São Paulo, terça-feira, 26 de abril de 2011

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LOS GRINGOS PAUL DOYLE

O medo britânico


Mais uma vez fora da luta pelo título do Inglês, talvez falte ao Arsenal um toque escocês


ENQUANTO A maioria dos ingleses se prepara para o casamento real, a torcida do Arsenal conduz um funeral. A disputa do título foi encerrada prematuramente, e os torcedores reclamam que faltam ao time compostura, coragem, um goleiro sólido e líderes na defesa e no meio-campo. Mas Arsène Wenger não terá de ouvir queixas de que o fracasso se deve à falta de jogadores ingleses: a fragilidade de Theo Walcott e Jack Wilshere significa que essa crítica deve ser relegada à mesma cesta de lixo que o goleiro Manuel Almunia. Resta mencionar a possibilidade de que talvez falte ao Arsenal um toque escocês.
A Escócia tem 5 milhões de habitantes, ante os 52 milhões da Inglaterra, mas seis dos 20 times da Premier League têm técnicos escoceses (sete, se incluirmos o Aston Villa, dirigido por Gary McAllister na convalescença de Gérard Houllier). Trata-se da nacionalidade com o mais técnicos no Inglês. Por que?
Os táticos escoceses sempre exerceram forte influência sobre o inconsciente inglês. Os técnicos escoceses são considerados mais inventivos que os ingleses. Nos primeiros 13 anos de futebol internacional, a Inglaterra só derrotou a Escócia duas vezes, contra nove vitórias escocesas.
Quando a Inglaterra criou sua liga de futebol profissional, em 1885, os times começaram a recrutar ao norte da fronteira. Primeira equipe a vencer o Inglês e a Copa da Inglaterra no mesmo ano, o Preston North End, tinha o apelido "The Scottish Professors", porque sete atletas eram escoceses e seu estilo fluente de jogo servia como educação para os ingleses. A primeira equipe britânica a vencer a Copa dos Campeões foi o Glasgow Celtic, em 1967. O técnico que fez do Liverpool uma potência europeia, nos anos 70, foi o escocês Bill Shankly.
E há o estereótipo. Os ingleses têm medo visceral dos escoceses, a quem veem como uma espécie agressiva. Um detalhe revelador é que a expressão inglesa "a Glasgow kiss" quer dizer "cabeçada" e não "beijo de Glasgow". O grave sotaque escocês soa ligeiramente demoníaco aos ouvidos ingleses.
Vinda de um escocês, até a mais simples das instruções táticas ganha tom de ameaça. Por isso, os cartolas ingleses creem que os jogadores não terão coragem de deixar um técnico escocês na mão. O exemplo de Sir Alex Ferguson, que parece destinado a conduzir o Manchester United a um novo título inglês e talvez à conquista da Copa dos Campeões, torna difícil discordar.

PAUL DOYLE é redator-chefe de futebol do jornal britânico "The Guardian"

Tradução de PAULO MIGLIACCI



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