|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
VELA
Brasileiro só precisa de um 3º lugar para vencer na mistral, que considera desprezada
Bimba busca ouro para acabar com estigma de 'windsurfe olímpico'
GUILHERME ROSEGUINI
ENVIADO ESPECIAL A ATENAS
A associação é direta. Prancha
pressupõe lazer, brincadeira, vida
tranqüila na beira do mar.
É o que Ricardo Winicki Santos
sempre ouviu ao demonstrar o
desejo de disputar os Jogos em
uma classe pouco valorizada no
Brasil. Ninguém o levava a sério.
Mas hoje, em Atenas, ele tem a
chance de dar o troco. Bimba, como é conhecido, entra na derradeira regata da mistral (ou prancha à vela) como favorito ao ouro.
A terceira colocação já é suficiente para lhe colocar no lugar
mais alto do pódio, mesmo posto
que Robert Scheidt já ocupou
nesta semana, ao vencer na laser.
Seus rivais diretos na disputa
pela medalha são o israelense Gal
Fridman e o grego Nikolaos Kaklamanakis, respectivamente segundo e terceiro na classificação.
O anseio do brasileiro, contudo,
é trazer à tona a situação que enfrenta. "As pessoas acham que a
prancha à vela não é uma classe
séria. Eu fui um dos únicos a lutar
contra isso. A medalha pode acabar com essa imagem", conta.
A tal imagem a que Bimba se refere é a do esportista casual, que
usa a prancha só para se divertir.
"É muito mais fácil ficar parado
na beira-mar, azarar as meninas e
usar a prancha só em dias de sol.
Treinar para a Olimpíada exige
disciplina, vontade, coragem para
velejar até durante temporais."
Bimba conta que perde de 5.000
a 6.000 calorias por sessão de treinos, "quase como um triatleta".
Para manter os 71 kg distribuídos
em 1,85 m, faz ioga e freqüenta a
academia diariamente.
Não fosse ele, o país não teria
expressividade no cenário internacional. "Não há como negar
que existe preconceito. Eu já vi vários clubes pedirem para atletas
não velejarem com pranchas e seguirem para barcos", diz Eduardo
Abade, treinador de Bimba.
A situação dele é um bom indicativo do moral da classe. Abade
acompanha o desempenho do
pupilo por meio de e-mails. Motivo: não foi chamado para integrar
a equipe técnica que está em Atenas. "A confederação disse que eu
era o mais novo, que poderia ficar. Não imaginavam que o Bimba chegaria tão longe."
Mas chegou. E hoje pode coroar
uma trajetória que começou em
Santa Cruz da Cabrália, na Bahia.
Foi para lá que o atleta rumou
quando a família deixou o Rio
-ele tinha apenas um ano.
"A frase que eu mais ouvia na
infância era "me leva com você".
Ele dizia isso quando me via pegar
o prancha à vela e ir para o mar.
Eu era jovem, meio maluco, e levava", diz seu pai, André.
Agora, Bimba, 23, sabe que a vitória hoje pode dar novos rumos à
classe que escolheu. E a tática para
ter êxito está na ponta da língua.
"Vou ficar próximos dos caras.
Não posso perdê-los de vista."
Texto Anterior: Notas Próximo Texto: Saiba mais: Apelido foi inspirado em canção de ninar inventada pelo pai Índice
|