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Atrás de sonho olímpico, competidores abandonam origem e migram para esportes de inverno
Brasil prepara atletas de verão para Jogos no frio
Felipe Varanda/Folha Imagem
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Bruno Brandão, 18, empurra trenó de luge com Liliane Lacerda, 18, e Eliane Silva, 19, durante treino em pista de atletismo no Rio |
JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
LUÍS FERRARI
DA REPORTAGEM LOCAL
O transporte mais rápido entre
o Brasil e os Jogos Olímpicos é o
trenó de bobsled.
É nele que uma série de atletas
de esportes de verão sem chances
de ir a uma Olimpíada aposta para realizar o sonho olímpico.
O caminho para os Jogos de Inverno de Turim é bem mais fácil
do que o que leva a Atenas.
"Meu bisavô [Abrahão Saliture]
participou de duas Olimpíadas,
no pólo, em 1920 e 1932. Meu sonho era o mesmo, só que não consegui realizá-lo. Minha esperança
foi mudar de esporte e tentar ir na
de Inverno pelo bobsled", diz o
nadador Marcos Saliture Neto, 27.
A história é parecida com a do
piloto de kart Guilherme Jacob,
36. Ele procurou Eric Maleson, 36,
presidente da Confederação Brasileira de Desportos no Gelo, há
quatro meses e se ofereceu para
tentar a sorte no bobsled.
Diz que conduzir o trenó no gelo, com duas ou quatro pessoas,
não é tão diferente de pilotar um
kart. "São atividades que envolvem concentração, foco, reação
rápida e atenção às curvas. Só que
no kart freio e viro o volante antes
das curvas e no "bob" só é possível
virar a direção dentro da curva."
Maleson conta que não se importa de recrutar atletas de outras
modalidades. "Num país tropical
como o Brasil era a única solução
viável para formar uma equipe
nacional. Selecionamos praticantes de futebol, handebol, queda de
braço, arremessadores de peso,
tudo, enfim, o que você possa
imaginar", explica o dirigente.
"Com recursos da Lei Piva [R$
204 mil em 2003], ajuda do Ministério do Esporte e alguns parceiros privados levamos a equipe à
Europa e à América do Norte e começamos a nos preparar para
2006 [ano dos Jogos de Turim]."
Para se classificar ao evento, o
Brasil tem de ficar entre os 24 primeiros do ranking mundial para
não ir à repescagem, o que, segundo a federação internacional, é
possível apenas participando das
oito etapas da Copa do Mundo.
A maior parte da equipe da
CBDG, seja do bobsled ou do luge, é oriunda do atletismo.
Armando dos Santos, 21, arremessador de martelo, é um dos
que se deram bem no trenó. "Vou
no de quatro. Com o atletismo,
ganhei velocidade, agilidade e
muita força. Tenho 1,80 m e 95 kg
de massa muscular. Os que sentam no meio, como eu, têm de ser
muito fortes, porque são os que
empurram o carrinho. Quanto
maior o impulso, melhor."
Também é o caso de Bruno
Brandão, 18, que, além de arremesso de martelo, faz levantamento de peso e entrou para o time de bobsled. No Rio, onde mora, como não há material para
treinar, costuma se exercitar empurrando um carro.
Já Thiago Castelo Branco, 24,
velocista de 110 m com barreira,
atua como "brake man" do trenó.
Tem de empurrar o bobsled na
largada e acionar os freios após
cruzar a linha de chegada. "Nós,
corredores, somos procurados
como "brake men" por causa da
velocidade. Temos que ser rápidos, o trenó chega a 140 km/h."
Além da CBDG, a Confederação
Brasileira de Desportos na Neve
também faz recrutamentos periódicos em busca de talentos de outros esportes, muitos dos quais
nunca tinham visto neve na vida.
"Isso é o de menos. Nos esportes na neve, se você é bom no skate ou no surfe, pode se dar bem no
snowboard. Nos de gelo, com força de vontade e boa forma física
dá para competir", diz a ginasta
Fabiana dos Santos, 19. "Eu nunca
tinha visto neve, fui à Europa e ganhei o 1º Brasileiro feminino de
bobsled". Detalhe: havia apenas
outro trenó brasileiro competindo com ela, que ficou com o vice.
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