São Paulo, domingo, 25 de setembro de 2011

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respire fundo

Pela primeira vez desde 1975 , Pan acontece a mais de 1.500 m de altitude, preocupa atletas de provas longas e liga alerta na aclimatação no México

MARCEL MERGUIZO
MARIANA LAJOLO

DE SÃO PAULO

Guadalajara vai receber os Jogos Pan-Americanos deste ano a 1.570 m. Desde a Cidade do México, a 2.235m, em 1975, os atletas do continente não iam tão alto em busca de medalhas e recordes.
Para quem compete por centímetros ou milésimos de segundo, esses metros podem ser a diferença entre sucesso e fracasso. Até na água.
"Nadei uma vez na altitude e fiz uns tempos bem ruinzinhos. Nadei primeiro os 50 m e não foi tão mal.
Mas no dia seguinte, nos 100 m, parecia que eu não ia chegar", disse o nadador Cesar Cielo.
Apesar de especialistas dizerem que não há grandes danos à performance a 1.500 m de altitude, atletas costumam reclamar de cansaço e falta de ar, principalmente em provas de longas distâncias.
"Corri duas meia-maratonas [21 km] na Colômbia. Em Medellín [1.520 m], nunca sofri tanto para ser o primeiro. Em Bogotá [2.640 m], nunca sofri tanto para chegar", disse Marílson do Santos, que correrá os 10.000 m no Pan, que vai de 14 a 30 de outubro.
Para se adaptarem à altitude, equipes de atletismo, triatlo, taekwondo e natação já começaram a chegar a San Luis Potosí, a 1.900 m.
"Como La Loma [o centro de treinamento] não está muito alto, não haverá melhora da performance. Mas vamos acostumar os atletas", disse Marcus Bernhoeft, médico da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos.
"Quem tiver mais dificuldade fará a adaptação em doses homeopáticas e terá menos exigência nos treinos." Atletas de alguns esportes, principalmente de resistência, costumam fazer períodos de treino acima de 2.000 m.
Na altitude, aumenta a quantidade de glóbulos vermelhos no sangue, que levam o oxigênio para os músculos.
Quando voltam a locais baixos, os competidores têm ganho de desempenho.
Segundo Rômulo Bertuzzi, do Grupo de Estudos em Desempenho Aeróbio da USP, a 1.500 m, a pressão parcial de oxigênio é reduzida em apenas 10%. Do ponto de vista fisiológico, não deve causar impacto no desempenho.
"O maior problema talvez seja do ponto de vista psicológico", afirma Bertuzzi.
A tese é compartilhada pela técnica da campeã olímpica do salto em distância, Maurren Maggi. "Para nós, a altitude é positiva. Mas, a 1.500 m, a melhora não é significativa, não é para recordes", afirmou
Tânia Moura.
Na altitude, a resistência do ar é menor e facilita saltos, lançamentos e arremessos.
O Brasil terá até velocistas em La Loma, o que, para alguns, não seria necessário. "Sei é que atrapalha.
Tanto que, quando vamos competir na altitude, chegamos na noite anterior", disse Sandro Viana (100 m e 200 m rasos).
"É como se fôssemos um carro a gasolina e passássemos a usar álcool. Precisamos de explosão e, na altitude, a 'combustão' é mais lenta. Por isso não há grandes velocistas na altitude. Mas a intenção parece boa", afirmou.
A Iaaf (entidade que comanda o atletismo) considera relevante qualquer altitude acima dos 1.000 m. Recordes nessas condições são marcados com um "A".
Hoje, o recorde mundial masculino do salto com vara, um continental do salto triplo e outros três do salto em distância foram feitos na altitude, inclusive o de Maurren, de 1999, em Bogotá.


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