São Paulo, domingo, 25 de outubro de 2009

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Luxemburgo põe Senado na frente até da seleção

Irado com Belluzzo, que o demitiu no Palmeiras, técnico garante ida à política

Petista, treinador do Santos elogia Lula por ser menos radical agora e, sem chance de obter o título, almeja em 2010 carreira no Tocantins

RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL

Vanderlei Luxemburgo, 57, recebeu a Folha no CT Rei Pelé. Foi anteontem. Para falar de tudo, até de que não gosta da Folha. O Santos está fora da luta pelo título, e, como o presidente Marcelo Teixeira deve deixar o clube, Luxemburgo já vê novo horizonte para 2010. Ele quer descansar no fim do ano. Depois, quem sabe, uma equipe forte, um novo investidor para o Instituto Wanderley Luxemburgo, a aposentadoria do futebol... Certeza mesmo só a entrada na política (e a ira com Luiz Gonzaga Belluzzo, presidente do Palmeiras).

 

FOLHA - Sem Marcelo Teixeira na presidência, você sai do Santos?
VANDERLEI LUXEMBURGO
- Se ele não continuar, não continuo. Se continuar, minha primeira intenção é discutir um projeto com o Santos. Quando o Marcelo me chamou, era porque o Santos estava aquém da sua tradição. Falei que ficava até o fim do ano. Depois, pode pintar o Inter ou outro, estarei aberto ao mercado. Não está nada definido sobre o que vou fazer.

FOLHA - E a ida para a política?
LUXEMBURGO
- É outra possibilidade que pode existir na minha vida, de ir para o outro lado. Nunca me filiei a partido. Filiei-me ao PT agora, no Tocantins, porque acho que é um Estado que promete, tem só 20 anos e muita coisa a ser feita.

FOLHA - Por que o PT?
LUXEMBURGO
- Sempre me identifiquei com coisas que o PT fazia, mas achava o partido radical. Passou a ser mais moderado e se encaixa mais com a minha cabeça, com o meu pensamento político-ideológico.

FOLHA - É amigo do Lula? O Lulinha [filho do presidente e auxiliar no Santos] já é seu companheiro...
LUXEMBURGO
- Tenho amizade com o Lula, que foi o petista que mais evoluiu. Se você pegar o Lula de anos atrás e pegar o de hoje, verá que evoluiu na ideologia política, algumas coisas que tomava com radicalismo no partido foram mudando. Isso mostra que o PT evoluiu.

FOLHA - Por que o Tocantins? Está preparado para as críticas por não ter identificação com esse Estado?
LUXEMBURGO
- O mundo está globalizado, qual é o problema? Por que você não pode trabalhar no Rio se for convidado? É anormal? Vocês têm tendência à crítica. Como se fosse proibido eu entender que o Tocantins possa ter uma situação em que seja possível desenvolver um trabalho melhor do que em São Paulo. Num mundo globalizado, com possibilidades, alternativas de trabalho, você fala inglês fluente e o convidam para um jornal em Nova York. Vai deixar de ir porque é brasileiro? É crescimento. No Norte, é onde precisam de um projeto de esporte, pois não tem.

FOLHA - Você já fala como político. É inevitável a entrada nesse meio?
LUXEMBURGO
- É só uma questão de tempo. Eu vou.

FOLHA - Como é para um técnico de ponta ficar sem lutar pela taça?
LUXEMBURGO
- Estaria brigando pelo título. Não deixaram. É diferente. Montei um trabalho, o projeto no Palmeiras, para brigar pelo título deste ano e pela Libertadores no ano que vem.

FOLHA - O que pensa do presidente do Palmeiras, Luiz Gonzaga Belluzzo, que o demitiu?
LUXEMBURGO
- Belluzzo foi um dirigente nada diferente dos de anos trás. Mostrou mentalidade retrógrada, apesar de dizer que é moderno. É fácil deixar de discutir a situação e mandar o cara embora. O que aconteceu eu não sei, porque não houve nada que pudesse caracterizar uma perda de cargo minha. Agi na defesa dos interesses do clube, da parceria. Seguramos o Keirrison dois meses sem fazer gol, o parceiro tinha investido alto nele. Mantive o menino, aí ele foi embora e recebi um telefonema dizendo que tinha sido vendido. Um jornalista me perguntou se ele, vendido, podia ficar até o fim do ano. Disse que, comigo, não. Porque, se ele não veio se despedir, não falou nada, como é que vai ficar? O Belluzzo ficou chateado com isso.

FOLHA - A demissão não seria também para conter despesas?
LUXEMBURGO
- A minha saída se deu pelo Fabio Raiola [diretor financeiro], que fazia pressão contra mim. Houve pressão da Mancha Verde [torcida organizada] sobre o Belluzzo. Tinha brigado com a Mancha, e o Belluzzo aceitou a imposição dela. Fizeram aquela sem-vergonhice no aeroporto [troca de agressões com o técnico]. O Belluzzo queria que eu falasse com a Mancha. Como é que eu ia falar com os caras que me agrediram? Infelizmente, ele tomou a decisão porque se sentava na arquibancada com a Mancha.

