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CICLISMO
Convidado, Adejair Cordeiro, 36, pedala em competição em Minas Gerais
Mountain bike de elite terá pela 1ª vez um cego do país
LUÍS FERRARI
DA REPORTAGEM LOCAL
Há dez anos, ele foi internado
com uma doença misteriosa e
passou 58 dias em coma, desenganado pelos médicos, que demoraram para descobrir que ele sofria
de uma meningite rara, transmitida por fungos presentes nas fezes
dos pássaros que tinha em casa.
Sobreviveu. Saiu do hospital cego, com problemas auditivos e
com o braço direito paralisado.
Hoje, Adejair Cordeiro, 36, será
o primeiro deficiente visual a disputar uma prova oficial de mountain bike no Brasil. Ele participa
da terceira edição do Power Biker,
em Passa Quatro (MG), evento
que conta pontos para o ranking
da União Ciclística Internacional.
Antes da internação, seu interesse em esportes era só nas peladas de que participava com os
amigos nos finais de semana.
"Depois que saí do hospital,
veio a parte mais difícil. Fui internado com 72 kg e saí de lá com 30
kg. Passei dois anos em cama, sem
conseguir fazer coisas básicas do
dia-a-dia sozinho. Estava sem
massa muscular, com o corpo
atrofiado. Só melhorei com a fisioterapia", afirmou Adejair.
Ele conta que os médicos tinham o objetivo de fazê-lo voltar
a andar. "Mas o que eu queria era
correr. Não podia ficar o dia todo
deprimido em casa e resolvi procurar o grupo de apoio aos deficientes da prefeitura", declarou.
Com o apoio do programa, voltou a correr. Já participou de quatro edições da São Silvestre.
Apesar das seqüelas auditiva, visual e motora, ele se readaptou à
vida cotidiana. Então surgiu a necessidade de achar um meio de
transporte que pudesse conduzir.
Soube que o grupo da Prefeitura
de Jundiaí treinava cegos para andar de bicicletas e resolveu se
aventurar, tendo o filho Diego, 13,
como guia. Juntos, percorrem as
ruas da cidade, que ficou pequena
para Adejair. Como a integração
com o meio de transporte foi rápida, nasceu a idéia de competir.
"Já havia feito pequenas viagens
de bicicleta na região. Então veio a
vontade de pedalar também nas
trilhas. Treinei bastante nas montanhas perto de Jundiaí e fiquei feliz quando recebi o convite para
participar da prova", contou ele,
que também pratica natação.
"Sou um privilegiado por competir depois dos problemas que tive. A Paraolimpíada é um sonho.
Gostaria de participar dos Jogos
no ciclismo, mas sei que é difícil."
Para alguém que superou tantos
problemas, parece que não há dificuldade suficiente para impedi-lo de alcançar esse objetivo.
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