São Paulo, segunda-feira, 25 de agosto de 2008

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JUCA KFOURI

O rabo de cavalo e o ninho de rato


Como cobrar dos atletas se a fauna da cartolagem nacional tem todos os bichos, menos os mais nobres?

GANHAR OU PERDER faz parte do esporte e dos chavões da vida. Quase redundância. Sem educação, saúde e política esportiva, ganhar é sinônimo de surpresa num país como o Brasil, fora as exceções de praxe. Perder é a regra e, a rigor, não tem maior importância se houvesse pelo menos um esforço no sentido de pensar o esporte como fator de saúde pública (cada dólar investido no esporte economiza três na saúde pública, segundo a Organização Mundial da Saúde) e de inclusão social. Mas qual! Verdade que nunca antes neste país se investiu tanto em esporte, mas só no de alto rendimento. Quase R$ 1,2 bilhão no último ciclo olímpico, graças a leis como a Lei Piva e a lei de incentivo ao esporte, além dos diversos convênios com empresas estatais do tipo Banco do Brasil, Correios, Caixa Econômica Federal etc. Dividido por 15 medalhas, o mesmo número ganho em Atlanta, 12 anos atrás, cada medalha custou cerca de R$ 79 milhões, para nem falar que as três de ouro foram menos que as cinco de Atenas. Porque isso, de fato, é o de menos. Ficar atrás no quadro de medalhas de países ainda piores como Jamaica, Quênia ou Etiópia é tão circunstancial como ficar adiante da Nova Zelândia, da Suécia ou do Chile. Porque o Brasil não é pior que o trio que o superou nem muito menos melhor do que o que ficou atrás, simplesmente porque os primeiros também têm seus fenômenos e os últimos têm outras prioridades. Terrível mesmo, além de ver os sucessivos governos brasileiros cúmplices dos cartolas, é pegar um como o sr. Carlos Nuzman em meio às mentiras patéticas que tentou nos enfiar goela abaixo em seu balanço pós-Pequim, quando quis provar que o desempenho brasileiro cresceu. Só se for como o crescimento de rabo de cavalo. Tudo, é claro, para pedir ainda mais recursos e para incrementar a campanha pelos Jogos Olímpicos no Brasil, em 2016, com a anuência, também, do domado Rei Pelé. Certo está o jornalista Vinícius Nicoletti, da ESPN Brasil, que inspirado no Ninho de Pássaro, de Pequim, propôs um Ninho de Rato para o Rio de Janeiro, para que nossos cartolas não se sintam deslocados, peixes fora d'água. Porque chega a ser acintoso, um deboche mesmo, que Nuzman, desde 1995 na presidência do Comitê Olímpico Brasileiro, nos impinja discurso tão desqualificado, incapaz de buscar soluções, porque as soluções que busca se limitam às que atendam ao seu bem-estar, mordomias e privilégios. Papagaio de pirata em cada medalha conquistada, Nuzman foi sumindo dia após dia em que os resultados por sorte ou por azar não vinham, porque o acaso não é aliado dos incompetentes, para dizer o mínimo. Como o digníssimo ministro do Esporte, Orlando Silva Jr., que sumiu, qual um avestruz ou como a vara de Murer, embora tenha um discurso quase impecável, a léguas de distância da prática, mais para Jadel do que para Maurren. E não é que depois de ter tentado vetar a ida da psicóloga do vôlei feminino, Nuzman quer agora que cada delegação leve uma? Mas nem Freud explica este país da rapaziada bronzeada.

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