São Paulo, sexta-feira, 25 de julho de 2008

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XICO SÁ

Vai, Dentinho


Por mais que o presidente apele, agora acho bom que os meninos possam fazer seu pé-de-meia bem longe


AMIGO TORCEDOR , amigo secador, como cantava aquela amável ceguinha, a Kátia, amiga do rei Roberto, "não está sendo fácil". Chegamos ao ponto de o presidente da República, corintiano roxo que é, interromper suas obrigações protocolares e bradar, qual um dom Pedro 1º, o do grito, um pungente, lancinante "Fica, Dentinho!".
O primeiro-ministro de Trinidad e Tobago, Patrick Manning, não entendeu patavinas, naquele momento histórico. A gente do Palácio do Itamaraty, que ama as artes, mas não as ludopédicas, também comeu bola, moscas, cobras, lagartos e toda a zoologia fantástica e imaginária. É, amiga Kátia, ouviram do Ipiranga, do Tatuapé e da zona leste toda, o "Fica, Dentinho!" ecoou. A que ponto chegamos, amigo, mal decoramos a escalação dos nossos times e lá se abrem portas e janelas do velho mundo e fazem arrastão ao melhor estilo da delinqüência dos grandes empresários do ramo. De fazer corar Naji Nahas, o que lava mais branco, adorável lavanderia dos Tristes Trópicos, independentemente do escândalo e dos partidos. Ouviram do Ipiranga e da Vila Tolstoi adentro, respingou em toda a avenida Sapopemba, uma eternidade para quem dorme nos busões da vida, e lá na Nhocuné, terra do soul, não se fala em outra coisa. Tudo bem, Dentinho é uma figura, menino simples, sorriso que justifica a alcunha, peça rara da mestiçagem-Kolinos, vai para o gol com mais fome que a soma de todas as laricas dos hippies de Porto Seguro. Tudo bem, amiga Kátia, mas, se o presidente quebra o protocolo para implorar por Dentinho, a coisa não está sendo fácil no futebol. Como diz o escriba Marçal Aquino, tão corintiano quanto o Lula, redação própria, "o Corinthians hoje é um Saci (Wellington) e dez Curupiras". Sem bancar o Câmara Cascudo, explico: o bravo curupira é uma criatura fantástica, gabiru de cabelos cor de fogo e pés trocados, donde os calcanhares são para a frente. Assim, com esse rastro maluco, confunde quem o persegue, como Lampião ao desenhar suas alpercatas com o rumo trocado, quando a polícia achava que estava indo, ele estava voltando. Já blasfemei contra a exportação. Mas agora acho bom que os Dentinhos tenham a chance e façam seu pé-de-meia bem longe, seja em euro, caviar russo ou petrodólares. Só um conselho, meninos, não esqueçam suas mães e os amigos do bairro. A primeira coisa que um homem decente faz, quando ganha um punhado, é dar boa casa à sua velha e uma grande festa para os camaradas.

Tesoura baiana
O amigo Franciel Cruz, locutor da Boa Terra, dá palhinha sobre o glorioso rubro-negro que faz bonito: "Em verdade vos digo: na história do pebolismo, futebol parecido com o do Vitória só a seleção da Holanda de 74 ou então outro timaço que assombrou o semi-árido: a Sociedade Esportiva de Irecê (SEI). Comandado por Cambuizinho, este escrete implementou um sistema tático inovador e nunca superado. Nada da xibugagem de 4-4-2; 6-5-9; 3-4-6. Nécaras. Na beira do gramado, Cambuizinho só gritava assim: "Umbora, sacanas. Temos que jogar abrindo e fechado igual tesoura e subindo e descendo como elevador Lacerda'". Um assombro.

xico.folha@uol.com.br



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