São Paulo, sexta-feira, 25 de maio de 2007

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FÁBIO SEIXAS

Três pedras na sapatilha

Na busca para se mostrar um piloto completo, Massa precisa vencer circuito de rua, piso úmido e pelotão de trás

MASSA CHEGOU aonde chegou porque foi adotado por Todt e principalmente porque, quando instado, correspondeu. Tanto que, embora não lidere o campeonato, é o piloto com melhores números desde o fim do ano passado. Nos últimos seis GPs (Japão e Brasil-06 e os primeiros de 2007), somou cinco poles, quatro pódios, três vitórias, duas melhores voltas.
Em Barcelona, entre mortos e feridos, ganhou entusiastas por aqui, creio. Afinal, mostrou a agressividade que, inutilmente, tanto se cobrou de Barrichello. A analogia entre o embate com Alonso e o pseudo-duelo do compatriota com Schumacher em Indianápolis-05 foi automática. Barrichello, mesmo já abalado na Ferrari, quase pôs o carro na grama para o alemão passar. Massa endureceu. E quem foi parar na brita foi o outro. Deu mostras de que achou o ponto na sintonia fina entre "ser agressivo" e "não fazer lambança".
Mas faltam outros ajustes. E Mônaco pode responder a três perguntas-chave. Porque Massa, salvo estratégia kamikaze da Ferrari com a gasolina, deve no máximo largar na segunda ou terceira fila. Porque deve chover. E porque, no fim das contas, trata-se de um circuito de rua. Três pedras na sapatilha do piloto. À primeira. Nas quatro vezes em que venceu, o brasileiro largou na pole. Alguém pode argumentar que essa é a regra. Posso responder que não é bem assim. Em 2006, 8 das 18 etapas, ou 44%, foram vencidas por pilotos que saíram de trás.
Massa ainda deve uma virada, uma vitória na base de recuperação. Ou ao menos um desempenho que chame a atenção nessa condição. Na última vez em que viveu adversidade na pista, o GP da Malásia, fez feio. A segunda pedra é molhada, escorregadia. E ele parece ter dificuldades para se equilibrar sobre ela. "Massa não sabe correr na chuva" é um lugar-comum nas análises por aí. Ele contesta e tem a seu favor a fragilidade da amostragem: duas corridas, Inglaterra-02, Hungria-07.
Ganha, portanto, o benefício da dúvida. As chances de chuva no domingo monegasco são de 60%. Chances de Massa enterrar um mito ou torná-lo ainda mais realidade. A terceira e última pedra, ou cascalho, é daquele que sai voando com a passagem do carro à frente e arranha o capacete. É cascalho de rua. Esqueça Melbourne e Montréal, parques com amplas áreas de escape. Na F-1, circuito de rua puro, há um bom tempo, só o de Montecarlo.
Massa correu lá quatro vezes. Na estréia, em 2002, bateu em Bernoldi, levou um "stop & go", foi reto contra a barreira de pneus, abandonou. Em 2004, foi bem: quinto. Em 2005 e 2006, não marcou pontos. Outro dogma que ele pode superar no final de semana. Ou reforçar. Massa ainda não é piloto completo, poucos foram, mas pode dar passos importantes em Mônaco. Ou não. Para suas pretensões no Mundial, fugir do muro, faça chuva, faça sol, já estará de bom tamanho.

fseixas@folhasp.com.br


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