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ENTREVISTA DA 2ª - LUCIMAR DA SILVA FERREIRA, LÚCIO
Opção religiosa não divide o grupo, afirma o capitão da seleção brasileira
Zagueiro da Inter de Milão diz que, como líder da equipe de Dunga, seu papel é mais importante na concentração e nos treinamentos do que dentro de campo
NA COPA da África do Sul, o brasiliense Lúcio, 31, será o primeiro zagueiro a disputar três Mundiais como titular da seleção
brasileira. Mas, se era coadjuvante em
2002 e 2006, agora ostenta o título de capitão do Brasil e está perto de disputar a final da Copa dos Campeões. Na semana passada, sua equipe parou o Barcelona de Messi e pode até perder o jogo no Camp Nou,
na quarta-feira, para avançar à decisão do interclubes.
PAULO COBOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Lúcio ainda é um dos principais nomes do movimento
evangélico no futebol. Em entrevista à Folha, por telefone,
de Milão, o zagueiro refutou
qualquer insinuação de que a
opção religiosa possa interferir
no ambiente do time de Dunga.
Ainda disse que ele e os outros
jogadores da seleção vão conseguir uma forma de "mostrar
sua fé" nos gramados, apesar
de a Fifa ter proibido camisetas
com mensagens religiosas.
FOLHA - A Inter, só com sul-americanos na defesa, parou o Messi no
primeiro jogo das semifinais da Copa dos Campeões. Esse é o segredo
para anular o argentino?
LÚCIO
- Um dos principais fatores, que fala mais alto, é a marcação em conjunto. Na Inter,
todo mundo ajudou, o time é
compacto. Qualquer atacante
encontra dificuldade.
FOLHA - Você vai ser o primeiro zagueiro titular em três Copas seguidas. A que atribui essa longevidade?
LÚCIO
- A primeira Copa foi a
mais difícil. Era novo, não tinha
tanta experiência de seleção e
Europa. A segunda foi melhor,
apesar de não ganharmos.
FOLHA - Você acompanhou o Cafu
como capitão em 2002 e 2006. Qual
é seu estilo como capitão? É diferente do de Cafu ou se espelha no dele?
LÚCIO
- O meu estilo é bem particular. Sou tranquilo, humilde,
não me preocupo com o status
de capitão. Meu papel é passar
coisas boas para os outros jogadores no momento certo, dentro de campo, no dia a dia, nos
treinos. Tenho que fazer todo
mundo se sentir bem, quem joga ou está na reserva. Meu objetivo é manter todo mundo satisfeito, com o pensamento de
que é possível ganhar títulos.
FOLHA - Então o papel do capitão é
mais importante fora de campo, na
concentração?
LÚCIO
- Eu acredito que sim. O
mais importante é o trabalho
na concentração, no dia a dia,
nos treinamentos. Dentro de
campo, você vai jogar como os
outros. Você tem os mesmos
deveres, precisa se empenhar e
se dedicar. É claro que, às vezes,
você precisa se impor, alertar
os colegas. Mas o principal é o
convívio no dia a dia.
FOLHA - Que liberdade o Dunga lhe
dá para cobrar os companheiros?
LÚCIO
- Ele nunca comentou
sobre isso, mas no dia a dia a liberdade que temos é total. Da
mesma forma que posso tentar
alertar alguém, passar uma informação, também dou toda a
liberdade para ele fazer o mesmo comigo. O respeito tem de
ser de ambas as partes. Nunca
vou agredir ninguém.
FOLHA - Quem serão os principais
concorrentes do Brasil na Copa
LÚCIO
- As seleções tradicionais, a Inglaterra, a Espanha. A
Itália não está jogando bem,
mas é a atual campeã. A Argentina não fez uma boa eliminatória, mas sempre é perigosa.
FOLHA - O time está mais preparado agora do que em 2006?
LÚCIO
- É difícil dizer isso agora. Mas é claro que mentalmente nossa equipe está tendo uma
evolução muito grande. Todo
mundo tem o pé no chão.
