São Paulo, sábado, 26 de fevereiro de 2011

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RITA SIZA

Tolerância zero


A violência no futebol e no esporte em geral é o sintoma de uma sociedade em crise

OCASIONALMENTE, O fenómeno da violência vem parar às páginas do esporte. Aqui em Portugal aconteceu esta semana: um rodapé no relato do dérbi lisboeta Sporting x Benfica -os visitantes ganharam de 2 a 0, e a polícia carregou à bastonada sobre os torcedores que atiravam foguetes e arremessavam cadeiras arrancadas da bancada.
"Escaramuças" como essas tornaram-se tão vulgares e repetitivas que, a não ser que os desacatos alcancem um grau nunca visto de espetacularidade e abuso ou então provoquem um número anormal de vítimas, já nos habituamos a descontar os acontecimentos como rotina. Não devíamos fazer isso. A violência no futebol -quer dizer, no esporte em geral- é o sintoma de uma sociedade em crise.
Por isso, em vez de olharmos para o lado, assobiando para disfarçar, ou de enfiarmos a cabeça na areia como um avestruz, devíamos ficar indignados cada vez que uma coisa dessas acontece. Concorrência e competição são uma coisa saudável e contribuem para o espetáculo e a festa que é o futebol; vandalismo, intolerância e violência são degradantes e inaceitáveis.
Chega de dizer, sempre que acontece, que o problema é de umas maçãs podres. Que temos de compreender quando um pai de família se transforma num bicho, insultando ou destruindo tudo e todos que vê pela frente "por amor" ao seu clube -ele, que nunca grita a ninguém...
E não vale mais prometer que "serão tomadas medidas". Não podemos ficar resignados com isso.
Francamente, confesso que não sei qual está a ser, aí no Brasil, o resultado prático do novo Estatuto do Torcedor, que foi aprovado para conter e controlar o fenómeno do "hooliganismo".
Deste lado, onde supostamente tudo tem de funcionar segundo as regras homogéneas da União Europeia, chegamos à situação ridícula em que um torcedor não pode entrar no estádio com um pacote de bolachas, mas as organizadas conseguem "contrabandear" petardos e outros explosivos, ou, a novidade da temporada, bolas de golfe. No outro dia, até uma galinha viva foi filmada na bancada.
Quando o "hooliganismo" ameaçava destruir o futebol inglês, as autoridades agiram sem contemplações. A polícia deteve os desestabilizadores, que nunca mais puderam entrar num estádio. Os clubes recusaram dar cobertura aos vândalos e selvagens. A sociedade condenou, efectivamente, a violência nos estádios.
E, com a certeza de que mais ninguém estava em risco, as partidas encheram-se de gente, famílias inteiras, que cantam pelo seu time e fazem de cada jogo não uma batalha, mas uma festa.


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