|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
JOSÉ ROBERTO TORERO
Tico e Teco e o Morumbi
Eles voltaram para ajudar a federação paulista na difícil missão de escolher o local
das partidas da reta decisiva
HÁ TEMPOS não via Tico e Teco, que outrora trabalharam
na CBF como diretor-geral
de Regulamentos Esdrúxulos e assistente-adjunto de Tabelas Estapafúrdias. Eram eles os responsáveis
pelo planejamento do futebol brasileiro, só que, desde que começou essa história de pontos corridos e turno e returno, tem diminuído muito
o trabalho dos insignes dirigentes.
Porém, como a Federação Paulista de Futebol estava em dúvida sobre em que estádios marcar os jogos
da fase final do campeonato, contratou a criativa dupla para que ela decidisse onde seriam as partidas.
A escolha aconteceu no Bar da
Preta, enquanto os dois tomavam
caipirinhas de pitanga e comiam calabresa acebolada. Eu, discretamente sentado numa mesa atrás deles,
pude acompanhar a conversa.
"Então, para onde marcamos esses jogos, Tico?"
"Em qualquer lugar, Teco, menos
no campo de cada um."
"É claro! Isso seria óbvio, Tico."
"Sem criatividade, Teco."
"E se a gente marcasse o jogo do
São Paulo no campo da Ponte Preta,
o do Santos no campo do Marília, o
do Bragantino em Itu e o do São
Caetano em Sertãozinho?"
"É uma idéia interessante, Teco."
"Não, não... A gente pode fazer
mais do que isso. Vamos pensar
mais um pouco, afinal temos um nome a zerar."
"Você não quer dizer "zelar'?"
"Dá na mesma, Tico."
"Hum... E se a gente fizesse os jogos em outro Estado?"
"Isso é interessante, Tico."
"A gente podia fazer um jogo em
Pernambuco, outro no Rio Grande
do Sul..."
"Um no Acre e outro em Mato
Grosso. E, se perguntarem o porquê
disso, a gente diz que está promovendo a união nacional, que está exportando o futebol paulista."
"Grande argumento, Teco."
"Eu me esforço, Tico."
"E onde seriam as finais?"
"Ora, no Paraguai, é claro!"
"Perfeito, Teco! E a gente aproveita e compra mais daquele uísque.
Vamos ligar para a federação."
"Não, espera um pouco, Tico. Eu
ainda não estou satisfeito. Acho que
podemos arranjar coisa melhor."
"O que pode ser melhor do que fazer os jogos pelo mundo afora?"
Teco mordeu a calabresa com ares
de filósofo e disse: "O contrário".
"Fazer os jogos mundo adentro?
Você quer fazer os jogos no buraco
do metrô? É uma boa idéia, Teco,
mas com a frescura de Estatuto do
Torcedor acho que não vão aceitar."
"Não, Tico. Em vez de espalhar os
jogos, nós vamos concentrar. Tudo
numa só cidade, entendeu? As semifinais e as finais."
"Entendi, Teco. É uma idéia bem
diferente. E em que cidade vai ser?
Paris? Roma? Nova York?"
"São Paulo, é claro."
"Teco, não sei. Os times que não
são da capital não vão reclamar?"
"E daí? Assinaram o regulamento
no começo do campeonato. Onde a
gente mandar, eles têm que jogar."
"E não vai parecer que estamos favorecendo o São Paulo?"
"Desde quando a gente se importa
com o que os outros pensam, Tico?"
"Mas e se -toc, toc, toc- o São
Paulo não for para a final?"
"Melhor ainda! Já pensou fazer os
dois jogos finais numa cidade que
não é a de nenhum dos clubes?"
"Brilhante, Teco! Não perdemos a
forma."
"Sem falar que Santos e São Caetano irão pagar aluguel do estádio."
"Genial!"
"E as torcidas terão que pegar
muitos ônibus, já que não tem metrô
para o Morumbi."
"Estupendo!"
"Ora, ora."
Eu não canso de elogiá-lo, Teco."
"E não sou eu quem vai pedir para
você parar, Tico."
"Um brinde à sua criatividade, Teco!"
"Tintim, Tico."
torero@uol.com.br
Texto Anterior: Viagem a Caracas está no caminho Próximo Texto: Carpegiani estréia "velho" Corinthians Índice
|