São Paulo, domingo, 26 de abril de 1998

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FUTEBOL
Líder da Série A-2 do Paulista, clube de Bauru não tem receitas financeiras e vive do dinheiro de empresários
Endividado, Noroeste sobrevive de favor

JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
da Reportagem Local

De um clube atolado em dívidas, com o estádio e a sede social abandonados, sem entrada de dinheiro e, para completar, obrigado a se desfazer de seus principais jogadores, à liderança da Série A-2 do Paulista-98, o Noroeste tem sobrevivido graças à ajuda financeira de um grupo de empresários.
Em outubro do ano passado, Damião Garcia, proprietário da Kalunga, distribuidora de material escolar e para escritório, e candidato a vice-presidente numa das chapas de oposição do Corinthians, assumiu a "presidência de honra" do clube de Bauru.
Como presidente, foi empossado Archivaldo Reche, distribuidor de papéis para o setor gráfico e amigo de Garcia.
Os dois e Cláudio Amantini, presidente do Conselho do clube, contrataram o técnico Luís Carlos Martins e montaram uma equipe cuja folha salarial está na casa dos R$ 120 mil.
O problema, porém, é que, apesar de ter chegado à liderança da Série A-2, cujo campeão subirá para a Série A-1 do Paulista-99, equivalente à primeira divisão, o clube continua sem receitas.
"Nossa idéia era assumir apenas o departamento de futebol, mas, como isto não foi possível, temos que administrar as dívidas passadas", lamentou Reche.
"Até hoje, não ficamos com nenhuma de nossas rendas no Paulista. Em todo jogo do Noroeste, aparece um oficial de Justiça e nos confisca a arrecadação", explicou, referindo-se às dívidas trabalhistas do clube de Bauru.
"O Noroeste não tem receitas, não tem nem um sócio sequer e ainda não tem credibilidade. Com o título da Série A-2, queremos começar a resgatá-la."
Garcia concorda com ele. "É difícil administrar um clube que não tem entrada de recursos. Até os R$ 10 mil que a Federação Paulista nos dá por mando de jogo somos obrigados a devolver com gastos com catracas eletrônicas, juízes etc., a cada jogo que fazemos. A federação dá com uma mão e tira com a outra."
Para recuperar o que tem colocado no clube, Damião Garcia diz apostar no "bom senso do empresariado de Bauru".
"Nossa idéia é motivar os empresários de Bauru, mobilizando-os a investir no clube. Quem conhecia Bragança Paulista antes do Bragantino, ou Matão antes da Matonense disputar o campeonato? Um Noroeste forte vai enriquecer Bauru e adjacências."
Se o time subir para a Série A-1 do Paulista, Garcia pretende começar a melhorar a parte social. "Só assim poderemos começar a atrair sócios para o clube. Hoje, com a sede abandonada, não temos uma pessoa que contribua conosco."
"E a boa campanha pode nos ajudar a conseguir patrocínio na camisa, que é outra coisa que também não temos."
A Kalunga, que já patrocinou o Corinthians e o próprio Noroeste, nos anos 80, por pedido dos filhos de Garcia, não mais patrocinará clubes de futebol.
Da cama do hospital
Outra dificuldade que Garcia e Reche enfrentam é o fato de administrarem um clube em Bauru e ambos morarem em São Paulo.
"Não é fácil controlar o que acontece no clube ficando em São Paulo", disse Garcia, que é de Bauru, mas há anos mora na capital paulista. "A saída é nos revezarmos, ficando entre as duas cidades."
Até o início do mês passado, o dirigente ia duas vezes por semana a Bauru. Numa das viagens, seu motorista capotou o carro e, há cinco semanas, Garcia encontra-se hospitalizado.
"Na semana que vem devo ter alta, mas nesse tempo todo tive de ficar me inteirando do que acontece no Noroeste pelo telefone, de uma cama de hospital."



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