FOLHA - O Dunga quer privacidade
total na Copa. Você é a favor?
LÚCIO
- A Copa do Mundo é
uma competição muito curta. O
que você puder fazer para se
concentrar é preciso ser feito.
Todo mundo vai estar desgastado, porque é final de temporada. É um preço que tem de
pagar. Acho correto. É o sonho
de todo mundo. Temos que fazer o melhor que pudermos.
FOLHA - Você está de acordo que
Weggis [a concentração da seleção
antes da Copa de 2006] foi um erro?
LÚCIO
- Poderia ter sido diferente. Não conseguimos fazer o
melhor que poderia ser feito
naquele momento. Os treinos
pareciam mais um show, com a
venda de ingressos. Isso tira o
foco do objetivo de todo mundo. Não diria que foi um erro,
mas que poderia ter sido bem
melhor, isso sim.
FOLHA - A Fifa proibiu camisetas
com mensagens religiosas, como as
que você tem o hábito de usar. Qual
sua opinião sobre isso?
LÚCIO
- Vou respeitar, até porque a Fifa é a instituição maior
do futebol, que tem regras que
precisam ser respeitadas. Mas,
com certeza, a forma de agir
dentro do campo não vai mudar. Vai ter um momento certo
para a gente passar nossa mensagem [religiosa].
FOLHA - Acha que existe algum tipo de perseguição religiosa?
LÚCIO
- Não sei, não tenho certeza absoluta. Talvez possa ser
alguma disputa religiosa. Pode
ser para prevenir alguma coisa.
Mas isso não vai tirar nossa alegria de comemorar e agradecer
a Deus da melhor forma possível. Com certeza vai ter outra
forma de mostrar a nossa fé.
FOLHA - Esse grupo da seleção tem
muitos atletas religiosos. Vocês
usam a religião de alguma forma no
dia a dia do time?
LÚCIO
- As conversas na concentração não são voltadas em
tudo para a religião. A gente se
entrosa bem. Dentro da seleção, o relacionamento é bom,
independentemente de ser
evangélico. Não existe separação do grupo por religião. Em
2006, pessoas levantaram isso,
que o grupo estava rachado entre os evangélicos e os outros.
Nunca existiu isso. Gente que
não conhecia o grupo começou
a falar coisas que não existiam.
Só quando há oportunidade,
como nos dias de folga, fazemos
reuniões dos evangélicos.
FOLHA - Quando parar de jogar,
pensa em seguir no futebol ou fazer
algum trabalho religioso?
LÚCIO
- Agora não penso em
nada disso. Ainda tenho alguns
anos de futebol. Não tenho
ideia nítida do futuro.
FOLHA - Já se imaginou, como um
zagueiro, sendo o melhor jogador
de uma Copa do Mundo?
LÚCIO
- É difícil. A gente comenta que goleiros, zagueiros
são posições que levam desvantagem no geral. Se um zagueiro
tira nove bolas e perde uma, seu
time perde e você não é bom. Se
o atacante erra nove bolas, mas
acerta uma e faz um gol, vira o
herói. Eu sonho ser o melhor de
uma Copa, mas o meu principal
objetivo é ajudar a seleção.
FOLHA - O grupo está fechado ou
tem lugar para alguém novo?
LÚCIO
- Eu não tenho como
responder a isso. Cabe ao treinador. Mas é claro que faltam
poucos dias para a convocação
[em 11 de maio]. O Dunga já tem
uma base, que está sendo mantida há um bom tempo. Mas é
claro que pode haver surpresa.
FOLHA - Já viu o Neymar jogar?
LÚCIO
- Vi alguns jogos do Santos. É um jovem que está despontando muito bem, assim como a equipe do Santos. Mas, para mim, é difícil dizer alguma
coisa sobre ele. É uma decisão
do treinador. Existem jogadores que o Dunga já conhece, que
ele precisa para uma função específica. Ele tem o motivo da
escolha de cada jogador.
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