continuou assim quando o Santo André passou a frequentar a elite paulista, nos anos 80. Para encher o Brunão, só o Corinthians. Cansei de ver jogos do São Paulo e do Palmeiras no estádio vazio.
A torcida do Ramalhão atravessou anos pequena e muito jovem, porque só adolescente mesmo para ter pique de ir ao estádio testemunhar "clássicos" contra times do interior paulista. A ascensão rápida do São Caetano, em paralelo a uma fase ruim do Santo André, quase foi o tiro de misericórdia. Mas veio a bela campanha na Copa do Brasil de 2004 para revigorar o time. Ou não?
Quem foi ao Parque Antarctica ver o primeiro jogo da final? Cariocas radicados em São Paulo. O Flamengo jogou "em casa", 90% do público era rubro-negro. A torcida azul nem lotou o reduzido gomo de arquibancada destinado a ela.
O título que calou o Maracanã dias depois foi mais comemorado por vascaínos, tricolores e botafoguenses do que por legítimos torcedores do Ramalhão. Estes poucos, provavelmente ex-frequentadores do Brunão no século passado, festejaram discretamente, espalhados por aí, em seus sofás.
A boa fase de agora não ilude. Nem os ingressos distribuídos por políticos dispostos a tirar uma casquinha lotam o estádio. Mas os torcedores históricos têm dois motivos para alegria.
Primeiro, a disputa do título do Paulista chega poucos meses depois de outro rebaixamento no Brasileiro, que marcou o fim de um time cheio de veteranos que não deixa saudade. Livre de Marcelinho Carioca, Gustavo Nery e congêneres, o técnico Sérgio Soares pôde escalar uma molecada esperta.
Segundo, o time entra como franco-atirador. Se tomar duas goleadas do Santos, valeu a final. Se aprontar, o Pacaembu vira Maracanã em 1950.
Campeão ou não, a moçada que morou ou ainda mora no bairro do Brunão vai ficar contente. No fim das contas, a gente acha que o Santo André joga só para a nossa velha turma.


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