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FUTEBOL
Professoras, amantes e reservas
JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA
Q uando nos deparamos com
uma novidade, nossos olhos
se arregalam, nosso coração bate
mais rápido e nosso cérebro ferve
na ebulição das sinapses.
Por outro lado, a novidade nos
deixa apreensivos. O que era certo
e previsível não está mais lá, e não
podemos dizer com certeza se o
novo vem para bem ou para mal.
Para muitos homens, a primeira experiência dessa natureza é a
aula da professora substituta. Geralmente mais nova que a titular,
ela costumava ser bonita e docemente insegura.
Lembro-me de sentir satisfação
quando minha professora titular
faltava e a frágil Maria da Graça
vinha nos dar aula. Melhor ainda
quando ela se aproximava e, com
aquele seu perfume inebriante,
tentava ensinar-me pela centésima vez a tabuada do sete. Certa
vez ela permaneceu conosco por
meses, e lembro-me que fiquei desolado quando ela partiu e dona
Eusébia e suas verrugas reassumiram o posto. E acredito que as
meninas sentiam algo semelhante quando chegava um novo professor de educação física.
Com os, ou as, amantes, acontece a mesma coisa. Eles quebram a
rotina, trazem novidades, novos
cheiros, novos modos de fazer as
coisas, não falam sobre contas de
supermercado e problemas de
trabalho. Tanto que muitos tornam-se titulares (o que acho um
erro, porque assim muitas vezes o
que era uma doce exceção se
transforma numa amarga regra).
Pois bem, a rodada desse fim-de-semana do Paulista colocará
em campo quatro substitutos,
quatro amantes.
Posso estar enganado, mas nesse contexto o Palmeiras é o que
tem menos a perder. Rogério já
jogou tantas vezes e em posições
tão diferentes dentro de campo
que nem cabe falar de dificuldades de entrosamento. Apesar de
não ter a categoria e a liderança
de César Sampaio, ele faz o perfil
gladiador (aliás, um filmãozinho) e marca com obstinação.
Talvez seja uma mudança pequena num time que é, afinal de contas, mais guerreiro que técnico.
O mesmo vale para o Santos, a
julgar pelo jogo contra o Juventude. A falta de ritmo de jogo levantava um temor: seria Fábio Costa
um goleiro sujeito a chuvas e trovoadas, bem ao contrário do seguro Carlos Germano? Não foi o
que aconteceu: ele atuou com firmeza, mostrou agilidade e, tirante um ou outro cruzamento afastado com socos, esteve bem.
No Corinthians, Maurício mais
uma vez provou que é confiável.
Ele não faz o tipo milagreiro, como Dida, mas os corintianos cardíacos podem assistir ao jogo
tranquilamente. Ele esteve firme
contra o Galo e quase defendeu o
pênalti de Guilherme. É certo que
Dida faz falta, até pelo medo que
já inspira nos atacantes, mas
Maurício não deixa a desejar.
E há finalmente o São Paulo,
que terá Evair no lugar de França. Teoricamente, França, caso
não consiga entrar em campo, seria o maior desfalque entre os finalistas. Mas Evair é um substituto que todos gostaríamos de ter
em nosso time. Já era tido como
veterano no ano passado e fez
memoráveis jogos pelo Palmeiras.
Agora no tricolor, quando se esperava uma caminhada digna
em direção à aposentadoria, com
entradinhas no final do segundo
tempo e nada mais, ele surpreende, como fez anteontem com dois
gols de raça e oportunismo.
Houve um tempo em que a falta
de um titular significava um abalo para os times, mas hoje, com
bancos tão qualificados, não há
mais o que temer. Os substitutos
dão tanta alegria como as longínquas professoras substitutas. Ou
como os amantes.
Duas boas dicas de leitura para
os futebólogos: uma é o livro "O
Nome do Jogo", editoras Palmaringa e Sagra Luzatto, uma coletânea de textos de Ruy Carlos Ostermann, um dos raros escritores
gaúchos que é lido tanto por gremistas quanto por colorados.
A outra é "Imigração e Futebol:
o caso Palestra Itália", de José Renato de Campos Araújo, editora
Sumaré, que conta a história do
Palestra dum ponto de vista sociológico. Diferentemente dos livros que contam a vida dos clubes, essa não é uma obra laudatória, e sua intenção é mostrar a integração do italiano na vida paulistana por meio do clube.
E-mail torero@uol.com.br
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