São Paulo, domingo, 26 de maio de 2002

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FUTEBOL

"Bem vindaõs"

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

O Brasil chega hoje a Ulsan, na Coréia do Sul, onde vai ficar durante toda a primeira fase da Copa do Mundo.
Os gentis entusiasmados coreanos esperam ansiosos pela seleção. Só não tiveram cuidado com as palavras. Numa importante avenida de Ulsan, há uma grande faixa de saudação aos brasileiros com os dizeres: "Bem vindaõs".
O novo estádio da cidade, o Ulsan Munsu, onde o Brasil fará o primeiro jogo, no dia 3, contra a Turquia, é maravilhoso. Há mais de 43 mil lugares, todos numerados com cadeiras de várias cores, e 276 assentos para deficientes. São 32 saídas do estádio, o que dá conforto e segurança aos torcedores. O gramado também é perfeito. Ao ver esses estádios, não só aqui mas também em todo o mundo, sinto vergonha dos estádios brasileiros.
A Comissão de Defesa dos Direitos dos Torcedores, criada recentemente no Brasil pelo Ministério do Esporte, precisa resolver rapidamente essa situação.
A cidade industrial de Ulsan é maior e mais cosmopolita do que eu imaginara. Parece uma boa cidade norte-americana e tem todos os recursos de um país de Primeiro Mundo.
No primeiro dia aqui em Ulsan, acordei muito cedo por causa do fuso horário e fui caminhar. Próximo do hotel, operários protestavam em frente ao imenso estaleiro da Hyundai. É a eterna luta entre o capital e o trabalho.
Ao lado do hotel, há um moderno hospital universitário com serviço de urgência, onde, se precisarem, os jogadores brasileiros serão atendidos. Ao ver os alunos e os jovens médicos entrarem no hospital, senti saudades dos meus tempos de professor de medicina. "A vida dá tantas voltas: a vida nem é da gente." (João Guimarães Rosa)

Contraditório Felipão
Em qualquer situação, diante de uma suposta verdade, há sempre argumentos diferentes, às vezes contrários, tão importantes e verdadeiros quanto os anteriores.
A verdade tem várias faces. Isso é ainda mais evidente quando está envolvido um personagem contraditório, passional, que desperta opiniões opostas e apaixonadas, como Felipão.
Podemos enxergar o técnico brasileiro por vários ângulos. Fora de campo, Felipão é um disciplinador, conservador, austero, rude e, ao mesmo tempo, dócil, afetuoso e humano.
É o paizão, o titio e também o chefe todo-poderoso. É temido, mas respeitado e admirado pelos jogadores.
Durante a partida, Felipão é ainda mais contraditório. Todo profissional é o reflexo do cidadão. Scolari é obcecado pela disciplina tática, pela marcação, pelas jogadas ensaiadas, mas é também imprevisível, inquieto e corajoso nas substituições.
Felipão não aceita passivamente uma derrota. Corre atrás dos resultados de todas as formas.
Muda radicalmente o time durante o jogo. Age mais pela emoção do que pela razão.
Felipão sempre foi assim nos clubes. Vi várias vezes o Palmeiras passar da depressão para a euforia, da defesa para o ataque, da derrota para a vitória. Acompanhei também ele cometer erros bisonhos na tentativa de mudar a equipe.
Qual é o verdadeiro Felipão: o conservador, racional e durão ou o imprevisível, inquieto, passional e dócil? Provavelmente os dois. A alma humana tem muitos mistérios. A personalidade nada mais é do que um acordo que a pessoa faz consigo, para atender à razão e aos impulsos.
Qual dos Felipões você prefere: o cauteloso e racional do primeiro tempo ou o corajoso e passional da segunda etapa?
Ou preferiria o treinador equilibrado, frio, calculista e tranquilo do princípio ao fim do jogo, como Carlos Alberto Parreira?
Esse comportamento instável do técnico brasileiro durante a partida será positivo ou negativo na Copa? Vai confundir os adversários ou os jogadores brasileiros é que ficarão confusos com tantas variações táticas?
Será que essas mudanças radicais do treinador muitas vezes dão certo porque ele tem conhecimentos técnicos que ultrapassam a nossa compreensão? Será que o time nacional vai cair logo fora ou vai dar muitos sustos e no final dará certo?
Não tenho respostas. Somente perguntas.

E-mail
tostao.folha@uol.com.br


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