São Paulo, sábado, 26 de abril de 2008

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MOTOR

26 anos

Batalha de Imola, que fez aniversário ontem, deveria ser lição para todo piloto que busca uma carreira vitoriosa

FÁBIO SEIXAS
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE

A FOLHINHA indicava 25 de abril de 1982. E a F-1 largava em Imola para uma das maiores demonstrações de esportividade e agressividade da sua história.
No grid, reduzido pelo boicote dos times ingleses em plena guerra Fisa x Foca, a primeira fila era da Renault, com Arnoux e Prost sobrando na pista. Logo atrás, na segunda fila, a Ferrari, com Pironi e Villeneuve.
A alegria de Prost durou pouco. Na sétima volta, o francês abandonou, com o motor quebrado. As esperanças da Renault restaram em Arnoux. Inúteis. A 15 voltas do fim, o líder deixou o GP: problemas no turbo.
A liderança, então, caiu no colo de Villeneuve, seguido por Pironi.
E foi aí que a corrida passou a ficar interessante. Bem interessante.
Do pit wall, a Ferrari mostrou a placa "slow" a seus dois pilotos. Senha para segurarem o ritmo, manterem as posições, não arrumarem encrenca, levarem os carros com tranqüilidade até a linha de chegada.
Um alívio para Villeneuve, uma afronta para Pironi. Se estava com o carro mais rápido, por que ficar em segundo? E então o francês fez aquilo que todo piloto deveria fazer ao receber uma ordem como essa. Ignorou-a completamente.
Na volta seguinte, a 46ª, Pironi ultrapassou o companheiro, para surpresa geral da F-1. Estopim para uma batalha épica até a bandeirada.
Três voltas depois, na 49ª, Villeneuve deu o troco. Na 53ª, Pironi saltou à frente. Na penúltima, o canadense fez a ultrapassagem, naquele que parecia o último golpe da luta. Parecia. Porque na 60ª e última volta, ou melhor, no meio da última volta, na curva Tosa, Pironi arriscou tudo. Passou à frente, venceu o GP.
A vantagem, 0s366. O pódio, claro, foi dos mais amargos. No YouTube, há cenas tanto da prova como do pódio como de uma entrevista de Villeneuve: "Ele roubou minha vitória". Parágrafo trágico: nenhum dos dois terminou o campeonato. Villeneuve morreu no GP seguinte, Zolder. Pironi teve as pernas esmagadas em Hockenheim, passou por várias cirurgias e, quando preparava sua volta à F-1, em 1987, morreu numa corrida de lanchas offshore -observação graciosa, sua namorada deu à luz gêmeos algumas semanas depois e batizou-os Didier e Gilles.

 

A folhinha indicava 25 de abril de 2008. No paddock de Barcelona, ontem, um dos assuntos mais pungentes era o recorde de GPs, a ser alcançado por Barrichello no Canadá -e nunca na Turquia, como crê o piloto. Marca importante, mas com um quê de melancolia: é emblemático que o único recorde alcançado por Barrichello seja o de resistência. Marca que carrega uma mancha indelével. Barrichello deveria tirar da conta o GP da Áustria de 2002. Aquele em que engoliu a dignidade e jogou para o espaço a lição de Pironi.

fseixas@folhasp.com.br

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