São Paulo, quinta-feira, 26 de abril de 2007

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JOSÉ ROBERTO TORERO

Tico e Teco e o Morumbi

Eles voltaram para ajudar a federação paulista na difícil missão de escolher o local das partidas da reta decisiva

HÁ TEMPOS não via Tico e Teco, que outrora trabalharam na CBF como diretor-geral de Regulamentos Esdrúxulos e assistente-adjunto de Tabelas Estapafúrdias. Eram eles os responsáveis pelo planejamento do futebol brasileiro, só que, desde que começou essa história de pontos corridos e turno e returno, tem diminuído muito o trabalho dos insignes dirigentes. Porém, como a Federação Paulista de Futebol estava em dúvida sobre em que estádios marcar os jogos da fase final do campeonato, contratou a criativa dupla para que ela decidisse onde seriam as partidas. A escolha aconteceu no Bar da Preta, enquanto os dois tomavam caipirinhas de pitanga e comiam calabresa acebolada. Eu, discretamente sentado numa mesa atrás deles, pude acompanhar a conversa.
"Então, para onde marcamos esses jogos, Tico?" "Em qualquer lugar, Teco, menos no campo de cada um." "É claro! Isso seria óbvio, Tico." "Sem criatividade, Teco." "E se a gente marcasse o jogo do São Paulo no campo da Ponte Preta, o do Santos no campo do Marília, o do Bragantino em Itu e o do São Caetano em Sertãozinho?"
"É uma idéia interessante, Teco." "Não, não... A gente pode fazer mais do que isso. Vamos pensar mais um pouco, afinal temos um nome a zerar." "Você não quer dizer "zelar'?" "Dá na mesma, Tico." "Hum... E se a gente fizesse os jogos em outro Estado?" "Isso é interessante, Tico." "A gente podia fazer um jogo em Pernambuco, outro no Rio Grande do Sul..."
"Um no Acre e outro em Mato Grosso. E, se perguntarem o porquê disso, a gente diz que está promovendo a união nacional, que está exportando o futebol paulista." "Grande argumento, Teco." "Eu me esforço, Tico." "E onde seriam as finais?" "Ora, no Paraguai, é claro!"
"Perfeito, Teco! E a gente aproveita e compra mais daquele uísque. Vamos ligar para a federação." "Não, espera um pouco, Tico. Eu ainda não estou satisfeito. Acho que podemos arranjar coisa melhor." "O que pode ser melhor do que fazer os jogos pelo mundo afora?" Teco mordeu a calabresa com ares de filósofo e disse: "O contrário".
"Fazer os jogos mundo adentro? Você quer fazer os jogos no buraco do metrô? É uma boa idéia, Teco, mas com a frescura de Estatuto do Torcedor acho que não vão aceitar." "Não, Tico. Em vez de espalhar os jogos, nós vamos concentrar. Tudo numa só cidade, entendeu? As semifinais e as finais." "Entendi, Teco. É uma idéia bem diferente. E em que cidade vai ser? Paris? Roma? Nova York?" "São Paulo, é claro."
"Teco, não sei. Os times que não são da capital não vão reclamar?" "E daí? Assinaram o regulamento no começo do campeonato. Onde a gente mandar, eles têm que jogar." "E não vai parecer que estamos favorecendo o São Paulo?" "Desde quando a gente se importa com o que os outros pensam, Tico?" "Mas e se -toc, toc, toc- o São Paulo não for para a final?"
"Melhor ainda! Já pensou fazer os dois jogos finais numa cidade que não é a de nenhum dos clubes?" "Brilhante, Teco! Não perdemos a forma." "Sem falar que Santos e São Caetano irão pagar aluguel do estádio." "Genial!"
"E as torcidas terão que pegar muitos ônibus, já que não tem metrô para o Morumbi." "Estupendo!" "Ora, ora." Eu não canso de elogiá-lo, Teco." "E não sou eu quem vai pedir para você parar, Tico." "Um brinde à sua criatividade, Teco!" "Tintim, Tico."

torero@uol.com.br


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