São Paulo, quarta-feira, 25 de agosto de 2004

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VELA

Brasileiro só precisa de um 3º lugar para vencer na mistral, que considera desprezada

Bimba busca ouro para acabar com estigma de 'windsurfe olímpico'

GUILHERME ROSEGUINI
ENVIADO ESPECIAL A ATENAS

A associação é direta. Prancha pressupõe lazer, brincadeira, vida tranqüila na beira do mar.
É o que Ricardo Winicki Santos sempre ouviu ao demonstrar o desejo de disputar os Jogos em uma classe pouco valorizada no Brasil. Ninguém o levava a sério.
Mas hoje, em Atenas, ele tem a chance de dar o troco. Bimba, como é conhecido, entra na derradeira regata da mistral (ou prancha à vela) como favorito ao ouro.
A terceira colocação já é suficiente para lhe colocar no lugar mais alto do pódio, mesmo posto que Robert Scheidt já ocupou nesta semana, ao vencer na laser.
Seus rivais diretos na disputa pela medalha são o israelense Gal Fridman e o grego Nikolaos Kaklamanakis, respectivamente segundo e terceiro na classificação.
O anseio do brasileiro, contudo, é trazer à tona a situação que enfrenta. "As pessoas acham que a prancha à vela não é uma classe séria. Eu fui um dos únicos a lutar contra isso. A medalha pode acabar com essa imagem", conta.
A tal imagem a que Bimba se refere é a do esportista casual, que usa a prancha só para se divertir. "É muito mais fácil ficar parado na beira-mar, azarar as meninas e usar a prancha só em dias de sol. Treinar para a Olimpíada exige disciplina, vontade, coragem para velejar até durante temporais."
Bimba conta que perde de 5.000 a 6.000 calorias por sessão de treinos, "quase como um triatleta". Para manter os 71 kg distribuídos em 1,85 m, faz ioga e freqüenta a academia diariamente.
Não fosse ele, o país não teria expressividade no cenário internacional. "Não há como negar que existe preconceito. Eu já vi vários clubes pedirem para atletas não velejarem com pranchas e seguirem para barcos", diz Eduardo Abade, treinador de Bimba.
A situação dele é um bom indicativo do moral da classe. Abade acompanha o desempenho do pupilo por meio de e-mails. Motivo: não foi chamado para integrar a equipe técnica que está em Atenas. "A confederação disse que eu era o mais novo, que poderia ficar. Não imaginavam que o Bimba chegaria tão longe."
Mas chegou. E hoje pode coroar uma trajetória que começou em Santa Cruz da Cabrália, na Bahia. Foi para lá que o atleta rumou quando a família deixou o Rio -ele tinha apenas um ano.
"A frase que eu mais ouvia na infância era "me leva com você". Ele dizia isso quando me via pegar o prancha à vela e ir para o mar. Eu era jovem, meio maluco, e levava", diz seu pai, André.
Agora, Bimba, 23, sabe que a vitória hoje pode dar novos rumos à classe que escolheu. E a tática para ter êxito está na ponta da língua. "Vou ficar próximos dos caras. Não posso perdê-los de vista."


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