São Paulo, sábado, 25 de maio de 2002

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FUTEBOL

Linhas tortas

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

Para conquistar a Copa que se avizinha, o futebol brasileiro vai ter de escrever certo por linhas muito tortas.
Além dos adversários propriamente ditos, a seleção terá de superar inúmeros obstáculos "internos", a saber:
1) a irresponsabilidade caça-níqueis e politiqueira da CBF, que marcou, por exemplo, o absurdo amistoso de hoje, contra a inexpressiva Malásia, sob um clima infernal, só para juntar um punhado de dólares e atender aos interesses eleitoreiros de Blatter;
2) a teimosia de Scolari em jogar com três zagueiros e dois volantes, impedindo que a bola seja melhor trabalhada no meio-de-campo para a criação de jogadas ofensivas;
3) a indefinição até hoje, também por culpa de Scolari, do time titular, o que dificulta o entrosamento da equipe;
4) a tradicional arrogância de alguns de nossos astros (como Roberto Carlos), que, mesmo depois de perder de alguns dos piores times do mundo, ainda acreditam que basta ao Brasil "jogar 40%" para passar da primeira fase;
5) o precário estado atlético de vários jogadores, como Rivaldo, Ronaldo e Luizão.
Um pouco de tudo isso foi o que vimos no amistoso anterior do Brasil, contra a seleção da Catalunha: uma equipe incapaz de manter o controle da posse de bola e do ritmo de jogo, desprovida de jogadas ofensivas e de segurança na defesa, insistindo nos lances individuais ou na inócua "ligação direta" com o ataque, tendo como resultado geral uma escassez de chances de gol e um excesso de impedimentos.
No curto tempo de que dispomos, vai ser difícil consertar tudo isso e entrar na Copa com uma seleção poderosa. O mais provável é que avancemos aos trancos e barrancos até as quartas-de-final, sentindo mais alívio que entusiasmo pelas vitórias e empates.
Só uma coisa pode reduzir a pó o que escrevi acima: o talento de alguns de nossos atletas (os Ronaldos, Rivaldo, Denílson), conjugado à fraqueza dos primeiros adversários.
Mas até quando os donos do poder no nosso futebol vão parasitar a qualidade ímpar de nossos craques (mesmo num momento de baixa, como este) sem oferecer em troca praticamente nada que organize esse talento e canalize-o para a competição e a eficiência?
Que o leitor desculpe o tom ranzinza desta coluna, mas ele é fruto da desconcertante experiência de ler as notícias diárias sobre as mazelas da delegação brasileira e contrastá-las com o otimismo compulsório da Rede Globo, onde tudo corre às mil maravilhas.
Trata-se, neste último caso, de um esforço titânico para animar os telespectadores a passar as madrugadas em claro vendo os jogos. Quem quiser vestir o pijama verde-amarelo e soltar rojões antes da hora pode ficar à vontade. Meu entusiasmo vai depender do futebol mostrado em campo.

O São Paulo e o Ituano merecem cumprimentos por ter chegado à final do chamado "Supercampeonato" Paulista.
O tricolor suportou os graves desfalques (Rogério, França, Kaká, Belletti) e bateu o desconjuntado Palmeiras, mantendo a chance de não deixar o semestre passar em branco.
O Ituano surpreendeu o Corinthians com um futebol eficiente de marcação e toque de bola e deve enfrentar o São Paulo de igual para igual.

Torcida grata
Um sinal evidente de que o Corinthians está de bem com a torcida foi a reação desta ao final do jogo de quarta contra o Ituano. Apesar de ter perdido a vaga na final, o alvinegro foi aplaudido pela Fiel. Além dos títulos já conquistados, o aplauso premiou o esforço e a seriedade dos jogadores, que, mesmo exaustos, buscaram a vitória e a classificação.

Safra para 2006
Mesmo que o Brasil não consiga nada na Copa, as últimas temporadas revelaram uma porção de possíveis nomes para o Mundial de 2006: os laterais Maicon (Cruzeiro), Gabriel (São Paulo) e Leonardo (Vasco), o meia Diego (Santos), o volante Fabrício (Corinthians), o atacante Ricardo Oliveira (Lusa). Eles podem se juntar aos "consagrados", mas ainda jovens Ronaldinho, Roger (Flu), Kaká, Kleberson, Felipe, Kléber, Hélton, Júlio César etc.

E-mail jgcouto@uol.com.br



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