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São Paulo, terça-feira, 25 de novembro de 2003

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VÔLEI

Junta desde abril, seleção trabalha para superar fase crítica na competição

Brasil "discute a relação" para evitar atritos na Copa

MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Na quadra está tudo bem. Fora dela, o sinal de alerta está aceso.
Preocupada com os efeitos que seis meses de convivência -o último, de forma intensiva, no Japão- podem gerar no grupo, a comissão técnica do Brasil decidiu dar atenção especial à cabeça dos jogadores da seleção.
"Estamos na fase mais delicada, na metade da competição. Em grupos, quando o período de convivência passa de três semanas, acendemos a luz vermelha", disse o psicólogo Gilberto Gaertner.
O meio da Copa do Mundo coincide com o período de preparação para aquele que deve ser o mais importante jogo da equipe: na sexta-feira, a seleção enfrenta Sérvia e Montenegro para se aproximar da vaga olímpica.
"Temos de ser fortes. Em um torneio assim, é preciso trabalhar a mente e a alma para não perder o foco", disse Bernardinho.
Entre treinos preparatórios e jogos, a equipe nacional completará quase um mês de convivência seguido após o fim da Copa.
O final estressante é um espelho do que foi toda a temporada.
Nenhuma das principais seleções do país ficou tanto tempo junta durante este ano.
Os times masculinos de basquete e handebol conviveram durante aproximadamente três meses, descontados os intervalos. Os comandados do técnico Carlos Alberto Parreira gastaram dois meses entre treinos e jogos em 2003.
"A gente nunca havia ficado tanto tempo confinado [como no Japão]. Até eu, que sou um dos mais bem-humorados do grupo, às vezes não quero falar com ninguém", contou Ricardinho.
Neste ano, os excessos de partidas e viagens contribuíram para o maior fiasco do time de Bernardinho. Após dois meses de Liga Mundial, os brasileiros só tiveram uma semana de folga antes de irem ao Pan de Santo Domingo.
O resultado: cansada e desmotivada, a seleção, franca favorita, perdeu para a Venezuela e terminou apenas com o bronze.
Para evitar desgastes, a comissão técnica inseriu novos hábitos no grupo. A divisão de quartos, por exemplo, é feita de acordo com as afinidades dos jogadores, que podem escolher os parceiros.
Quando o calendário e as características dos torneios permitem, Bernardinho facilita o encontro com famílias e namoradas, que até ficam no mesmo hotel.
No Japão, uma das armas tem sido a psicologia. Pela primeira vez, Gaertner acompanha os atletas em um período tão longo.
"É melhor porque ele pode fazer um trabalho individualizado, ver as necessidades de cada um e do grupo", disse o ponta Nalbert.
"A gente se dá superbem, mas chega uma hora em que você não aguenta mais ver a cara da mesma pessoa 24 horas por dia."
Os próprios jogadores desenvolveram seus mecanismos para driblar os atritos. Uma turma liderada por Gustavo passa o tempo jogando truco. Giba e Ricardinho, que dividem o quarto, assistem a filmes. A maioria, quando está de mau humor, fica isolada para evitar atritos ou sai para fazer compras. O mais difícil, no entanto, é lidar com a saudade.
"Eu ligo muito para falar com a minha filha. Mas, às vezes, ela não quer nem falar comigo. Fica brava porque eu não volto logo", contou Ricardinho, pai de Júlia, 6, e Bianca, 4 meses.


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