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Mancini "bate de frente", mas cultiva imagem de sorrisos
Técnico muda finalista Santos com estilo que alia discurso conciliador com disciplina interna e autonomia sobre time
Autodidata, ele declara ter iniciado aprendizado com anotações sobre treinos, mas depois abriu mão delas para adotar estilo pessoal
RODRIGO MATTOS
ENVIADO ESPECIAL A SANTOS
Antevéspera da final do Paulista, Vagner Mancini caminha
e fala à frente dos jogadores
santistas, encostados a um tapume. Gesticula bastante: seus
gestos são suaves e não há gritos. Seus auxiliares também
têm voz na palestra.
Cerca de uma hora depois,
antes de sua entrevista, faz
brincadeiras e provoca os repórteres por conta de jogo entre a comissão técnica e jornalistas. É só sorrisos.
Essa é a cara do novo técnico
santista, que levou o time do sofrimento à decisão do Estadual.
Está longe, contudo, de ser sua
única face como treinador.
"Bater de frente é o que mais
fiz na vida", admitiu Mancini à
Folha, ao ser questionado se
era um conciliador.
Foi assim no Grêmio, quando
tentaram interferir em sua escalação. Não concordou e foi
demitido. Foi assim no Santos,
quando Fábio Costa e Fabiano
Eller brigaram no vestiário.
Ambos foram suspensos.
Só que Mancini não gosta
que essas questões cheguem ao
público. Prefere lidar com
transparência dentro do elenco
de atletas, mas tratar seus problemas internamente.
"Ele pegou um grupo totalmente rachado. E teve liderança. Nunca se altera. Pondera e é
sempre educado", disse o agente do treinador, Fábio Mello,
um dos membros do estafe formado por Mancini, apesar da
trajetória recente como técnico, iniciada em 2004, meio por
acaso, no Paulista de Jundiaí.
Mas, fora sua equipe própria,
Mancini tenta aprender com
toda a comissão técnica. Autodidata -não fez curso de educação física ou de técnico-,
procura entender nutrição, psicologia e preparação física. Faz
leituras e conversa sobre esses
temas antes de tomar decisões.
Periodicamente, faz medições físicas nos jogadores. Os
dados servem para barrações,
como no caso do meia Lúcio
Flávio. Até o artilheiro Kléber
Pereira ficou de fora, quando
não estava em forma.
Sua disciplina nos estudos
vem da época de jogador. Anotava o que cada um de seus técnicos fazia em cada treino. Já
pensava na carreira futura.
"Tinha aqueles papeizinhos e
depois rasguei tudo. Vi que tinha que ser do meu jeito. Até
porque, em cinco anos, os treinos já estavam todos superados", contou o técnico.
A preocupação com o físico
dos jogadores de Mancini se reflete em sua escalação. Tem
preferência por jogadores mais
jovens, com mais vigor e velocidade. Foi essa a restruturação
que promoveu no time santista.
Atletas fortes como Germano e Fabão conseguiram seu espaço. E jogadores novos como
Paulo Henrique, apelidado de
Ganso, e Neymar ganharam
chance entre os titulares.
Seus times tendem a ser
ofensivos, como o Vitória de
2008. A adaptação de atletas a
novas posições também é uma
constante: o corintiano Christian trocou a zaga pelo meio-
-campo pela suas mãos. Até hoje, o atleta é seu amigo.
Cultivar boas relações nos
clubes onde ficou é outra estratégia de Mancini. Cartolas de
Paulista, Vitória e Al-Nassr ainda o consultam sobre contratações e até novos técnicos.
No Santos, sempre troca
ideias com dirigentes antes de
tomar decisões sobre o time.
Mas a palavra final é sua, como
ao poupar reservas contra o
alagoano CSA. O time foi eliminado da Copa do Brasil, com
uma derrota, e Mancini levou
bronca de Marcelo Teixeira.
"No Santos, a diretoria não
exerce influência na escalação", garantiu o diretor de futebol santista, Adílson Durante,
antes da eliminação.
Em meio a cartolas e atletas,
o paulista Mancini equilibra-se
entre bater de frente e ser conciliador. Ao mesmo tempo,
preocupa-se com a imagem na
mídia -não gosta, por exemplo, de ser chamado de professor. "Aprendi tudo na marra."
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