São Paulo, sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

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XICO SÁ

Pacto antifutebol


Que na volta dos certames oficiais sejamos cada vez menos fanáticos pelos clubes e mais devotos às moças

AMIGO TORCEDOR , amigo secador, o mais louco, como me escreve uma leitora em veraneio com o marido, é que o futebol tem recesso no calendário, mas não para na cabeça dos homens doentes.
Quando avistou o primeiro corintiano, em trajes do clube, na praia de Jericoacoara, Clayton esqueceu mulher, filho e a linha do horizonte.
O paulistano seguia até bem na sua crise de abstinência ludopédica, conta Mariana, vítima, em temporadas anteriores de privações infernais. Como o alvinegro já estava em férias do futebol desde a conquista da Copa do Brasil, não foi tão cruel o desligamento com o time. A loucura, porém, voltou em plena viagem ao Ceará, com uma obsessão igualmente doentia chamada Libertadores.
Mariana, que escreveu em busca de aconselhamento, flagrou o marido tratando sobre a possível glória de 2010 até com a camareira da pousada. Sentiu, naquele instante, o estrago que dominaria o próximo ano.
Infelizmente, ao contrário de outras consultas sobre perturbações futebolísticas na vida dos casais, não soube o que dizer à leitora. Talvez só um maduro são-paulino ou uma razoável são-paulina, que vivem há muito dessa obsessão continental, consigam uma sugestão razoável.
Defendo um pacto antifutebol na temporada de folgas dos pombinhos. Que o marmanjo deixe em casa, a camisa do seu time -sempre um motivo de aproximação dos tarados e doentes em viagem de férias.
Abre-se uma exceção, parágrafo único, para os campeões do ano em voga. Desde que o(a) companheiro(a) da jornada comungue do mesmo fanatismo. Não à toa, as praias já foram tingidas de vermelho e negro no final deste 2009.
Ficam proibidas também a livre circulação de metáforas ludopédicas de autoridades federais, estaduais e municipais, como no episódio em que o corintiano Lula e o palmeirense José Serra maltrataram a pelota.
Que nunca sejam pronunciados em vão os nomes de homens e craques da linhagem Coutinho e Tostão.
O torcedor deve manter distância das trapaças dos cartolas durante o período. Sim, existe doente que comemora as transações do subsolo do esporte. No máximo, admite-se o velho troca-troca ao estilo Francisco Horta, ex-dirigente do Flu que promovia, a cada recesso, um festival de escambos, anos 70.
E que na volta dos certames oficiais sejamos cada vez menos fanáticos pelos clubes e mais devotos às moças. Miremos no retrovisor da história recente: Antônio Maria, cronista e narrador esportivo, que soube ser cada vez menos Flamengo e cada vez mais amoroso.
Amigo, você só tem a ganhar com a redução da tara e da doença. Trato por conhecimento de causa. No último Brasileiro, este mal-diagramado que vos batuca a caixinha de surpresas recebeu um dos mais inesperados dengos da temporada: "Amo que você veja os jogos e não grite nunca "chupa!" ou "golaço!'".
Desfrutei com devoção o elogio da senhorita. Mal sabia ela que um secador nato mantém, perversamente, um distanciamento do jogo. O corvo Edgar que o diga.
Em nome dos leitores Reynaldo Nogueira, 66, e Agostinho Matheus dos Santos, 70, que me escrevem belas cartas, desejo a todos boas festas e renovações para o bom combate.

xico.folha@uol.com.br


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