São Paulo, domingo, 25 de abril de 2010

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PAULO VINICIUS COELHO

A última chance


Corinthians x Flamengo, pela Libertadores, irá medir as respostas de Ronaldo e Adriano a quem duvida deles


O AFASTAMENTO de Ronaldo para um período de treinos, semana passada, veio acompanhado de uma conversa franca com a comissão técnica. Ele ouviu que não estava se dedicando aos treinos como deveria e precisaria trabalhar sério se quisesse jogar bem o restante da Libertadores. Se quisesse... Ronaldo ouviu atento e não tentou contra-argumentar. Concordou com tudo.
Desde esse dia, a atitude de Ronaldo nos treinos é outra. Técnico do Fenômeno na Copa-2002, Luiz Felipe Scolari tem um mantra sobre o comportamento dos craques. "Jogador bom é jogador com fome", afirma Felipão. Não, não é desse tipo de fome que estamos falando...
Adriano tinha fome de gols e de mostrar que podia jogar bem, como nos seus melhores dias de Internazionale, quando voltou ao Flamengo. Fez 19 gols e levantou a camisa para mostrar a barriga tanquinho, símbolo da redescoberta do prazer em treinar, jogar, arrebentar.
Como Ronaldo, Adriano tem o incrível poder de mostrar que pode, quando todos pensam que não pode mais. Não se esqueça de que Ronaldo jogou o brilhante primeiro semestre de 2009 após se recuperar da ruptura do tendão patelar. Pois tanto Adriano quanto Ronaldo chegam às oitavas de final da Libertadores com a velha necessidade de mostrar que ainda são grandes, quando a maioria pensa que não são mais.
O desempate, desta vez, pode estar na qualidade do ambiente que cerca cada um dos dois pesos-pesados do futebol brasileiro. Ronaldo ouviu observações sérias sobre a qualidade de seu trabalho, concordou com elas e pareceu disposto a reagir nos treinos. No Flamengo, o único puxão de orelhas em Adriano veio da arquibancada, com a vaia mais doída de sua carreira. Nos dias seguintes à vaia, o ex-Imperador manteve o mesmo comportamento dos dias anteriores. Seus amigos dizem que está três quilos acima do peso. Seus inimigos...
Jogador com fome era Ronaldo no início de carreira. "Eu era repórter da rádio Itatiaia e via o Ronaldo correndo atrás de gols nos treinos com a mesma fúria que os buscava nos jogos", lembra o gerente de futebol do Cruzeiro, Valdir Barbosa. "Quando estava de folga no profissional, Ronaldo participava dos jogos do time júnior", completa.
Incrível como a vida das pessoas muda. Adriano morava na Vila Cruzeiro e sonhava ser jogador do Flamengo. Hoje é jogador do Flamengo e sonha estar na Vila Cruzeiro. Ronaldo morava em Bento Ribeiro, virou jogador do São Cristóvão, fez teste no São Paulo, foi parar no Cruzeiro, jogou no PSV, foi vendido ao Barcelona e, então, passou a viver dias em que sentia mais fome nos restaurantes do que nos campos.
Adriano hoje perde as duas comparações inevitáveis em sua carreira. A torcida do Flamengo já prefere Vagner Love. Os livros de história também preferem Ronaldo.
Ronaldo ganhou a comparação com Gerd Müller, Just Fontaine, Marco van Basten, Romário e Di Stéfano, para ficar no topo dos artilheiros de Copa. Mas em 2010 perde para André, titular do Santos na maior parte do Paulistão. Sua única vantagem antes de entrar em campo contra o Flamengo é que sabe disso.
Jogador bom é jogador com fome.

pvc@uol.com.br


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