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Relações públicas levam Fifa a favela africana
Alvo de críticas e em busca de aceitação, entidade fará durante a Copa um torneio de jovens em área barra-pesada de Johannesburgo
FÁBIO ZANINI
DE JOHANNESBURGO
Alexandra, favela "barra-pesada" de Johannesburgo, foi escolhida ontem pela Fifa para o
lançamento de sua principal
iniciativa de relações públicas
da Copa, o "Football for Hope"
(Futebol para a Esperança).
Num campinho de futebol
em meio a ruas com barracos, a
entidade anunciou com pompa
o torneio reunindo jovens de
vários países, agrupados em 32
seleções. Vai de 4 a 10 de julho,
véspera da final da Copa-2010.
Conforme se pôde perceber
nos discursos, a Fifa está preocupada em deixar um "legado
social", para contrapor às críticas que tem recebido.
A principal refere-se ao preço dos ingressos, inalcançável
para a maioria dos sul-africanos. Há também muita insatisfação quanto à obsessão por
proteger as marcas dos patrocinadores da Copa, que afastará
milhares de vendedores ambulantes do entorno dos estádios.
Alexandra, ou "Alex", não foi
escolhida à toa. Com 500 mil
habitantes espremidos em 8
km2, registra altos índices de
desemprego e criminalidade. A
região assusta a elite de Johannesburgo, sobretudo por estar
colada a uma área nobre da cidade, Sandton.
"Esta Copa do Mundo não é
só de [Lionel] Messi, Cristiano
Ronaldo ou [Wayne] Rooney.
Há uma outra, a Copa do Mundo de Alexandra, da esperança,
da mudança e da oportunidade", declarou Danny Jordaan,
diretor-executivo do comitê
organizador do Mundial.
As regras e o formato das
equipes foram pensados para
passar mensagens de inclusão
e paz. Um time reunirá jovens
de Israel e Palestina. Outro, de
Bósnia e Sérvia, que estiveram
em guerra nos anos 90.
A equipe da Austrália terá filhos de imigrantes -a xenofobia é um problema crescente
no país. Do Brasil, virá uma
equipe que mesclará adolescentes de Santana do Parnaíba
(SP) e do Maranhão.
Serão jogos do que a Fifa
chama de "futebol de cinco",
com 12 minutos de duração.
Contando reservas, cada delegação terá oito atletas, metade de cada sexo. Meninos e meninas atuarão juntos, portanto.
Para incentivar o espírito de
tolerância, não haverá árbitro
nos jogos. Disputas precisarão
ser resolvidas amigavelmente.
"Muitos nessa comunidade
vêm de famílias desfavorecidas, então essa oportunidade é
importante para nós", disse o
técnico do time de Alexandra,
Sello Mahlangu, 18, estudante
de uma escola pública. Sua família é um retrato da realidade
de "Alex". É filho de mãe solteira desempregada. A família sobrevive com dinheiro enviado
por uma irmã que é garçonete.
A Fifa investiu US$ 4 milhões no torneio. Outras iniciativas de relações públicas estão
sendo feitas, como a construção de 52 campos de futebol
com grama artificial em áreas
carentes. Além disso, operários
que construíram estádios receberão ingressos para os jogos.
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