FOLHA - Você se sentirá campeão se o Palmeiras triunfar neste ano?
LUXEMBURGO
- Nada a ver. A Mancha Verde me chamou de traidor porque o Palmeiras caiu em 2002 e disse que fui o culpado. Não me senti culpado quando caiu nem vou me sentir responsável agora por ter formado o time. Quem vai ser campeão é o Muricy, os jogadores. Você vai embora do processo, acabou o processo. Estava premeditado me tirar do Palmeiras, faltava um momento. Aquilo [Keirrison] acabou sendo pretexto.

FOLHA - Saindo do Santos, como imagina seu futuro no futebol?
LUXEMBURGO
- Eu tenho que deixar a coisa acontecer, ver como estará o mercado. Vou ficar até o fim do ano aqui e descansar. Se o Marcelo [Teixeira] continuar, queria fazer um time competitivo com projeto de Libertadores, com o centenário do clube. Mas, se o Marcelo nem for candidato, acabou.

FOLHA - Por que o São Paulo sempre foi rival? Portas fechadas lá?
LUXEMBURGO
- Já tive convites, só que não dava para ir porque estava trabalhando. Quando estive parado, o São Paulo não me convidou. Fui convidado pelo Fernando Casal de Rey. O Marcelo Portugal Gouvêa disse que não me contrataria, uma semana depois foi no lançamento do meu livro e disse que trabalharia comigo. É coisa de mídia, que pega declaração de um terceiro dirigente. Posso trabalhar no São Paulo. Se não trabalhar, não muda nada.

FOLHA - Dizem que você não é aceito lá por ser muito personalista.
LUXEMBURGO
- Mais personalista que o Telê Santana? Ele fazia tudo. Sou capaz de discutir tudo numa reunião. Nunca foi tomada nenhuma decisão unilateral minha, e falam o contrário. Se alguém provar isso...

FOLHA - Muitos o acham egocêntrico, vaidoso... Assume isso?
LUXEMBURGO
- É impossível tecer qualquer comentário meu se não me conhece. O cara que trabalha é um profissional, um personagem. Não posso falar nunca dos sentimentos meus. Aqui, na entrevista, sou profissional. Quando você me conhecer, vai poder dizer "o Luxemburgo é metido, radical, egocêntrico". Tem perguntas que fazem você ter vários tipos de reação, sair pela tangente, ser grosso, contundente, ignorante, firme. Por exemplo, não gosto do Juca Kfouri. Mas não posso esconder que não gosto dele. Não gosto da Folha, mas falo isso. E isso passa como se eu fosse um camarada metido. Tenho meu ponto de vista.

FOLHA - Gosta do personagem Luxemburgo que você criou?
LUXEMBURGO
- Já mudei. Ele foi se ajustando, sou muito mais velho. Fiz dois "media training" para melhorar minha relação com a imprensa, que achava um pouco desnecessária, minha relação com a arbitragem era muito arrogante da minha parte. Achava sempre que estava acima do bem e do mal e que estavam sempre equivocados. Se pegar minha trajetória, verá que fui mudando. Você vai se ajustando, procura melhorar.

FOLHA - O Instituto Wanderley Luxemburgo está mesmo em crise?
LUXEMBURGO
- Você não consegue consolidar uma empresa da noite para o dia. Ela tem prejuízo, se equivoca em alguma coisa, você puxa o freio de mão, busca outro investidor. É um negócio que está começando, que pode ter sucesso ou não. Alcançou de imediato o que esperávamos, aí tivemos alguns parceiros que não corresponderam. O meu parceiro principal teve problemas e, com isso, passou a não investir. Só dei meu nome e meus profissionais ao instituto, tinha a disposição de dar aula. O investidor é outra pessoa. Estamos buscando outras parcerias para o negócio poder funcionar. Se vai dar certo ou não, faz parte da vida.

FOLHA - Pensa em seleção ainda?
LUXEMBURGO
- Nem penso. Se um dia tiver convite, vou pensar na época. O meu projeto já passou. Fiz o projeto, o Felipão foi para a Copa, ganhou [em 2002], e minha vida continuou. Já cheguei à seleção brasileira.

FOLHA - E a Libertadores? LUXEMBURGO - Telê foi cobrado por não ser campeão mundial, um dos maiores vencedores do Brasil. Sou um dos maiores vencedores e falta a Libertadores. Não falta nada. Não aconteceu. Tenho uma vida de sucesso. Ganhei recorde de títulos em SP, em Brasileiros, cheguei à seleção, tive percentual fantástico, saí por problemas que não tinham a ver com a parte técnica, me tiraram. Do que posso reclamar? Está bom.


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