São Paulo, domingo, 26 de abril de 2009

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Mancini "bate de frente", mas cultiva imagem de sorrisos

Técnico muda finalista Santos com estilo que alia discurso conciliador com disciplina interna e autonomia sobre time

Autodidata, ele declara ter iniciado aprendizado com anotações sobre treinos, mas depois abriu mão delas para adotar estilo pessoal


RODRIGO MATTOS
ENVIADO ESPECIAL A SANTOS

Antevéspera da final do Paulista, Vagner Mancini caminha e fala à frente dos jogadores santistas, encostados a um tapume. Gesticula bastante: seus gestos são suaves e não há gritos. Seus auxiliares também têm voz na palestra.
Cerca de uma hora depois, antes de sua entrevista, faz brincadeiras e provoca os repórteres por conta de jogo entre a comissão técnica e jornalistas. É só sorrisos.
Essa é a cara do novo técnico santista, que levou o time do sofrimento à decisão do Estadual. Está longe, contudo, de ser sua única face como treinador.
"Bater de frente é o que mais fiz na vida", admitiu Mancini à Folha, ao ser questionado se era um conciliador.
Foi assim no Grêmio, quando tentaram interferir em sua escalação. Não concordou e foi demitido. Foi assim no Santos, quando Fábio Costa e Fabiano Eller brigaram no vestiário. Ambos foram suspensos.
Só que Mancini não gosta que essas questões cheguem ao público. Prefere lidar com transparência dentro do elenco de atletas, mas tratar seus problemas internamente.
"Ele pegou um grupo totalmente rachado. E teve liderança. Nunca se altera. Pondera e é sempre educado", disse o agente do treinador, Fábio Mello, um dos membros do estafe formado por Mancini, apesar da trajetória recente como técnico, iniciada em 2004, meio por acaso, no Paulista de Jundiaí.
Mas, fora sua equipe própria, Mancini tenta aprender com toda a comissão técnica. Autodidata -não fez curso de educação física ou de técnico-, procura entender nutrição, psicologia e preparação física. Faz leituras e conversa sobre esses temas antes de tomar decisões.
Periodicamente, faz medições físicas nos jogadores. Os dados servem para barrações, como no caso do meia Lúcio Flávio. Até o artilheiro Kléber Pereira ficou de fora, quando não estava em forma.
Sua disciplina nos estudos vem da época de jogador. Anotava o que cada um de seus técnicos fazia em cada treino. Já pensava na carreira futura.
"Tinha aqueles papeizinhos e depois rasguei tudo. Vi que tinha que ser do meu jeito. Até porque, em cinco anos, os treinos já estavam todos superados", contou o técnico.
A preocupação com o físico dos jogadores de Mancini se reflete em sua escalação. Tem preferência por jogadores mais jovens, com mais vigor e velocidade. Foi essa a restruturação que promoveu no time santista.
Atletas fortes como Germano e Fabão conseguiram seu espaço. E jogadores novos como Paulo Henrique, apelidado de Ganso, e Neymar ganharam chance entre os titulares.
Seus times tendem a ser ofensivos, como o Vitória de 2008. A adaptação de atletas a novas posições também é uma constante: o corintiano Christian trocou a zaga pelo meio- -campo pela suas mãos. Até hoje, o atleta é seu amigo.
Cultivar boas relações nos clubes onde ficou é outra estratégia de Mancini. Cartolas de Paulista, Vitória e Al-Nassr ainda o consultam sobre contratações e até novos técnicos.
No Santos, sempre troca ideias com dirigentes antes de tomar decisões sobre o time. Mas a palavra final é sua, como ao poupar reservas contra o alagoano CSA. O time foi eliminado da Copa do Brasil, com uma derrota, e Mancini levou bronca de Marcelo Teixeira.
"No Santos, a diretoria não exerce influência na escalação", garantiu o diretor de futebol santista, Adílson Durante, antes da eliminação.
Em meio a cartolas e atletas, o paulista Mancini equilibra-se entre bater de frente e ser conciliador. Ao mesmo tempo, preocupa-se com a imagem na mídia -não gosta, por exemplo, de ser chamado de professor. "Aprendi tudo na marra."


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