São Paulo, sexta-feira, 25 de junho de 2010

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XICO SÁ

Pelo direito de ser contra


Pelo direito de não torcer pelo Brasil, ora pois. Contra a ideia de uma pátria em chuteiras


AMIGO TORCEDOR, amigo secador, a essa altura da saga copeira, o ufanismo já suplanta a descrença e a pachequização é inevitável. Não tem jeito, quase me rendo.
O corvo Edgar, porém, não desiste nunca, embora o seu agouro tenha funcionado, até ontem, só para eternos favoritos como Itália e França, campeã e vice da última Copa. É, nem sempre a doce vida acaba em pizza e escargot. Que maravilha!
O que nos interessa, todavia, é a cruzada explícita anti-Dunga, sem a enganação dos sonsos que torcem contra, disfarçados de imparciais na mídia. Pelo direito de não torcer pelo Brasil, ora pois. Pelo direito sagrado e anárquico de anular o palpite e o voto em todos os bolões e eleições.
Sim, contra a ideia de uma pátria em chuteiras, tio Nelson, afinal de contas, nos Tristes Trópicos, nem todo mundo calça 40.
"Enquanto houver o dunguismo, há desesperança", grasna, injusto e trocadilhesco, o meu estimado bicho, feliz com a efeméride dos 20 anos da derrota do Brasil para a Argentina, em junho de 1990, marco histórico da era Dunga. Seu companheiro de Copa, safári e boleros, Chico Bacon, admoesta, com a azeitona filosófica dançando no céu do palato: "O cara está no caminho certo. E, quer saber, azarildo, comigo não tem "perhaps", é pá e bola: já que não tem tu, vai tu mesmo, chega de pensamento negativo".
Dito isso, os cravos obsessivos foram consolar as dinamarquesas, as loiras injustamente eliminadas do torneio caça-níquel da Fifa. Devotos do cancioneiro brega, a trilha sonora dos vagabundos não poderia ser outra. "Encosta tua cabecinha no meu ombro e chora / e conta logo tuas mágoas todas para mim". De quinta.
É, quanto mais fracassam, no flerte e na alcova, mais pensam naquilo. Ao contrário do que imagina Alecko Eskandarian, ex-parceiro de time do herói americano Donovan, um gol ou um triunfo ludopédico jamais serão melhores do que sexo, como disse o gringo. Ficamos com o clássico grafite de banheiro: "Sexo e pizza são sempre muito bons, mesmo quando são muito ruins".
Líricos no último, Edgar e Bacon, sempre crentes no safári da vida e nos ditos populares de caças e caçadores, foram vistos ontem nos braços de duas princesas de ébano. Deu zebra também no amor.

xico.folha@uol.com.br


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