São Paulo, sexta-feira, 26 de março de 2010

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Relações públicas levam Fifa a favela africana

Alvo de críticas e em busca de aceitação, entidade fará durante a Copa um torneio de jovens em área barra-pesada de Johannesburgo

FÁBIO ZANINI
DE JOHANNESBURGO

Alexandra, favela "barra-pesada" de Johannesburgo, foi escolhida ontem pela Fifa para o lançamento de sua principal iniciativa de relações públicas da Copa, o "Football for Hope" (Futebol para a Esperança).
Num campinho de futebol em meio a ruas com barracos, a entidade anunciou com pompa o torneio reunindo jovens de vários países, agrupados em 32 seleções. Vai de 4 a 10 de julho, véspera da final da Copa-2010.
Conforme se pôde perceber nos discursos, a Fifa está preocupada em deixar um "legado social", para contrapor às críticas que tem recebido.
A principal refere-se ao preço dos ingressos, inalcançável para a maioria dos sul-africanos. Há também muita insatisfação quanto à obsessão por proteger as marcas dos patrocinadores da Copa, que afastará milhares de vendedores ambulantes do entorno dos estádios.
Alexandra, ou "Alex", não foi escolhida à toa. Com 500 mil habitantes espremidos em 8 km2, registra altos índices de desemprego e criminalidade. A região assusta a elite de Johannesburgo, sobretudo por estar colada a uma área nobre da cidade, Sandton.
"Esta Copa do Mundo não é só de [Lionel] Messi, Cristiano Ronaldo ou [Wayne] Rooney. Há uma outra, a Copa do Mundo de Alexandra, da esperança, da mudança e da oportunidade", declarou Danny Jordaan, diretor-executivo do comitê organizador do Mundial.
As regras e o formato das equipes foram pensados para passar mensagens de inclusão e paz. Um time reunirá jovens de Israel e Palestina. Outro, de Bósnia e Sérvia, que estiveram em guerra nos anos 90.
A equipe da Austrália terá filhos de imigrantes -a xenofobia é um problema crescente no país. Do Brasil, virá uma equipe que mesclará adolescentes de Santana do Parnaíba (SP) e do Maranhão.
Serão jogos do que a Fifa chama de "futebol de cinco", com 12 minutos de duração.
Contando reservas, cada delegação terá oito atletas, metade de cada sexo. Meninos e meninas atuarão juntos, portanto.
Para incentivar o espírito de tolerância, não haverá árbitro nos jogos. Disputas precisarão ser resolvidas amigavelmente.
"Muitos nessa comunidade vêm de famílias desfavorecidas, então essa oportunidade é importante para nós", disse o técnico do time de Alexandra, Sello Mahlangu, 18, estudante de uma escola pública. Sua família é um retrato da realidade de "Alex". É filho de mãe solteira desempregada. A família sobrevive com dinheiro enviado por uma irmã que é garçonete.
A Fifa investiu US$ 4 milhões no torneio. Outras iniciativas de relações públicas estão sendo feitas, como a construção de 52 campos de futebol com grama artificial em áreas carentes. Além disso, operários que construíram estádios receberão ingressos para os jogos.


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