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FUTEBOL
Linhas tortas
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Para conquistar a Copa
que se avizinha, o futebol
brasileiro vai ter de escrever certo
por linhas muito tortas.
Além dos adversários propriamente ditos, a seleção terá de superar inúmeros obstáculos "internos", a saber:
1) a irresponsabilidade caça-níqueis e politiqueira da CBF, que
marcou, por exemplo, o absurdo
amistoso de hoje, contra a inexpressiva Malásia, sob um clima
infernal, só para juntar um punhado de dólares e atender aos
interesses eleitoreiros de Blatter;
2) a teimosia de Scolari em jogar com três zagueiros e dois volantes, impedindo que a bola seja
melhor trabalhada no meio-de-campo para a criação de jogadas
ofensivas;
3) a indefinição até hoje, também por culpa de Scolari, do time
titular, o que dificulta o entrosamento da equipe;
4) a tradicional arrogância de
alguns de nossos astros (como Roberto Carlos), que, mesmo depois
de perder de alguns dos piores times do mundo, ainda acreditam
que basta ao Brasil "jogar 40%"
para passar da primeira fase;
5) o precário estado atlético de
vários jogadores, como Rivaldo,
Ronaldo e Luizão.
Um pouco de tudo isso foi o que
vimos no amistoso anterior do
Brasil, contra a seleção da Catalunha: uma equipe incapaz de
manter o controle da posse de bola e do ritmo de jogo, desprovida
de jogadas ofensivas e de segurança na defesa, insistindo nos
lances individuais ou na inócua
"ligação direta" com o ataque,
tendo como resultado geral uma
escassez de chances de gol e um
excesso de impedimentos.
No curto tempo de que dispomos, vai ser difícil consertar tudo
isso e entrar na Copa com uma seleção poderosa. O mais provável é
que avancemos aos trancos e barrancos até as quartas-de-final,
sentindo mais alívio que entusiasmo pelas vitórias e empates.
Só uma coisa pode reduzir a pó
o que escrevi acima: o talento de
alguns de nossos atletas (os Ronaldos, Rivaldo, Denílson), conjugado à fraqueza dos primeiros
adversários.
Mas até quando os donos do poder no nosso futebol vão parasitar
a qualidade ímpar de nossos craques (mesmo num momento de
baixa, como este) sem oferecer em
troca praticamente nada que organize esse talento e canalize-o
para a competição e a eficiência?
Que o leitor desculpe o tom ranzinza desta coluna, mas ele é fruto da desconcertante experiência
de ler as notícias diárias sobre as
mazelas da delegação brasileira e
contrastá-las com o otimismo
compulsório da Rede Globo, onde
tudo corre às mil maravilhas.
Trata-se, neste último caso, de
um esforço titânico para animar
os telespectadores a passar as madrugadas em claro vendo os jogos.
Quem quiser vestir o pijama verde-amarelo e soltar rojões antes
da hora pode ficar à vontade.
Meu entusiasmo vai depender do
futebol mostrado em campo.
O São Paulo e o Ituano merecem
cumprimentos por ter chegado à
final do chamado "Supercampeonato" Paulista.
O tricolor suportou os graves
desfalques (Rogério, França, Kaká, Belletti) e bateu o desconjuntado Palmeiras, mantendo a
chance de não deixar o semestre
passar em branco.
O Ituano surpreendeu o Corinthians com um futebol eficiente
de marcação e toque de bola e deve enfrentar o São Paulo de igual
para igual.
Torcida grata
Um sinal evidente de que o
Corinthians está de bem com
a torcida foi a reação desta ao
final do jogo de quarta contra
o Ituano. Apesar de ter perdido a vaga na final, o alvinegro
foi aplaudido pela Fiel. Além
dos títulos já conquistados, o
aplauso premiou o esforço e a
seriedade dos jogadores, que,
mesmo exaustos, buscaram a
vitória e a classificação.
Safra para 2006
Mesmo que o Brasil não consiga nada na Copa, as últimas
temporadas revelaram uma
porção de possíveis nomes
para o Mundial de 2006: os laterais Maicon (Cruzeiro), Gabriel (São Paulo) e Leonardo (Vasco), o meia Diego (Santos), o volante Fabrício (Corinthians), o atacante Ricardo Oliveira (Lusa). Eles podem se juntar aos "consagrados", mas ainda jovens Ronaldinho, Roger (Flu), Kaká,
Kleberson, Felipe, Kléber,
Hélton, Júlio César etc.
E-mail jgcouto@uol.com.br
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