São Paulo, quinta-feira, 25 de agosto de 2005

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JUDÔ

Atleta não cumpre regra da CBJ, que, a duas semanas do início do torneio, pode não ter tempo para indicar outro

Excesso de peso tira Honorato de seleção que vai ao Mundial

LUÍS FERRARI
DA REPORTAGEM LOCAL

Único integrante da seleção brasileira dono de medalhas nas duas principais competições da modalidade, o peso médio (até 90 kg) Carlos Honorato, 30, não cumpriu a meta de peso estipulada pela Confederação Brasileira de Judô e foi cortado do grupo que embarcará para o Mundial do Egito.
Em 2002, para manter a seleção constantemente em forma e evitar desgaste dos atletas na tentativa de perder muito peso às vésperas das lutas, a entidade estipulou que os atletas não podem exceder 5% do peso limite de suas categorias. No dia do embarque para competições internacionais, o limite cai para 3%.
"Na pesagem oficial [anteontem], ele apresentava quase 96 kg", revelou ontem Ney Wilson, coordenador técnico da seleção brasileira, para quem o corte visa "preservar o atleta".
Ele explicou que a CBJ pretende mandar para o Egito o reserva de Honorato, Alexsander Guedes.
O problema é que, como a entidade demorou para constatar que o titular estava além do limite que considera tolerável (94,5 kg), o Brasil corre o risco de não ter representante na categoria, já que o evento começa em duas semanas.
"A inscrição de Guedes depende de procedimentos burocráticos, como vacinação e a concessão do visto, além da inscrição no Mundial", declarou Wilson. Para exemplificar a dificuldade com a papelada, ele disse que os passaportes da delegação estão há 15 dias no consulado do país africano e ainda não retornaram.
Wilson esclareceu que o peso de Honorato não foi o único fator que levou ao corte. "Não adianta treinar com 96 kg e competir com 90 kg. Muda tudo, o centro de gravidade, a forma de atacar e defender. Ele perde tecnicamente."
O técnico Luís Shinoahara concordou com a análise de Wilson.
Honorato disse achar justo seu desligamento. De forma franca, reconheceu estar acima do peso e ter tendência a engordar. "Se me deixarem, bato 100 kg, fácil."
Ele usou uma inflamação na garganta acompanhada de gripe para justificar o descuido com a balança. "Há duas semanas, sem o conhecimento da equipe da CBJ ou de meu clube, passei em consulta médica para tratar uma gripe. Foi recomendado um antibiótico, mas, temendo o antidoping, troquei por antiinflamatório aliado a superalimentação. Precisei ficar sem treinar, e o peso subiu."
Prata nos Jogos de Sydney-00 e bronze no Mundial-03, no Japão, Honorato contou que já se sentia sem condições físicas de lutar no Egito desde sua apresentação à seleção, na segunda. "Mas é difícil um atleta levantar a mão e falar que não quer ir a um Mundial."
O judoca, então, confessou que arquitetara um plano para tentar competir. "A idéia era tentar enganar no condicionamento físico e procurar treinar bem, na esperança de que a comissão técnica desse uma lambuja no peso."
"Mas estava mentindo. Para eles e para mim mesmo. Talvez até conseguisse competir, mas iria expor minha saúde. [O corte] foi a melhor decisão. É um período de aprendizado para mim."


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