São Paulo, domingo, 26 de maio de 2002

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Copa 2002

Jogando torneio em casa, co-anfitrião apresenta mudanças no visual e costumes orientais, reflexo da globalização

No oriente, Japão se fantasia de ocidente

JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
ENVIADO ESPECIAL A YOKOHAMA

Na primeira Copa em solo asiático, um dos co-anfitriões, o Japão, justamente o país que abrigará a final do torneio, colocará em campo uma "seleção do ocidente". Não só pelo visual, mas também pelos costumes.
Como disse o técnico Philippe Troussier, 47, francês que comanda a seleção japonesa, "é resultado da globalização".
"O oriente se ocidentalizou, o que pode ter aspectos positivos, mas também tem os negativos. O mundo não pode viver de um pensamento único", afirmou o treinador à Folha, durante lançamento do livro "Passion" - "Paixão", em português-, sua autobiografia, que chegou às livrarias japonesas na semana passada.
O sinal da ocidentalização é claro. Está estampado no visual dos jogadores -dos 23 convocados por Troussier, pelo menos 12 estavam "loiros" ou "ruivos" na apresentação da equipe.
Para Troussier, boa parte deles escolheu o "new look" depois de passarem pelo futebol europeu, caso de Hidetoshi Nakata, a estrela da seleção, que joga pelo time do Parma, da Itália.
Mas, aparentemente, não se trata apenas disso. O sociólogo Shinji Kamikawa, 48, crítico de TV no Japão, diz que "o oriente parece perdido em muitos aspectos". "A influência não é só de quem vai ao exterior e volta, mas está em todos os lugares, principalmente na televisão. Parece que estamos desenvolvendo um complexo de inferioridade, de que aquilo que é falado em inglês é melhor, os costumes estrangeiros são".
Ele reclama do fato de os desenhos animados japoneses não apresentarem personagens com olhos puxados. "Só pode prejudicar o processo de identificação de nossas crianças, que começam a invejar os traços ocidentais."
Segundo Kamikawa, uma novela que faz sucesso no país- "Sakura"- trata justamente dessa questão. "Mostra uma garota [Elizabeth Sakura" da quarta geração [de descendente de japoneses" criada nos EUA e que, aos 23 anos de idade, vai estudar no Japão. É um choque cultural. A garota se percebe mais japonesa do que os próprios japoneses. Não há mais respeito aos velhos, não se pensa mais tanto no coletivo, muita coisa mudou", conta ele.
Quando se trata de futebol, no entanto, há pontos importantes, acredita Troussier. "Com a integração e o contato maior com o futebol europeu, os japoneses evoluíram muito", comentou o treinador, que após o Mundial deixará a seleção nacional.
O goleiro Yoshikatsu Kawaguchi, do Portsmouth, da Inglaterra, um dos que mantêm o cabelo moreno, embora bem espetado, acha que, de fato, o Japão evoluiu muito dentro do campo. Fora, porém, gosta de dizer que as coisas são diferentes e espera que continuem assim. "Aqui os torcedores são mais comportados. Eles vão aos jogos para se divertir. Raramente vaiam e não costumam brigar. Seria bom se os europeus copiassem nossas torcidas", comentou o atleta japonês.
Mas o maior sinal da ocidentalização da seleção japonesa talvez seja o meia-atacante Alex -ou Santos, como também é conhecido no Japão. Nascido no Paraná, ele se naturalizou japonês no final do ano passado para jogar a Copa pela seleção da casa, como já fez Wágner Lopes em 1998.
Mulato, Alex tem usado visual rastafári e pode virar sucesso no mundo da moda no Japão. Já recebeu convite para, depois do Mundial, participar de desfiles no país para a temporada de outono/inverno. Caso se destaque no torneio, pode virar uma celebridade. E seu cabelo um novo ícone da modernidade no Japão, fazendo frente às tintas "amarelas" que fazem a cabeça da moçada.


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