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VÔLEI
Junta desde abril, seleção trabalha para superar fase crítica na competição
Brasil "discute a relação" para evitar atritos na Copa
MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL
Na quadra está tudo bem. Fora
dela, o sinal de alerta está aceso.
Preocupada com os efeitos que
seis meses de convivência -o último, de forma intensiva, no Japão- podem gerar no grupo, a
comissão técnica do Brasil decidiu dar atenção especial à cabeça
dos jogadores da seleção.
"Estamos na fase mais delicada,
na metade da competição. Em
grupos, quando o período de convivência passa de três semanas,
acendemos a luz vermelha", disse
o psicólogo Gilberto Gaertner.
O meio da Copa do Mundo
coincide com o período de preparação para aquele que deve ser o
mais importante jogo da equipe:
na sexta-feira, a seleção enfrenta
Sérvia e Montenegro para se
aproximar da vaga olímpica.
"Temos de ser fortes. Em um
torneio assim, é preciso trabalhar
a mente e a alma para não perder
o foco", disse Bernardinho.
Entre treinos preparatórios e jogos, a equipe nacional completará
quase um mês de convivência seguido após o fim da Copa.
O final estressante é um espelho
do que foi toda a temporada.
Nenhuma das principais seleções do país ficou tanto tempo
junta durante este ano.
Os times masculinos de basquete e handebol conviveram durante aproximadamente três meses,
descontados os intervalos. Os comandados do técnico Carlos Alberto Parreira gastaram dois meses entre treinos e jogos em 2003.
"A gente nunca havia ficado
tanto tempo confinado [como no
Japão]. Até eu, que sou um dos
mais bem-humorados do grupo,
às vezes não quero falar com ninguém", contou Ricardinho.
Neste ano, os excessos de partidas e viagens contribuíram para o
maior fiasco do time de Bernardinho. Após dois meses de Liga
Mundial, os brasileiros só tiveram
uma semana de folga antes de
irem ao Pan de Santo Domingo.
O resultado: cansada e desmotivada, a seleção, franca favorita,
perdeu para a Venezuela e terminou apenas com o bronze.
Para evitar desgastes, a comissão técnica inseriu novos hábitos
no grupo. A divisão de quartos,
por exemplo, é feita de acordo
com as afinidades dos jogadores,
que podem escolher os parceiros.
Quando o calendário e as características dos torneios permitem,
Bernardinho facilita o encontro
com famílias e namoradas, que
até ficam no mesmo hotel.
No Japão, uma das armas tem
sido a psicologia. Pela primeira
vez, Gaertner acompanha os atletas em um período tão longo.
"É melhor porque ele pode fazer um trabalho individualizado,
ver as necessidades de cada um e
do grupo", disse o ponta Nalbert.
"A gente se dá superbem, mas
chega uma hora em que você não
aguenta mais ver a cara da mesma pessoa 24 horas por dia."
Os próprios jogadores desenvolveram seus mecanismos para
driblar os atritos. Uma turma liderada por Gustavo passa o tempo jogando truco. Giba e Ricardinho, que dividem o quarto, assistem a filmes. A maioria, quando
está de mau humor, fica isolada
para evitar atritos ou sai para fazer compras. O mais difícil, no
entanto, é lidar com a saudade.
"Eu ligo muito para falar com a
minha filha. Mas, às vezes, ela não
quer nem falar comigo. Fica brava porque eu não volto logo",
contou Ricardinho, pai de Júlia, 6,
e Bianca, 4 meses.
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