São Paulo, segunda-feira, 26 de março de 2007

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"Sou paga para entreter", diz Sharapova

Cercada de cuidados e com jeito de popstar, russa diz à Folha que tênis feminino precisa de show para atrair público

Musa diz gostar e aprovar a badalação em sua vida fora das quadras e aproveita para encher seus bolsos, já que vende de tênis a carro

RÉGIS ANDAKU
ENVIADO ESPECIAL A MIAMI

Martina Hingis, 43 títulos e uma das melhores tenistas da história, passa por um corredor reservado a jogadores e convidados do Masters Series de Miami e sorri.
Kim Clijsters, 34 troféus e uma das melhores dos últimos anos, passa pelo mesmo corredor, vê um conhecido, sorri abertamente e o cumprimenta com um beijo e um abraço.
Maria Sharapova, 15 títulos e para muitos apenas um rosto bonito, ainda não passou, mas seguranças e assessores já tiraram tudo do caminho -Hingis e Clijsters inclusive- para evitar qualquer contato com ela.
Sharapova aparece somente quando a sessão de fotos com as melhores do ranking chega perto do fim. Mas ninguém, fotógrafos, tenistas e organizador, chia agora que a sessão vai recomeçar, agora com os olhos verdes e o 1,88 m da loira russa de 19 anos no foco das atenções.
Com Hingis longe de ser a estrela que já foi, já que as irmãs Williams têm se dedicado mais às outras diversões da vida do que ao tênis, visto que Clijsters anda firme no caminho da aposentadoria e Justine Henin e Amelie Mauresmo ganham títulos, mas não apresentam carisma, Sharapova desfila como único nome a trazer atenção ao circuito feminino, mais por sua beleza e simpatia do que pela supremacia em quadra -nos bastidores, todos sabem e aceitam, e ela aproveita.
"Acho que o tênis precisa de show, entretenimento. Os torcedores procuram isso, e nós [tenistas] somos pagos para entreter as pessoas, não apenas para jogar e ganhar", diz. "Não me importo se me colocam como a "garotinha bonita'", fala Sharapova. "Por mais que chegue ao topo, terei de conviver com isso. Mas faz parte; somos [tenistas] pagos para divertir as pessoas", afirma a russa, em entrevista em Miami com três jornalistas da qual participou a Folha. "Tênis é apenas o esporte que eu jogo."
Não de hoje a associação feminina procura, cuida e torce por suas musas. Diferentemente do masculino, perde audiência e dinheiro. A diferença é que Sharapova, ao contrário de outras musas, gosta, aprova e aproveita a badalação em sua vida fora das quadras.
Diga que você considera o tênis feminino mais fraco do que o de anos atrás, e ela, contrariada e séria, dirá que não. "Existem tantos talentos hoje como em outras épocas."
Elogie então as fotos que ela fez para a "Vogue", e a russa, como uma criança, contará detalhes ("Me pegaram depois de Tóquio, não sei como conseguimos, na correria, fazer as fotos. Quando vi a revista, uau!, que honra. Adoro moda, e estar [na revista] é inspirador").
Esse comportamento de popstar de Sharapova ajuda a WTA, agrada a patrocinadores e organizadores e encanta torcedores. De outro lado, enche os bolsos da russa. Hoje, ela vende tênis, carro, relógio, creme dental, perfume etc.
O inglês sem sotaque da Sharapova tenista ajuda ainda mais a estrela internacional desde que se mudou da Sibéria para a Flórida, fala a língua do circuito. "Sei que sou querida por pessoas de vários lugares, de varias idades, e é uma honra ser reconhecida."
Sharapova, por ironia, só não manda nos assessores, gente que controla sua agenda e seu tempo fora das quadras. "Ela precisa ir", decreta uma assessora sisuda. Mas não sem antes dar um vibrante "oi" para os fãs venezuelanos. "Oi, Venezuela, aqui é Maria Sharapova, e eu queria agradecer a vocês..."
Os dirigentes, no fundo, adoram o assédio. Para sorte do tênis feminino, Sharapova tem fãs até na Venezuela.


O jornalista RÉGIS ANDAKU viaja a Miami a convite da Sony Ericsson


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