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São Paulo, quinta-feira, 25 de dezembro de 2003

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Atrás de sonho olímpico, competidores abandonam origem e migram para esportes de inverno

Brasil prepara atletas de verão para Jogos no frio

Felipe Varanda/Folha Imagem
Bruno Brandão, 18, empurra trenó de luge com Liliane Lacerda, 18, e Eliane Silva, 19, durante treino em pista de atletismo no Rio


JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
LUÍS FERRARI
DA REPORTAGEM LOCAL

O transporte mais rápido entre o Brasil e os Jogos Olímpicos é o trenó de bobsled.
É nele que uma série de atletas de esportes de verão sem chances de ir a uma Olimpíada aposta para realizar o sonho olímpico.
O caminho para os Jogos de Inverno de Turim é bem mais fácil do que o que leva a Atenas.
"Meu bisavô [Abrahão Saliture] participou de duas Olimpíadas, no pólo, em 1920 e 1932. Meu sonho era o mesmo, só que não consegui realizá-lo. Minha esperança foi mudar de esporte e tentar ir na de Inverno pelo bobsled", diz o nadador Marcos Saliture Neto, 27.
A história é parecida com a do piloto de kart Guilherme Jacob, 36. Ele procurou Eric Maleson, 36, presidente da Confederação Brasileira de Desportos no Gelo, há quatro meses e se ofereceu para tentar a sorte no bobsled.
Diz que conduzir o trenó no gelo, com duas ou quatro pessoas, não é tão diferente de pilotar um kart. "São atividades que envolvem concentração, foco, reação rápida e atenção às curvas. Só que no kart freio e viro o volante antes das curvas e no "bob" só é possível virar a direção dentro da curva."
Maleson conta que não se importa de recrutar atletas de outras modalidades. "Num país tropical como o Brasil era a única solução viável para formar uma equipe nacional. Selecionamos praticantes de futebol, handebol, queda de braço, arremessadores de peso, tudo, enfim, o que você possa imaginar", explica o dirigente.
"Com recursos da Lei Piva [R$ 204 mil em 2003], ajuda do Ministério do Esporte e alguns parceiros privados levamos a equipe à Europa e à América do Norte e começamos a nos preparar para 2006 [ano dos Jogos de Turim]."
Para se classificar ao evento, o Brasil tem de ficar entre os 24 primeiros do ranking mundial para não ir à repescagem, o que, segundo a federação internacional, é possível apenas participando das oito etapas da Copa do Mundo.
A maior parte da equipe da CBDG, seja do bobsled ou do luge, é oriunda do atletismo.
Armando dos Santos, 21, arremessador de martelo, é um dos que se deram bem no trenó. "Vou no de quatro. Com o atletismo, ganhei velocidade, agilidade e muita força. Tenho 1,80 m e 95 kg de massa muscular. Os que sentam no meio, como eu, têm de ser muito fortes, porque são os que empurram o carrinho. Quanto maior o impulso, melhor."
Também é o caso de Bruno Brandão, 18, que, além de arremesso de martelo, faz levantamento de peso e entrou para o time de bobsled. No Rio, onde mora, como não há material para treinar, costuma se exercitar empurrando um carro.
Já Thiago Castelo Branco, 24, velocista de 110 m com barreira, atua como "brake man" do trenó. Tem de empurrar o bobsled na largada e acionar os freios após cruzar a linha de chegada. "Nós, corredores, somos procurados como "brake men" por causa da velocidade. Temos que ser rápidos, o trenó chega a 140 km/h."
Além da CBDG, a Confederação Brasileira de Desportos na Neve também faz recrutamentos periódicos em busca de talentos de outros esportes, muitos dos quais nunca tinham visto neve na vida.
"Isso é o de menos. Nos esportes na neve, se você é bom no skate ou no surfe, pode se dar bem no snowboard. Nos de gelo, com força de vontade e boa forma física dá para competir", diz a ginasta Fabiana dos Santos, 19. "Eu nunca tinha visto neve, fui à Europa e ganhei o 1º Brasileiro feminino de bobsled". Detalhe: havia apenas outro trenó brasileiro competindo com ela, que ficou com o vice.


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