|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Bola de ouro
Em discussão sobre concorrência, governo adota receita publicitária como critério para aferir participação no mercado e revela grandiosidade do futebol na TV
Para grandes agências de publicidade, transmissões de jogos pela televisão são
a melhor forma de atingir público masculino no Brasil
RODRIGO MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Não há programa na televisão brasileira que se iguale ao
futebol em termos de retorno
publicitário às empresas anunciantes. A avaliação é de grandes agências publicitárias e integra parecer da SDE (Secretaria de Direito Econômico).
Tomando por base opiniões
de estudiosos de mídia, o documento é taxativo ao assumir receita publicitária como "critério melhor para aferir participação no mercado" do que os
usuais níveis de audiência.
A SDE, órgão do governo responsável por investigações de
prática contra a livre concorrência, faz duas reflexões sobre
o novo contrato de TV do Brasileiro para 2009, firmado entre
Globo e Clube dos 13.
A primeira, já amplamente
divulgada: condena termos do
acordo por ferirem a concorrência -podem ser revistos.
A segunda: valoriza o futebol
como produto, na contramão
do que a Globo já apregoa.
Corinthians, Flamengo e São
Paulo pedem mais dinheiro pelo Nacional, e não assinaram o
acordo. A Globo rebate dizendo
que a audiência vem caindo.
O pacote do Brasileiro-2009
deve gerar entre R$ 420 milhões e R$ 460 milhões.
O trio quer mais. E ganha,
com as agências ouvidas pela
SDE, argumentos robustos.
Questionadas sobre o perfil
do futebol, as agências apontaram as transmissões de jogos
como a melhor forma de atingir
o público masculino. E números de pesquisas mostram que é
o único "programa" de grande
audiência que tem homens como seu público majoritário.
Segundo a W/Brasil, a rentabilidade de anúncios para homens em outros programas é
inferior. Além disso, o futebol
representa "a possibilidade de
um público quase homogêneo".
Nos jogos de domingo, há
uma audiência de 58% de homens. Nas quartas, de 53%.
Quadro produzido pela agência McCannErickson mostra
que o futebol é o segundo "programa" com menor custo por
domicílio coberto (Gross Rating Points), entre nove blocos
de programas selecionados.
Mas o primeiro -pacote que
inclui F-1, Globo Repórter e
programas da Record- tem cobertura bem menor e ainda não
está associado à área editorial.
No futebol, destacam as
agências, os anunciantes não
obtêm espaço só nos jogos. As
empresas associadas ao futebol
aparecem em boletins jornalísticos, esportivos e em chamadas rotativas na programação.
"O projeto futebol global é o
maior plano de exposição da
mídia brasileira do ponto de
vista quantitativo: nenhum entrega tal carga de inserções ou
de GRP [custo por domicílio
coberto] (...) Nenhum outro
projeto entrega tamanha visibilidade, com um padrão de
rentabilidade superior", escreveu a agência AlmapBBDO.
As agências ressaltam que, ligadas ao futebol, as empresas
têm um ganho de imagem por
estarem ligadas à "paixão nacional". O mesmo se aplicaria à
Globo, de acordo com a SDE.
A receita da Globo com o futebol não é divulgada. Mas o documento da SDE explicou que a
emissora, em determinadas situações, cobra mais pelas propagandas do futebol do que em
programas de maior audiência.
Nos números mostrados, de
2003 e 2004, o parecer revela
que a Globo aumentou em 15%
sua cota publicitária para o futebol. Em 2004, a cota era de
R$ 67,5 milhões por empresa.
Texto Anterior: Painel FC Próximo Texto: Público: Para Globo, futebol é apenas mais um Índice
|