São Paulo, sexta-feira, 26 de maio de 2000


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FUTEBOL

Professoras, amantes e reservas

JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA

Q uando nos deparamos com uma novidade, nossos olhos se arregalam, nosso coração bate mais rápido e nosso cérebro ferve na ebulição das sinapses.
Por outro lado, a novidade nos deixa apreensivos. O que era certo e previsível não está mais lá, e não podemos dizer com certeza se o novo vem para bem ou para mal.
Para muitos homens, a primeira experiência dessa natureza é a aula da professora substituta. Geralmente mais nova que a titular, ela costumava ser bonita e docemente insegura.
Lembro-me de sentir satisfação quando minha professora titular faltava e a frágil Maria da Graça vinha nos dar aula. Melhor ainda quando ela se aproximava e, com aquele seu perfume inebriante, tentava ensinar-me pela centésima vez a tabuada do sete. Certa vez ela permaneceu conosco por meses, e lembro-me que fiquei desolado quando ela partiu e dona Eusébia e suas verrugas reassumiram o posto. E acredito que as meninas sentiam algo semelhante quando chegava um novo professor de educação física.
Com os, ou as, amantes, acontece a mesma coisa. Eles quebram a rotina, trazem novidades, novos cheiros, novos modos de fazer as coisas, não falam sobre contas de supermercado e problemas de trabalho. Tanto que muitos tornam-se titulares (o que acho um erro, porque assim muitas vezes o que era uma doce exceção se transforma numa amarga regra).
Pois bem, a rodada desse fim-de-semana do Paulista colocará em campo quatro substitutos, quatro amantes.
Posso estar enganado, mas nesse contexto o Palmeiras é o que tem menos a perder. Rogério já jogou tantas vezes e em posições tão diferentes dentro de campo que nem cabe falar de dificuldades de entrosamento. Apesar de não ter a categoria e a liderança de César Sampaio, ele faz o perfil gladiador (aliás, um filmãozinho) e marca com obstinação. Talvez seja uma mudança pequena num time que é, afinal de contas, mais guerreiro que técnico.
O mesmo vale para o Santos, a julgar pelo jogo contra o Juventude. A falta de ritmo de jogo levantava um temor: seria Fábio Costa um goleiro sujeito a chuvas e trovoadas, bem ao contrário do seguro Carlos Germano? Não foi o que aconteceu: ele atuou com firmeza, mostrou agilidade e, tirante um ou outro cruzamento afastado com socos, esteve bem.
No Corinthians, Maurício mais uma vez provou que é confiável. Ele não faz o tipo milagreiro, como Dida, mas os corintianos cardíacos podem assistir ao jogo tranquilamente. Ele esteve firme contra o Galo e quase defendeu o pênalti de Guilherme. É certo que Dida faz falta, até pelo medo que já inspira nos atacantes, mas Maurício não deixa a desejar.
E há finalmente o São Paulo, que terá Evair no lugar de França. Teoricamente, França, caso não consiga entrar em campo, seria o maior desfalque entre os finalistas. Mas Evair é um substituto que todos gostaríamos de ter em nosso time. Já era tido como veterano no ano passado e fez memoráveis jogos pelo Palmeiras. Agora no tricolor, quando se esperava uma caminhada digna em direção à aposentadoria, com entradinhas no final do segundo tempo e nada mais, ele surpreende, como fez anteontem com dois gols de raça e oportunismo.
Houve um tempo em que a falta de um titular significava um abalo para os times, mas hoje, com bancos tão qualificados, não há mais o que temer. Os substitutos dão tanta alegria como as longínquas professoras substitutas. Ou como os amantes. Duas boas dicas de leitura para os futebólogos: uma é o livro "O Nome do Jogo", editoras Palmaringa e Sagra Luzatto, uma coletânea de textos de Ruy Carlos Ostermann, um dos raros escritores gaúchos que é lido tanto por gremistas quanto por colorados.
A outra é "Imigração e Futebol: o caso Palestra Itália", de José Renato de Campos Araújo, editora Sumaré, que conta a história do Palestra dum ponto de vista sociológico. Diferentemente dos livros que contam a vida dos clubes, essa não é uma obra laudatória, e sua intenção é mostrar a integração do italiano na vida paulistana por meio do clube.


E-mail torero@uol.com.br




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