São Paulo, sábado, 25 de junho de 2011

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ENTREVISTA SEBASTIAN COE

Queremos usar Londres-2012 para inspirar os jovens

PRESIDENTE DO COMITÊ ORGANIZADOR DIZ QUE A OLIMPÍADA EXIBIRÁ A DIVERSIDADE DO REINO UNIDO E QUE TRABALHA POR LEGADO DURADOURO

Matt Dunham/Associated Press
Sebastian Coe posa para foto em galeria de arte de Londres

FÁBIO SEIXAS
DO RIO

Sebastian Coe, 54, é um dos maiores ídolos da história do esporte britânico. Dono de quatro medalhas olímpicas é até hoje o único homem a vencer os 1.500 m em dois Jogos consecutivos, Moscou-80 e Los Angeles-84.
Colocou essa condição de ídolo em xeque ao aceitar comandar a candidatura de Londres aos Jogos-2012 e, depois, o comitê organizador.
Hoje, a pouco mais de um ano para o início dos Jogos, começa a colher os louros. Os números são positivos.
Diferentemente das últimas edições, Londres deve entregar o Parque Olímpico a custo mais baixo do que o previsto. Além disso, 83% das obras já foram entregues.
Em entrevista por e-mail à Folha, no entanto, Coe diz que o legado que pretende para os Jogos passa longe das estruturas de concreto.
"Queremos inspirar os jovens a entrar no esporte. Esse é um legado duradouro."

 

Folha - Pequim-08 quis passar a imagem de que a China estava pronta para novo papel no mundo. Que mensagem Londres quer passar?
Sebastian Coe -
Queremos mostrar o que Londres e o resto do Reino Unido têm a oferecer. Londres provavelmente tem a maior diversidade do planeta, e os Jogos são chance para ilustrar essa energia, essa criatividade, esse frenesi. Temos sorte: muitos competirão diante de sua torcida, já que há grandes comunidades de centenas de países em Londres.

Você se sentirá pessoalmente frustrado se o nível de participação de britânicos no esporte não crescer após os Jogos?
Trabalhamos muito próximos do governo para garantir que o legado será duradouro. A visão que passamos para o COI é a de que queremos usar os Jogos para motivar e inspirar os jovens a entrar no esporte. Decidimos que só ergueríamos instalações permanentes que pudessem ser usadas pela população por muito tempo.

Como está a preparação?
Estamos satisfeitos com o andamento das obras. O velódromo, o Estádio Olímpico e a arena de handebol não só já foram entregues como já entraram na fase de receber uma "cara olímpica". Mas ainda há muito a fazer.

Como a Olimpíada mudou em relação à sua época de atleta?
Hoje há muito mais dinheiro disponível. Isso geralmente significa que os atletas podem se concentrar em alcançar o topo, sem outras grandes preocupações. O apoio que recebem hoje é inestimável, seja nos equipamentos, no acesso a locais de treinos ou nos recursos para viajar. Por outro lado, a pressão da mídia é maior.

Os Jogos de 2016 serão num país em desenvolvimento e sul-americano. Isso traz algum desafio específico?
É excelente chance para o Brasil e para o continente. Tenho certeza de que o Brasil fará um show fantástico e mostrará do que é capaz.

O que você pode dizer sobre a cooperação com a Rio-2016?
Depois dos Jogos, é praxe que os organizadores se reúnam com a equipe da Olimpíada seguinte. Aprendemos muito com Sydney, Atenas e Pequim e ficaremos felizes em repassar parte do nosso aprendizado. Aprendemos com os outros, mas cabe a cada cidade-sede estabelecer sua marca. Creio que o Rio vai buscar a sua.

Em vários aspectos, receber os Jogos significa para um país abrir mão de recursos e de pontos de sua soberania. Como lidaram com isso?
Criamos uma relação muito boa com o COI. Eles são especialistas em suas áreas e sabem o que funciona e o que não funciona. O "feedback" foi incomensurável.

Em entrevista ao "Guardian", em 2007, você reclamou que os britânicos têm "enorme propensão a duvidar de sua própria capacidade". O Brasil talvez sofra do mesmo problema, o "complexo de vira- -latas". Como superar isso?
Acho que conseguimos mostrar à população que os Jogos serão bem-sucedidos. As arenas estão sendo erguidas no prazo e dentro dos orçamentos. Isso conta muito.

Apesar dos esforços da organização, a Olimpíada pode ficar manchada por escândalo de doping. Isso preocupa?
É crucial que os atletas sejam modelos para a juventude e mostrem que é possível estar na elite sem drogas. Estamos trabalhando próximos do GSK [GlaxoSmithKline, laboratório que fará o antidoping junto da universidade King's College] para assegurar que essa seja a Olimpíada mais limpa da história.

Você acha que pode contribuir para a imagem de atletas que viram cartolas? Quais são suas ambições após 2012?
Ex-atletas podem trazer muita informação. Por terem experimentado grandes competições, podem dizer o que funciona e o que não tem saída. No momento, estou focado em Londres-2012 e não pensei no que vou fazer depois. Mas certamente começarei com boas férias.


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