São Paulo, domingo, 26 de março de 2006

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FUTEBOL

No fundo da alma

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Nas décadas de 50 e 60, a maioria das equipes jogava no 4-2-4 ou no 4-3-3.
A Inglaterra inovou na conquista do Mundial de 1966, ao atuar no 4-4-2. Após 40 anos, é ainda o esquema tático mais utilizado no mundo, inclusive pela atual seleção brasileira.
Na Europa, especialmente na Inglaterra, os quatro do meio-campo formam uma linha e todos, alternadamente, marcam e atacam. Não há o volante mais recuado para fazer a cobertura dos laterais, já que estes avançam pouco. Lampard e Gerrard, teoricamente os volantes da seleção inglesa, são os que mais finalizam de fora da área.
Diferentemente dos meias europeus, que não saem de seus setores, Ronaldinho Gaúcho e Kaká, um de cada lado, se movimentam por todo o ataque. Isso confunde a marcação. Mas, no Barcelona, Ronaldinho é um atacante. Na seleção, é um jogador de meio-campo, que participa da marcação e chega à frente.
Uma das variações do 4-4-2, adotada por poucas equipes da Europa e pela maioria dos times brasileiros, é atuar com três jogadores no meio-campo e um meia na ligação com os dois atacantes. Assim jogou a seleção com Parreira durante três anos.
A escalação do quarteto ofensivo foi imposta pela qualidade dos atletas. Isso mostra que Parreira evoluiu, que prefere o craque ao esquema tático e que tem bom senso, virtude cada vez mais rara.
Parreira disse que a escalação dos quatro jogadores mais adiantados é o limite da ousadia. Diante do espelho, ele deve indagar: "Ainda não acredito no que você fez".
Mas no fundo da alma, onde estão os mais estranhos e verdadeiros desejos, Parreira deve sonhar em ser treinador da seleção inglesa, com um time mais equilibrado, com os atletas ocupando sempre a mesma posição e repetindo as mesmas jogadas ensaiadas.

Monopólio
Como mostrou a Folha numa reportagem do Sérgio Rangel, o Ministério Público Estadual e o Federal estão investigando a exclusividade dada pela Confederação Brasileira de Futebol a uma agência de turismo para a venda de pacotes para o Mundial.
Esse monopólio pode prejudicar os consumidores.
Dois torcedores já conseguiram liminar na Justiça para comprar os ingressos diretamente da CBF, sem adquirir os pacotes da empresa.
O dono da atual operadora beneficiada pela CBF é o mesmo que era proprietário de outra empresa, acusada de lesar muitos brasileiros no Mundial de 1998, quando não entregaram vários ingressos vendidos.
A exclusividade dada pela CBF pode ser legal, mas não é justa. A CBF é uma entidade privada, mas de interesse público.

Clássico paulista
As grandes qualidades do Palmeiras são a garra e a busca da vitória. As principais deficiências do time são a pressa e a afobação de chegar ao gol. O Palmeiras precisa encontrar o equilíbrio entre a correria e o toque de bola, entre o nervosismo e a calma.
Por causa do estilo afobado e guerreiro, o Palmeiras não agrada nas vitórias e parece muito pior nas derrotas. Não é excelente, porém é um bom time.
Após vencer o Brasileiro, o Corinthians piorou com as contratações do Ricardinho e do Mascherano, que deveriam ser ótimos reforços.
A culpa não é dos dois.
Muitos técnicos ficam confusos quando têm vários excelentes jogadores no elenco. Preferem os medíocres.

Tráfico e influências
Será que o Corinthians fez realmente uma proposta para o treinador Paulo César Gusmão? Após a saída de Passarella, foi a mesma história.
Não entendo por que Paulo César tem tanto prestígio. Parece até que ele é um técnico experiente e consagrado. Com qualquer treinador, o Cruzeiro seria o grande favorito ao título mineiro.
A narração dos jogos e os gritos de Paulo César e de alguns técnicos durante toda uma partida são uma das coisas mais chatas e improdutivas que existem no futebol brasileiro.
Sem me referir ao técnico do Cruzeiro, e sim aos treinadores em geral e também aos jogadores, é um absurdo constatar que se tornou normal um empresário gerenciar ao mesmo tempo as carreiras de técnicos e jogadores. O tráfico de influências é obvio.

E-mail tostao.folha@uol.com.br


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