São Paulo, segunda-feira, 26 de abril de 2010

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ENTREVISTA DA 2ª - LUCIMAR DA SILVA FERREIRA, LÚCIO

Opção religiosa não divide o grupo, afirma o capitão da seleção brasileira

Zagueiro da Inter de Milão diz que, como líder da equipe de Dunga, seu papel é mais importante na concentração e nos treinamentos do que dentro de campo

NA COPA da África do Sul, o brasiliense Lúcio, 31, será o primeiro zagueiro a disputar três Mundiais como titular da seleção brasileira. Mas, se era coadjuvante em 2002 e 2006, agora ostenta o título de capitão do Brasil e está perto de disputar a final da Copa dos Campeões. Na semana passada, sua equipe parou o Barcelona de Messi e pode até perder o jogo no Camp Nou, na quarta-feira, para avançar à decisão do interclubes.

PAULO COBOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Lúcio ainda é um dos principais nomes do movimento evangélico no futebol. Em entrevista à Folha, por telefone, de Milão, o zagueiro refutou qualquer insinuação de que a opção religiosa possa interferir no ambiente do time de Dunga. Ainda disse que ele e os outros jogadores da seleção vão conseguir uma forma de "mostrar sua fé" nos gramados, apesar de a Fifa ter proibido camisetas com mensagens religiosas.

 

FOLHA - A Inter, só com sul-americanos na defesa, parou o Messi no primeiro jogo das semifinais da Copa dos Campeões. Esse é o segredo para anular o argentino?
LÚCIO
- Um dos principais fatores, que fala mais alto, é a marcação em conjunto. Na Inter, todo mundo ajudou, o time é compacto. Qualquer atacante encontra dificuldade.

FOLHA - Você vai ser o primeiro zagueiro titular em três Copas seguidas. A que atribui essa longevidade?
LÚCIO
- A primeira Copa foi a mais difícil. Era novo, não tinha tanta experiência de seleção e Europa. A segunda foi melhor, apesar de não ganharmos.

FOLHA - Você acompanhou o Cafu como capitão em 2002 e 2006. Qual é seu estilo como capitão? É diferente do de Cafu ou se espelha no dele?
LÚCIO
- O meu estilo é bem particular. Sou tranquilo, humilde, não me preocupo com o status de capitão. Meu papel é passar coisas boas para os outros jogadores no momento certo, dentro de campo, no dia a dia, nos treinos. Tenho que fazer todo mundo se sentir bem, quem joga ou está na reserva. Meu objetivo é manter todo mundo satisfeito, com o pensamento de que é possível ganhar títulos.

FOLHA - Então o papel do capitão é mais importante fora de campo, na concentração?
LÚCIO
- Eu acredito que sim. O mais importante é o trabalho na concentração, no dia a dia, nos treinamentos. Dentro de campo, você vai jogar como os outros. Você tem os mesmos deveres, precisa se empenhar e se dedicar. É claro que, às vezes, você precisa se impor, alertar os colegas. Mas o principal é o convívio no dia a dia.

FOLHA - Que liberdade o Dunga lhe dá para cobrar os companheiros?
LÚCIO
- Ele nunca comentou sobre isso, mas no dia a dia a liberdade que temos é total. Da mesma forma que posso tentar alertar alguém, passar uma informação, também dou toda a liberdade para ele fazer o mesmo comigo. O respeito tem de ser de ambas as partes. Nunca vou agredir ninguém.

FOLHA - Quem serão os principais concorrentes do Brasil na Copa
LÚCIO
- As seleções tradicionais, a Inglaterra, a Espanha. A Itália não está jogando bem, mas é a atual campeã. A Argentina não fez uma boa eliminatória, mas sempre é perigosa.

FOLHA - O time está mais preparado agora do que em 2006?
LÚCIO
- É difícil dizer isso agora. Mas é claro que mentalmente nossa equipe está tendo uma evolução muito grande. Todo mundo tem o pé no chão.

FOLHA - O Dunga quer privacidade total na Copa. Você é a favor?
LÚCIO
- A Copa do Mundo é uma competição muito curta. O que você puder fazer para se concentrar é preciso ser feito. Todo mundo vai estar desgastado, porque é final de temporada. É um preço que tem de pagar. Acho correto. É o sonho de todo mundo. Temos que fazer o melhor que pudermos.

FOLHA - Você está de acordo que Weggis [a concentração da seleção antes da Copa de 2006] foi um erro?
LÚCIO
- Poderia ter sido diferente. Não conseguimos fazer o melhor que poderia ser feito naquele momento. Os treinos pareciam mais um show, com a venda de ingressos. Isso tira o foco do objetivo de todo mundo. Não diria que foi um erro, mas que poderia ter sido bem melhor, isso sim.

FOLHA - A Fifa proibiu camisetas com mensagens religiosas, como as que você tem o hábito de usar. Qual sua opinião sobre isso?
LÚCIO
- Vou respeitar, até porque a Fifa é a instituição maior do futebol, que tem regras que precisam ser respeitadas. Mas, com certeza, a forma de agir dentro do campo não vai mudar. Vai ter um momento certo para a gente passar nossa mensagem [religiosa].

FOLHA - Acha que existe algum tipo de perseguição religiosa?
LÚCIO
- Não sei, não tenho certeza absoluta. Talvez possa ser alguma disputa religiosa. Pode ser para prevenir alguma coisa. Mas isso não vai tirar nossa alegria de comemorar e agradecer a Deus da melhor forma possível. Com certeza vai ter outra forma de mostrar a nossa fé.

FOLHA - Esse grupo da seleção tem muitos atletas religiosos. Vocês usam a religião de alguma forma no dia a dia do time?
LÚCIO
- As conversas na concentração não são voltadas em tudo para a religião. A gente se entrosa bem. Dentro da seleção, o relacionamento é bom, independentemente de ser evangélico. Não existe separação do grupo por religião. Em 2006, pessoas levantaram isso, que o grupo estava rachado entre os evangélicos e os outros. Nunca existiu isso. Gente que não conhecia o grupo começou a falar coisas que não existiam. Só quando há oportunidade, como nos dias de folga, fazemos reuniões dos evangélicos.

FOLHA - Quando parar de jogar, pensa em seguir no futebol ou fazer algum trabalho religioso?
LÚCIO
- Agora não penso em nada disso. Ainda tenho alguns anos de futebol. Não tenho ideia nítida do futuro.

FOLHA - Já se imaginou, como um zagueiro, sendo o melhor jogador de uma Copa do Mundo?
LÚCIO
- É difícil. A gente comenta que goleiros, zagueiros são posições que levam desvantagem no geral. Se um zagueiro tira nove bolas e perde uma, seu time perde e você não é bom. Se o atacante erra nove bolas, mas acerta uma e faz um gol, vira o herói. Eu sonho ser o melhor de uma Copa, mas o meu principal objetivo é ajudar a seleção.

FOLHA - O grupo está fechado ou tem lugar para alguém novo?
LÚCIO
- Eu não tenho como responder a isso. Cabe ao treinador. Mas é claro que faltam poucos dias para a convocação [em 11 de maio]. O Dunga já tem uma base, que está sendo mantida há um bom tempo. Mas é claro que pode haver surpresa.

FOLHA - Já viu o Neymar jogar?
LÚCIO
- Vi alguns jogos do Santos. É um jovem que está despontando muito bem, assim como a equipe do Santos. Mas, para mim, é difícil dizer alguma coisa sobre ele. É uma decisão do treinador. Existem jogadores que o Dunga já conhece, que ele precisa para uma função específica. Ele tem o motivo da escolha de cada jogador.


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