São Paulo, domingo, 26 de maio de 2002

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Copa 2002

Na cidade sul-coreana que abrigará a seleção na primeira fase da Copa do Mundo vivem oito famílias brasileiras
"Ulsan tupiniquim" espera time de Scolari

FERNANDO MELLO
ENVIADO ESPECIAL A ULSAN

A seleção de Luiz Felipe Scolari será calorosamente recebida por toda a comunidade brasileira de Ulsan, hoje, a partir do momento em que desembarcar na cidade.
A "multidão" de fãs que planeja recepcionar a seleção no Hyundai Hotel, o QG da primeira fase da Copa, é composta por todos os 21 brasileiros que moram na cidade sul-coreana, a 400 km de Seul.
Fazem parte do exército brasileiro na cidade oito famílias -oito homens, seis mulheres e sete crianças/adolescentes.
Ontem pela manhã houve duas baixas: o atacante Arinélson, ex-Santos, voltou com sua mulher para o Brasil depois de ver rescindido seu contrato com o Hyundai Horang-i, time da multinacional coreana que é dona de boa parte de Ulsan -tem o maior estaleiro do mundo, rede de shoppings, construtoras e a maior fábrica de automóveis do país.
Um de seus proprietários, Chung Mong-Joon, foi um dos principais articuladores da vinda do Brasil para Ulsan.
Vice-presidente da Fifa, Mong-Joon é um dos homens mais ricos da Coréia do Sul e fez lobby com Ricardo Teixeira, presidente da CBF, para trazer o time de Scolari para sua cidade.
A notícia de que a seleção viria para Ulsan foi festejada pelos brasileiros daqui. Os mais excitados são três atletas que atuam no Horang-i, vice da Copa Adidas, torneio nacional realizado em maio, e sexto colocado na K-League, a liga nacional da Coréia.
Cléber, 33, ex-zagueiro do CSA-AL, é o mais experiente da equipe. Veio para Ulsan em janeiro de 2001, ao lado de Marquinhos, 25, meia do América-RN, e Paulinho, 25, ex-atacante do Joinville e vice-artilheiro da última K-League, com um total de 11 gols.
"Perdi a artilharia para o Sandro [do Samsung" no fim do campeonato, porque tive que operar o púbis", afirmou Paulinho.
Para se comunicar com os companheiros coreanos e com o técnico, os jogadores brasileiros contam com a ajuda da tradutora Lee Mao-soon, que participa de todas as atividades do time, ficando até no banco durante as partidas.
O contrato dos três com o time da Hyundai expira no fim do ano. E todos, sem exceção, expressam o desejo de continuar na Coréia.
"Gosto daqui. Quero renovar por mais dois anos e encerrar a carreira em Ulsan", diz Cléber.
O sentimento de gratidão à Coréia é visto também nos demais integrantes da comunidade brasileira. Os outros homens do exército tupiniquim na cidade trabalham nas indústrias naval e petrolífera. Todos são profissionais graduados e têm uma vida financeira aparentemente boa, com suas casas e gastos com educação dos filhos custeados pelas multinacionais a que são ligados.
Os brasileiros que não têm ligação com o futebol moram em um condomínio para estrangeiros, a 1 km do hotel da seleção.
Anteontem à noite, promoveram com italianos, franceses, ingleses, noruegueses, indianos e representantes de outros países uma festa de celebração à Copa.
O mais antigo em Ulsan é o engenheiro Marcus Moura, que chegou à Coréia em 1996.
Carioca e torcedor do Fluminense, ele já conseguiu ingressos para o único jogo da seleção brasileira na cidade, a estréia contra a Turquia, no próximo dia 3.
"A vida aqui é boa, as pessoas são gentis. Tenho saudade do Brasil, mas estou bem em Ulsan", afirma Moura, casado com uma brasileira e pai de dois filhos -o mais velho, Rodrigo, 18, mora no Havaí (EUA) e vem para Ulsan no período da Copa do Mundo com cinco amigos brasileiros.
A maior dificuldade apontada pelos brasileiros para adaptação na Coréia é a língua e a comida. "É tudo apimentado, mas a gente se acostuma. Agora, nem pensar em aprender as letrinhas daqui. Em casa, só sei apertar os botões de ligar e desligar do microondas", diz o baiano Thales Fleming Lima, 38, engenheiro da Hyundai, há dois anos em Ulsan. Lima é casado com Regiana, 27, e pai de duas filhas, Raquel, 6, e Esther, 3, também brasileiras.
Andre de Francesco, 47, também engenheiro naval, mora sozinho em Ulsan. "A pior coisa é ficar longe das minhas filhas, da minha mulher. Até que gostaria de viver no Brasil, mas é difícil alguma empresa dar oportunidade para alguém da minha idade. Apesar da distância, posso dizer que sou feliz aqui", afirma.
Mas é a mulher de Lima, Regiana, que montou um curso de português na cidade, quem melhor sintetiza o que sentem os brasileiros que vivem em Ulsan.
"Só tenho a agradecer aos coreanos. Sempre nos trataram muito bem. O segredo é um só: você tem que viver sem preconceito, saber respeitar a cultura alheia e aproveitar. Se você abrir os braços para o país, o país abre os braços para você."


Colaborou Fábio Victor, enviado especial a Kuala Lumpur

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