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BASQUETE
A vitória do liquidificador
MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE
Palavras não fazem cestas.
O colapso da seleção sub-21,
no fim-de-semana, pelo menos teve o mérito de desmascarar o discurso neobobo de renovação que
a Confederação Brasileira empurrou à imprensa e ao torcedor
nos últimos dois ou três anos.
O cenário estava armado para
que a equipe nacional se classificasse ao Mundial da categoria.
Ribeirão Preto, no fanático nordeste paulista, assumiu a organização da Copa América. A TV
anunciou a transmissão das partidas. O nível técnico dos jogadores era alto. A equipe tinha disputado bons amistosos. Havia três
vagas para oito times.
Os marketeiros arrivistas do
basquete já lambiam os beiços.
Um show da molecada abafaria o
vexame da seleção principal masculina, fora de uma Olimpíada
pela primeira vez desde Montreal-76. E justificaria o projeto
Atenas-2004, um dos pilares da
manobra que antecipou as eleições em um ano e estendeu até
2005 o mandato de Gerasime Bozikis, o Grego, à frente da CBB.
Faltou só combinar com os adversários. Passada uma semana,
a tabela final mostrava o Brasil
com duas vitórias e três derrotas.
O time implodiu duas vezes
diante da República Dominicana, não resistiu aos EUA e nem
mesmo chegou a enfrentar a Argentina, que assegurou o título do
torneio.
Terminou a competição sem o
pódio, sem a vaga no Mundial e
sem a aclamação da torcida.
Não é o caso de analisar aqui a
atuação dos jogadores, muitos
deles talentosos e versáteis, como
Guilherme, Jefferson e Jorginho.
Nem de crucificar o técnico Enio
Vecchi, que, aliás, errou muito ao
longo do campeonato.
Importa, sim, constatar que o
vexame da Copa América fecha
um ciclo, de um ano, que viu o
Brasil dar adeus à hegemonia que
mantinha na América do Sul.
Do final de 1999 para cá, o país
foi superado pelos arqui-rivais argentinos nas decisões de competições continentais das categorias
cadete, juvenil e sub-21.
Em todas essas faixas etárias,
como alertou reportagem na Folha há sete dias, a seleção brasileira detinha os títulos da América
do Sul nas edições anteriores.
"A renovação leva tempo", "O
trabalho não aparece de repente",
"Precisamos manter a política"...
Já posso ouvir as declarações condescendentes dos trocentos treinadores que fazem o papel de escudo para a CBB -vários deles
em troca de um empreguinho.
Apegam-se eles às copas escolares, às excursões de seleção, ao rodízio globetrotter de times e estrelas. "Tiros" ingênuos, sem fôlego
para ultrapassar a fronteira do ludismo. E que nem de longe compensam o sucateamento, patrocinado pela própria cúpula da CBB,
dos grandes centros de formação
de atletas do país.
Pois, nesse mesmo período em
que o Brasil colecionava tropeços
nas categorias de base -e em que
a CBB soltava fogos de artifício
para o super-Vasco, para o time
itinerante da Hortência etc.-,
Osasco, Santo André e Franca repetiam o exemplo de Sorocaba e
Piracicaba e anunciavam o fim
ou o corte de investimentos.
Bozikis já deveria começar a
mexer os pauzinhos. É, Atenas-94
não vai dar, presidente. Pode preparar um novo golpe.
Retalho 1
Não é que, para evitar o canibalismo na mídia, os cartolas
do basquete resolveram misturar os Estaduais femininos
de São Paulo e do Rio? Não,
não haverá um torneio regional, tipo Rio-SP. A idéia é que
quatro equipes, as mais fortes
do país, participem das duas
competições -que seriam
consecutivas.
Retalho 2
Vasco, Paraná, Jundiaí e Santo André foram os "anfíbios"
eleitos pelas federações. Poderemos, portanto, ver o
Vasco ser campeão paulista e
o Santo André levar o título
carioca. Ou o Paraná papar
nos dois Estados...
Retalho 3
Essa dupla "frankenstein" de
Estaduais começaria em outubro, ocupando o calendário até fevereiro, quando aí
sim terá início o Nacional.
Com as mesmas equipes!
E-mail melk@uol.com.br
www.uol.com.br/folha/pensata
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