São Paulo, quarta-feira, 25 de agosto de 2004

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POLÍTICA

Autoridades cassam a quarta medalha nos Jogos e reconhecem que nunca resultados, esportistas e até juízes foram tão contestados

Tapetão não dorme em Atenas

DO ENVIADO A ATENAS

Pela quinta vez em Atenas, o destino de uma medalha foi decidido no tapetão. Ontem, o húngaro Robert Fazekas, que se recusou a fazer exame antidoping, perdeu o ouro no arremesso de disco.
O atleta verá seu nome ficar ao lado do de Leonidas Sampanis (ex-bronze), levantador de peso, e ao da russa Irina Korzhanenko (ex-ouro no arremesso de peso), que tiveram suas medalhas retiradas também sob acusação de uso de substâncias ilegais. Fará companhia também ao conjunto alemão de equitação, que chegou a comemorar os ouros por equipe e individual na semana passada, mas perdeu as conquistas nos bastidores, ao ser desclassificado por descumprir uma norma técnica. Já o norte-americano Aaron Peirsol, que havia sido desqualificado por uma suposta virada ilegal, reconquistou nos bastidores o ouro nos 200 m costas.
O Comitê Olímpico Internacional e o CAS (sigla em inglês para Corte de Arbitragem no Esporte) reconhecem: os Jogos vivem uma rotina incessante de apelações, recursos e julgamentos envolvendo resultados e esportistas.
Os casos não são corriqueiros. O húngaro Fazekas conquistou o ouro arremessando o disco a 70,93 m, um novo recorde olímpico. Depois, porém, alegou não conseguir recolher, no tempo determinado, a urina do exame antidopagem. Aos olhos do COI, isso significa que ele se recusou a passar pela checagem obrigatória.
A medalha de ouro foi passada ao lituano Virgilijus Alekna, campeão em Sydney-2000. Assim, Atenas-2004 viu o primeiro bi olímpico no atletismo ser consagrado por meio da caneta.
Os comitês de apelação e de julgamento estão trabalhando 24 horas por dia na Grécia. E não só os atletas estão no olho do furacão: os juízes que cometem erros também estão sendo suspensos. Foi o que aconteceu com os três árbitros que erraram na final da ginástica artística masculina, dando a vitória para os EUA no lugar da Coréia do Sul.
A CAS é um órgão independente, que montou seu quartel-general num hotel em Atenas. A equipe de 12 arbitradores é comandada pelo suíço Mathhieu Reeb. A eles cabe receber os apelos, ouvir os lados envolvidos e chegar a uma conclusão em só um dia.
O órgão, que tem sede na Suíça, envia representantes aos Jogos desde Atlanta-96. Naquela edição, foram seis casos de arbitragem. Em Sydney, o total passou para 15. Agora, em Atenas, o número já foi igualado. "Sem a CAS, algumas situações não seriam resolvidas facilmente. A má notícia é que talvez estejamos encorajando os atletas a multiplicar suas queixas, o que pode prejudicar a competição", afirmou Reeb.
As decisões da corte são finais. Paralelamente, o comitê executivo do COI também trabalha para desqualificar atletas pegos em exames de doping. A política da entidade atualmente é a de "tolerância zero". O balanço do comitê a respeito dos casos de Atenas indica que são 15 os atletas banidos.
Os principais comitês olímpicos nacionais contam com advogados em meio à sua lista de técnicos. Reeb insinua que a onda de protestos está ligada ao maior profissionalismo do esporte. "Há mais interesses financeiros em jogo." (MARCELO DIEGO)


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