São Paulo, terça-feira, 25 de julho de 2006

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MELCHIADES FILHO

Peças de ficção

O que os primeiros romance, peça de teatro e filmes a citar o basquete têm a ver com as seleções que o Brasil prepara

DEZ ANOS depois de ter sido criado por James Naismith, o basquete emplacou a primeira obra literária de ficção. O esporte tinha virado símbolo do movimento de revitalização do sistema público de educação dos EUA. Pais e mestres aplaudiam o jogo que não machucava os alunos, ao contrário do futebol americano, e que podia ser praticado no inverno, ao contrário do beisebol. Burt L. Standish encantou-se e, em 1901, escreveu "Dick Merriwell's Promises". Na capa, o protagonista, de calça comprida xadrez, arremessava a bola na direção de uma cesta (com a rede fechada).
Dentro, superava a traição de colegas, a preguiça do técnico incapaz, o desdém de diretores e outros obstáculos para cavar vaga no time e levá-lo a uma grande vitória.
Para surpresa do autor, o livro fez mais sucesso entre as meninas, o que provocou uma série de lançamentos direcionados a esse público. "Grace Harlow's Sophomore Year" (1911), "The Girls of Central High at Basketball" (1914) e "Jane Allen of the Sub Team" (1917) venderam feito água ao narrar a saga de garotas que se serviam do basquete para se tornar benquistas no colégio.
Esse mesmo "plot", o do basquete como trampolim para a popularidade teen, marcou a primeira aparição do esporte no teatro: o musical "Cupid at Vassar", encenado em 1907. Exatas duas décadas depois, o cinema reciclou a fórmula. Em "The Fair Co-Ed" (MGM), a adolescente entrava no time da escola só para sair do anonimato e arranjar um namorado. A pimenta de Hollywood? O alvo do desejo era um adulto, o treinador da equipe. No papel principal, Marion Davies, a vaporosa vedete que seduziu o ricaço William Hearst, o "Cidadão Kane".
No dia seguinte, entrou em cartaz "High School Hero", em que os amigos Pete e Bill duelavam, dentro e fora das quadras, pela atenção da doce Eleanor, a queridinha do colégio.
Em 1928, circulou o único filme mudo sobre basquete que se tem registro -"Rah! Rah! Rah!", sobre um time feminino de faculdade. Em 1931, a Fox lançou "Girls Demand Excitement". Em meio à rixa das equipes de basquete masculina e feminina da escola, o futuro caubói John Wayne cuidava de laçar saias. Se hoje relaciono antigas descobertas de almanaque, não é porque precisava esvaziar arquivos do laptop, mas porque de algum modo elas me remetem a nossas seleções.
A preparação das mulheres para o Mundial de São Paulo, com o time-base estanque, os repetidos amistosos contra o Canadá, os treinos obsoletos com fileira de bandeja e o desrespeito ao torcedor-consumidor (ingressos à venda sem definição de quando e a que horas o Brasil vai atuar), e a dos rapazes para o Mundial do Japão, iniciada após atropelos e patotadas na convocação e marcada por explosões emocionais juvenis, parecem saídas da ficção. Deviam mirar o futuro, mas têm ranço de filme velho, de livro datado.

REPRISE 1
Nenê está liberado pelos médicos do Denver desde abril, quando o time se preparava para os playoffs.

REPRISE 2
A CBB segue incapaz de vestir a seleção adulta. Em 2005, distribuiu uniformes apertados. No domingo, no primeiro teste antes do Mundial, o pivô Estevam usou um short diferente do dos demais.

REPRISE 3
O Adidas Camp é uma espécie de showroom de jovens talentos e indica o potencial técnico da mais recente fornada de um país. São Paulo realizou na semana passada a segunda edição sul-americana do evento. De novo nenhum brasileiro sobressaiu. Os vencedores dos concursos de enterradas e de três pontos? Nocedal e Barros, argentinos. O craque? Zamora, da Venezuela.


melk@uol.com.br

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