São Paulo, domingo, 25 de junho de 2006

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Rotulada, Gana ataca seleção

Comentários de jogadores brasileiros sobre irresponsabilidade tática irritam jogadores e jornalistas

Capitão do time, Appiah afirma que não viu nada de extraordinário na equipe de Parreira até agora e manda aguardar pela terça-feira


FÁBIO VICTOR
ENVIADO ESPECIAL A WÜRZBURG

A três dias do mata-mata entre os times pelas oitavas-de-final da Copa, a seleção de Gana tomou os comentários de jogadores brasileiros sobre seu time como ofensa e respondeu num tom ainda mais provocativo. Aliadas ao ufanismo desmedido que impera do lado ganense, as declarações abriram uma guerra de nervos para o jogo.
Ao analisar os adversários de terça-feira em Dortmund, alguns atletas da seleção, como Kaká e Juninho, mencionaram a "irresponsabilidade" tática de Gana, dizendo que o rival, ao contra-atacar, costuma deixar brechas em sua defesa.
Questionados pela Folha sobre as citações (e se Gana seria mais um time africano sem disciplina tática), os ganenses reagiram duramente, numa corrente formada entre o técnico sérvio Ratomir Dujkovic, os jogadores e jornalistas do país.
Primeiro, Dujkovic, que pegou leve: "Todo mundo tem o direito de falar o que quiser. Mas na hora do jogo vamos ver se é assim". O meia e capitão Stephen Appiah, ainda contido, completou: "Deixe que falem. Vamos esperar pela terça".
Mas, em seguida, um repórter africano voltou à questão, observando que a pergunta da Folha embutia um estereótipo negativo internacional sobre o futebol do continente.
Foi quando Appiah se soltou. "Não adianta falar, tem que mostrar em campo. E não vi dos brasileiros nada de extraordinário até agora." O auditório, tomado por jornalistas africanos e membros da delegação de Gana, explodiu em aplausos.
O atacante Gyan Asamoah foi outro a se irritar. "Os brasileiros são poderosos, mas, no campo, não vamos respeitá-los. Futebol não é feito de nomes nem de palavras. E não vejo nada de errado com o nosso jogo."
O ufanismo é um capítulo à parte. A vaga nas oitavas criou, entre os ganenses, um mundo em que só a vitória é possível. O técnico, que se refere ao time só pelo apelido "Estrelas Negras" e repete que eles farão o Brasil sofrer, disse que Gana vencerá se jogar 70% do que jogou nos 2 a 0 sobre a República Tcheca.
"O Brasil vai querer manter o título, mas, antes disso, vai ter que enfrentar o "Brasil da África", as Estrelas Negras."
A impressão de que o discurso de Dujkovic é cheio de palavras ao vento se confirma com fatos. Segundo a Fifa, Gana é o time que mais faltas cometeu na Copa, 76. Indagado sobre o recorde, o sérvio perguntou, provocador: "E você sabe quantas faltas os EUA fizeram em Gana?". Ainda pela Fifa, Gana fez o dobro de faltas -32 a 16.
Até a torcida entrou no clima de guerra. Apresentando-se como Mr. Boss, um ganês que vive em Londres e foi ver a Copa tentou resumir o que se passa. "Sabe aquele slogan, "O impossível não é nada'? É nosso lema. Depois desse jogo, o mundo vai ter uma história para contar."

O perfil do rival do Brasil nas oitavas-de-final >> www.folha.com.br/061752

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