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São Paulo, domingo, 25 de maio de 2003

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FUTEBOL

Momento histórico

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Alguns dirigentes tentaram paralisar o campeonato, o que seria uma desobediência à lei. Imaginaram que a pressão forçaria o governo a adotar uma medida provisória e tiveram de recuar, devido à posição firme do ministro do Esporte, Agnelo Queiroz, e da reação dos torcedores.
Os dirigentes são os responsáveis pela segurança nos estádios, como são os promotores de todos os espetáculos. Isso não dá para negociar. O Código de Defesa do Consumidor é uma das maiores conquistas da sociedade brasileira. No início, em 1991, parecia também utópico, como falam alguns dirigentes sobre o Estatuto do Torcedor.
Garantir os direitos e cobrar os deveres dos torcedores é básico, essencial, para que existam estádios seguros e decentes. Dirigentes que não estiverem em condições de assumir responsabilidades não podem ocupar cargos. Viver é também assumir pequenas e grandes responsabilidades. "Viver é perigoso." (João Guimarães Rosa)
Todos os artigos foram mantidos na íntegra. Alguns só vão valer daqui a seis meses. Outros, já estão valendo, como fixação de tabelas e borderôs na entrada dos estádios, sorteio público dos árbitros, monitores para orientar a torcida, um médico, dois enfermeiros e uma ambulância para cada 10 mil torcedores, comprovante de compra de ingresso, estacionamento (mesmo pago), boas condições para idoso, criança e deficiente físico e banheiros limpos e em número suficiente.
O torcedor precisa reclamar os seus direitos e cumprir as obrigações. Por outro lado, é compreensível que muitas coisas levarão tempo para funcionar bem. Para isso, são necessárias campanhas de esclarecimento, como na época da implantação do Código do Consumidor.
Por que, só depois de mais de um ano de discussões, os clubes tentaram radicalizar? Foi uma decisão planejada ou súbita, já que muitos dirigentes e clubes não foram convidados ou não sabiam do motivo da reunião?
Penso que alguns dirigentes prepotentes tinham certeza de que o Estatuto do Torcedor e o projeto de moralização do esporte não seriam aprovados no Congresso nem sancionados sem vetos pelo presidente. Depois, acharam que nada era para valer e que tudo seria resolvido na votação do Estatuto do Desporto, que vai incorporar essas leis.
De repente, levaram um susto e perceberam que alguns artigos já estavam valendo. Entraram em pânico. Daí, a decisão precipitada de afrontar a lei e pressionar o governo. Agora, acusam-se sobre quem foi o mentor da desastrada atitude.
Muitos dirigentes, para não serem fiscalizados e viverem à margem das leis, sempre disseram que o futebol é assunto privado. Não querem dar satisfações a ninguém, a não ser aos seus amigos conselheiros de clubes e federações.
Isso terminou. Para sempre. O futebol é um esporte de interesse público e comercial. Será fiscalizado como qualquer empresa. O dirigente passa a ser responsável pelos seus atos.
Porém o confronto não terminou. Vão tentar mudar muitos artigos na votação do Estatuto do Desporto. Não conseguirão. Poderão aperfeiçoá-los. A sociedade está atenta. Os torcedores precisam cobrar dos dirigentes de seus clubes.
Metade dos clubes se posicionou contra a paralisação do campeonato. Isso é muito importante. Os dirigentes sensatos já perceberam que o país está mudando. Os cartolas que não se adaptarem ao novo cenário, terão de deixar os seus cargos.
Alguns dirigentes contrários à paralisação foram contundentes. Paulo Carneiro, presidente da empresa que administra o Vitória, deu uma aula de cidadania e de sensatez ao presidente do Cruzeiro, Alvimar Perrella, num debate na ESPN Brasil.
O presidente do Conselho Deliberativo do Atlético-MG, Alexandre Kalil, teve uma atitude digna, ao deixar o futebol do clube, por discordar do apoio do presidente à paralisação.
Corinthians, São Caetano, São Paulo, Paraná, Vitória, Figueirense, Bahia, Botafogo, Guarani e Coritiba não concordaram com a paralisação, o que não significa que são a favor de todos os artigos. Alguns podem ser discutidos, precisam ser aperfeiçoados, mas não se pode descumprir a lei.
Este é um momento histórico do futebol brasileiro. As leis precisam pegar, no esporte e em toda a sociedade.

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