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MOTOR
26 anos
Batalha de Imola, que fez
aniversário ontem, deveria
ser lição para todo piloto que
busca uma carreira vitoriosa
FÁBIO SEIXAS
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE
A FOLHINHA indicava 25 de
abril de 1982. E a F-1 largava
em Imola para uma das maiores demonstrações de esportividade
e agressividade da sua história.
No grid, reduzido pelo boicote dos
times ingleses em plena guerra Fisa
x Foca, a primeira fila era da Renault, com Arnoux e Prost sobrando
na pista. Logo atrás, na segunda fila,
a Ferrari, com Pironi e Villeneuve.
A alegria de Prost durou pouco. Na
sétima volta, o francês abandonou,
com o motor quebrado. As esperanças da Renault restaram em Arnoux.
Inúteis. A 15 voltas do fim, o líder
deixou o GP: problemas no turbo.
A liderança, então, caiu no colo de
Villeneuve, seguido por Pironi.
E foi aí que a corrida passou a ficar
interessante. Bem interessante.
Do pit wall, a Ferrari mostrou a
placa "slow" a seus dois pilotos. Senha para segurarem o ritmo, manterem as posições, não arrumarem encrenca, levarem os carros com tranqüilidade até a linha de chegada.
Um alívio para Villeneuve, uma
afronta para Pironi. Se estava com o
carro mais rápido, por que ficar em
segundo? E então o francês fez aquilo que todo piloto deveria fazer ao
receber uma ordem como essa.
Ignorou-a completamente.
Na volta seguinte, a 46ª, Pironi ultrapassou o companheiro, para surpresa geral da F-1. Estopim para
uma batalha épica até a bandeirada.
Três voltas depois, na 49ª, Villeneuve deu o troco. Na 53ª, Pironi
saltou à frente. Na penúltima, o canadense fez a ultrapassagem, naquele que parecia o último golpe da
luta. Parecia. Porque na 60ª e última
volta, ou melhor, no meio da última
volta, na curva Tosa, Pironi arriscou
tudo. Passou à frente, venceu o GP.
A vantagem, 0s366. O pódio, claro,
foi dos mais amargos. No YouTube,
há cenas tanto da prova como do pódio como de uma entrevista de Villeneuve: "Ele roubou minha vitória".
Parágrafo trágico: nenhum dos
dois terminou o campeonato. Villeneuve morreu no GP seguinte, Zolder. Pironi teve as pernas esmagadas em Hockenheim, passou por várias cirurgias e, quando preparava
sua volta à F-1, em 1987, morreu numa corrida de lanchas offshore -observação graciosa, sua namorada
deu à luz gêmeos algumas semanas
depois e batizou-os Didier e Gilles.
A folhinha indicava 25 de abril de
2008. No paddock de Barcelona, ontem, um dos assuntos mais pungentes era o recorde de GPs, a ser alcançado por Barrichello no Canadá -e
nunca na Turquia, como crê o piloto.
Marca importante, mas com um
quê de melancolia: é emblemático
que o único recorde alcançado por
Barrichello seja o de resistência.
Marca que carrega uma mancha
indelével. Barrichello deveria tirar
da conta o GP da Áustria de 2002.
Aquele em que engoliu a dignidade e
jogou para o espaço a lição de Pironi.
fseixas@folhasp.com.br
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