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MELCHIADES FILHO
Peças de ficção
O que os primeiros romance, peça de teatro e filmes a citar o basquete têm a ver com as seleções que o Brasil prepara
DEZ ANOS depois de ter sido
criado por James Naismith,
o basquete emplacou a primeira obra literária de ficção. O esporte tinha virado símbolo do movimento de revitalização do sistema
público de educação dos EUA. Pais e
mestres aplaudiam o jogo que não
machucava os alunos, ao contrário
do futebol americano, e que podia
ser praticado no inverno, ao contrário do beisebol. Burt L. Standish encantou-se e, em 1901, escreveu "Dick
Merriwell's Promises". Na capa, o
protagonista, de calça comprida xadrez, arremessava a bola na direção
de uma cesta (com a rede fechada).
Dentro, superava a traição de colegas, a preguiça do técnico incapaz, o
desdém de diretores e outros obstáculos para cavar vaga no time e levá-lo a uma grande vitória.
Para surpresa do autor, o livro fez
mais sucesso entre as meninas, o
que provocou uma série de lançamentos direcionados a esse público.
"Grace Harlow's Sophomore Year"
(1911), "The Girls of Central High at
Basketball" (1914) e "Jane Allen of
the Sub Team" (1917) venderam feito água ao narrar a saga de garotas
que se serviam do basquete para se
tornar benquistas no colégio.
Esse mesmo "plot", o do basquete
como trampolim para a popularidade teen, marcou a primeira aparição
do esporte no teatro: o musical "Cupid at Vassar", encenado em 1907.
Exatas duas décadas depois, o cinema reciclou a fórmula. Em "The
Fair Co-Ed" (MGM), a adolescente
entrava no time da escola só para
sair do anonimato e arranjar um namorado. A pimenta de Hollywood?
O alvo do desejo era um adulto, o
treinador da equipe. No papel principal, Marion Davies, a vaporosa vedete que seduziu o ricaço William
Hearst, o "Cidadão Kane".
No dia seguinte, entrou em cartaz
"High School Hero", em que os amigos Pete e Bill duelavam, dentro e fora das quadras, pela atenção da doce
Eleanor, a queridinha do colégio.
Em 1928, circulou o único filme
mudo sobre basquete que se tem registro -"Rah! Rah! Rah!", sobre um
time feminino de faculdade.
Em 1931, a Fox lançou "Girls Demand Excitement". Em meio à rixa
das equipes de basquete masculina e
feminina da escola, o futuro caubói
John Wayne cuidava de laçar saias.
Se hoje relaciono antigas descobertas de almanaque, não é porque
precisava esvaziar arquivos do laptop, mas porque de algum modo elas
me remetem a nossas seleções.
A preparação das mulheres para o
Mundial de São Paulo, com o time-base estanque, os repetidos amistosos contra o Canadá, os treinos obsoletos com fileira de bandeja e o
desrespeito ao torcedor-consumidor (ingressos à venda sem definição de quando e a que horas o Brasil
vai atuar), e a dos rapazes para o
Mundial do Japão, iniciada após
atropelos e patotadas na convocação
e marcada por explosões emocionais juvenis, parecem saídas da ficção. Deviam mirar o futuro, mas têm
ranço de filme velho, de livro datado.
REPRISE 1
Nenê está liberado pelos médicos
do Denver desde abril, quando o time se preparava para os playoffs.
REPRISE 2
A CBB segue incapaz de vestir a
seleção adulta. Em 2005, distribuiu
uniformes apertados. No domingo,
no primeiro teste antes do Mundial, o pivô Estevam usou um short
diferente do dos demais.
REPRISE 3
O Adidas Camp é uma espécie de
showroom de jovens talentos e indica o potencial técnico da mais recente fornada de um país. São Paulo realizou na semana passada a segunda edição sul-americana do
evento. De novo nenhum brasileiro
sobressaiu. Os vencedores dos concursos de enterradas e de três pontos? Nocedal e Barros, argentinos.
O craque? Zamora, da Venezuela.
melk@uol.com.br
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