São Paulo, quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TOSTÃO

Arruinados pelo sucesso


O campeão vai dizer que foi a vitória do grupo, que calou a boca dos críticos e que o título foi fruto de planejamento

OS TIMES que podem ser campeões lembram algumas pessoas, descritas pela psicologia, que se sentem tristes, amarguradas e não merecedoras de suas conquistas. Fazem tudo para perder o que obtiveram com esforço e de acordo com a lei. São os arruinados pelo sucesso.
Alguém vai ter de levantar a taça. Os campeões terão ainda o direito de fazer os discursos tradicionais, de que foi a vitória do grupo, de que calaram a boca dos críticos e de que o título foi consequência de planejamento. As qualidades do campeão serão exaltadas. Nenhuma deficiência será lembrada. Certamente, algum torcedor vai atravessar o campo de joelhos, tirar as redes e se dependurar nas traves.
A melhor e mais emocionante partida da última rodada foi a vitória do Botafogo sobre o São Paulo, mais pelas viradas e pelos belos gols de Jobson do que pela atuação coletiva das duas equipes. O líder São Paulo não fez novamente um bom jogo. O veloz e habilidoso Jobson deve ter errado os dois chutes, já que a sua principal deficiência durante o campeonato foi a finalização.
O pior jogo foi o empate entre Atlético-PR e Cruzeiro. Os dois times precisavam da vitória. Até o comentarista Raul Plasmann, que costuma ser generoso e procura ver as coisas boas de um jogo, não suportou tanta mediocridade.
Os técnicos sonham em ver seu time jogar e não deixar o adversário jogar. Antônio Lopes, treinador do Atlético-PR, deve sonhar em ver as duas equipes não jogarem. Ele obriga o outro time a ser tão ruim quanto o seu.
Quando vejo uma partida, tento separar a qualidade e a análise técnica e tática da emoção e da importância do jogo. Não comparo com o futebol do passado e com o atual de outros países. Não sou também um repetidor, um papagaio de pirata. Enxergo e penso. Trabalhei em TV aberta e conheço a preocupação excessiva, doentia, com a audiência. Narrador tenta transformar um jogo bom em espetacular.
Dizer que o nível técnico do Brasileirão é excelente porque existe muita emoção, várias equipes disputando o título e aumento de público é, mais ou menos, afirmar que as medíocres partidas entre dois times pequenos ingleses são ótimas porque o estádio é charmoso, está lotado, o gramado é perfeito, os times correm muito e os árbitros marcam poucas faltas.
No primeiro semestre, o Corinthians e, logo depois, o Cruzeiro foram os melhores times. Não falo isso porque o Corinthians ganhou o Campeonato Paulista e a Copa do Brasil, e o Cruzeiro foi vice-campeão na Libertadores. Os dois times jogaram o melhor futebol, mais do que os atuais primeiros colocados do Brasileirão. Hoje, o Fluminense é a equipe que joga melhor. Ao contrário do que é mais comum, Conca joga mais do que é elogiado, desde quando atuava no Vasco.
Hoje, pela Copa Sul-Americana, é um jogo de grande risco para o Fluminense. Risco de perder, o que é mais provável, por causa da altitude e da boa equipe da LDU, e, principalmente, risco de perder o encanto, como lembrou muito bem Juca Kfouri. Mas, se vencer, o Fluminense vai ficar ainda mais encantado e com mais chance de fugir do rebaixamento, o que todos achavam impossível.


Texto Anterior: Santos: CBF recua e remarca jogo para domingo
Próximo Texto: Dunga insinua que Ronaldo em 2006 foi um erro
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.