São Paulo, terça-feira, 25 de julho de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

BASQUETE
A vitória do liquidificador

MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE

Palavras não fazem cestas. O colapso da seleção sub-21, no fim-de-semana, pelo menos teve o mérito de desmascarar o discurso neobobo de renovação que a Confederação Brasileira empurrou à imprensa e ao torcedor nos últimos dois ou três anos.
O cenário estava armado para que a equipe nacional se classificasse ao Mundial da categoria.
Ribeirão Preto, no fanático nordeste paulista, assumiu a organização da Copa América. A TV anunciou a transmissão das partidas. O nível técnico dos jogadores era alto. A equipe tinha disputado bons amistosos. Havia três vagas para oito times.
Os marketeiros arrivistas do basquete já lambiam os beiços. Um show da molecada abafaria o vexame da seleção principal masculina, fora de uma Olimpíada pela primeira vez desde Montreal-76. E justificaria o projeto Atenas-2004, um dos pilares da manobra que antecipou as eleições em um ano e estendeu até 2005 o mandato de Gerasime Bozikis, o Grego, à frente da CBB.
Faltou só combinar com os adversários. Passada uma semana, a tabela final mostrava o Brasil com duas vitórias e três derrotas.
O time implodiu duas vezes diante da República Dominicana, não resistiu aos EUA e nem mesmo chegou a enfrentar a Argentina, que assegurou o título do torneio.
Terminou a competição sem o pódio, sem a vaga no Mundial e sem a aclamação da torcida.
Não é o caso de analisar aqui a atuação dos jogadores, muitos deles talentosos e versáteis, como Guilherme, Jefferson e Jorginho. Nem de crucificar o técnico Enio Vecchi, que, aliás, errou muito ao longo do campeonato.
Importa, sim, constatar que o vexame da Copa América fecha um ciclo, de um ano, que viu o Brasil dar adeus à hegemonia que mantinha na América do Sul.
Do final de 1999 para cá, o país foi superado pelos arqui-rivais argentinos nas decisões de competições continentais das categorias cadete, juvenil e sub-21.
Em todas essas faixas etárias, como alertou reportagem na Folha há sete dias, a seleção brasileira detinha os títulos da América do Sul nas edições anteriores.
"A renovação leva tempo", "O trabalho não aparece de repente", "Precisamos manter a política"... Já posso ouvir as declarações condescendentes dos trocentos treinadores que fazem o papel de escudo para a CBB -vários deles em troca de um empreguinho.
Apegam-se eles às copas escolares, às excursões de seleção, ao rodízio globetrotter de times e estrelas. "Tiros" ingênuos, sem fôlego para ultrapassar a fronteira do ludismo. E que nem de longe compensam o sucateamento, patrocinado pela própria cúpula da CBB, dos grandes centros de formação de atletas do país.
Pois, nesse mesmo período em que o Brasil colecionava tropeços nas categorias de base -e em que a CBB soltava fogos de artifício para o super-Vasco, para o time itinerante da Hortência etc.-, Osasco, Santo André e Franca repetiam o exemplo de Sorocaba e Piracicaba e anunciavam o fim ou o corte de investimentos.
Bozikis já deveria começar a mexer os pauzinhos. É, Atenas-94 não vai dar, presidente. Pode preparar um novo golpe.

Retalho 1
Não é que, para evitar o canibalismo na mídia, os cartolas do basquete resolveram misturar os Estaduais femininos de São Paulo e do Rio? Não, não haverá um torneio regional, tipo Rio-SP. A idéia é que quatro equipes, as mais fortes do país, participem das duas competições -que seriam consecutivas.

Retalho 2
Vasco, Paraná, Jundiaí e Santo André foram os "anfíbios" eleitos pelas federações. Poderemos, portanto, ver o Vasco ser campeão paulista e o Santo André levar o título carioca. Ou o Paraná papar nos dois Estados...

Retalho 3
Essa dupla "frankenstein" de Estaduais começaria em outubro, ocupando o calendário até fevereiro, quando aí sim terá início o Nacional. Com as mesmas equipes!

E-mail melk@uol.com.br
www.uol.com.br/folha/pensata


Texto Anterior: São Paulo contrata Marcelo Ramos
Próximo Texto: Futebol nacional: Dia-a-dia dos clubes
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.