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FÁBIO SEIXAS
Três pedras na sapatilha
Na busca para se mostrar um piloto completo, Massa precisa vencer circuito de rua, piso úmido e pelotão de trás
MASSA CHEGOU aonde chegou porque foi adotado por
Todt e principalmente
porque, quando instado, correspondeu. Tanto que, embora não lidere o
campeonato, é o piloto com melhores números desde o fim do ano passado. Nos últimos seis GPs (Japão e
Brasil-06 e os primeiros de 2007),
somou cinco poles, quatro pódios,
três vitórias, duas melhores voltas.
Em Barcelona, entre mortos e feridos, ganhou entusiastas por aqui,
creio. Afinal, mostrou a agressividade que, inutilmente, tanto se cobrou
de Barrichello. A analogia entre o
embate com Alonso e o pseudo-duelo do compatriota com Schumacher
em Indianápolis-05 foi automática.
Barrichello, mesmo já abalado na
Ferrari, quase pôs o carro na grama
para o alemão passar. Massa endureceu. E quem foi parar na brita foi o
outro. Deu mostras de que achou o
ponto na sintonia fina entre "ser
agressivo" e "não fazer lambança".
Mas faltam outros ajustes. E Mônaco pode responder a três perguntas-chave. Porque Massa, salvo estratégia kamikaze da Ferrari com a
gasolina, deve no máximo largar na
segunda ou terceira fila. Porque deve chover. E porque, no fim das contas, trata-se de um circuito de rua.
Três pedras na sapatilha do piloto.
À primeira. Nas quatro vezes em
que venceu, o brasileiro largou na
pole. Alguém pode argumentar que
essa é a regra. Posso responder que
não é bem assim. Em 2006, 8 das 18
etapas, ou 44%, foram vencidas por
pilotos que saíram de trás.
Massa ainda deve uma virada,
uma vitória na base de recuperação.
Ou ao menos um desempenho que
chame a atenção nessa condição. Na
última vez em que viveu adversidade na pista, o GP da Malásia, fez feio.
A segunda pedra é molhada, escorregadia. E ele parece ter dificuldades para se equilibrar sobre ela.
"Massa não sabe correr na chuva"
é um lugar-comum nas análises por
aí. Ele contesta e tem a seu favor a
fragilidade da amostragem: duas
corridas, Inglaterra-02, Hungria-07.
Ganha, portanto, o benefício da
dúvida. As chances de chuva no domingo monegasco são de 60%.
Chances de Massa enterrar um mito
ou torná-lo ainda mais realidade.
A terceira e última pedra, ou cascalho, é daquele que sai voando com
a passagem do carro à frente e arranha o capacete. É cascalho de rua.
Esqueça Melbourne e Montréal,
parques com amplas áreas de escape. Na F-1, circuito de rua puro, há
um bom tempo, só o de Montecarlo.
Massa correu lá quatro vezes. Na
estréia, em 2002, bateu em Bernoldi, levou um "stop & go", foi reto
contra a barreira de pneus, abandonou. Em 2004, foi bem: quinto. Em
2005 e 2006, não marcou pontos.
Outro dogma que ele pode superar no final de semana. Ou reforçar.
Massa ainda não é piloto completo, poucos foram, mas pode dar passos importantes em Mônaco. Ou
não. Para suas pretensões no Mundial, fugir do muro, faça chuva, faça
sol, já estará de bom tamanho.
fseixas@folhasp.com.br
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