São Paulo, sábado, 26 de junho de 2004

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CICLISMO

Convidado, Adejair Cordeiro, 36, pedala em competição em Minas Gerais

Mountain bike de elite terá pela 1ª vez um cego do país

LUÍS FERRARI
DA REPORTAGEM LOCAL

Há dez anos, ele foi internado com uma doença misteriosa e passou 58 dias em coma, desenganado pelos médicos, que demoraram para descobrir que ele sofria de uma meningite rara, transmitida por fungos presentes nas fezes dos pássaros que tinha em casa.
Sobreviveu. Saiu do hospital cego, com problemas auditivos e com o braço direito paralisado.
Hoje, Adejair Cordeiro, 36, será o primeiro deficiente visual a disputar uma prova oficial de mountain bike no Brasil. Ele participa da terceira edição do Power Biker, em Passa Quatro (MG), evento que conta pontos para o ranking da União Ciclística Internacional.
Antes da internação, seu interesse em esportes era só nas peladas de que participava com os amigos nos finais de semana.
"Depois que saí do hospital, veio a parte mais difícil. Fui internado com 72 kg e saí de lá com 30 kg. Passei dois anos em cama, sem conseguir fazer coisas básicas do dia-a-dia sozinho. Estava sem massa muscular, com o corpo atrofiado. Só melhorei com a fisioterapia", afirmou Adejair.
Ele conta que os médicos tinham o objetivo de fazê-lo voltar a andar. "Mas o que eu queria era correr. Não podia ficar o dia todo deprimido em casa e resolvi procurar o grupo de apoio aos deficientes da prefeitura", declarou.
Com o apoio do programa, voltou a correr. Já participou de quatro edições da São Silvestre.
Apesar das seqüelas auditiva, visual e motora, ele se readaptou à vida cotidiana. Então surgiu a necessidade de achar um meio de transporte que pudesse conduzir. Soube que o grupo da Prefeitura de Jundiaí treinava cegos para andar de bicicletas e resolveu se aventurar, tendo o filho Diego, 13, como guia. Juntos, percorrem as ruas da cidade, que ficou pequena para Adejair. Como a integração com o meio de transporte foi rápida, nasceu a idéia de competir.
"Já havia feito pequenas viagens de bicicleta na região. Então veio a vontade de pedalar também nas trilhas. Treinei bastante nas montanhas perto de Jundiaí e fiquei feliz quando recebi o convite para participar da prova", contou ele, que também pratica natação.
"Sou um privilegiado por competir depois dos problemas que tive. A Paraolimpíada é um sonho. Gostaria de participar dos Jogos no ciclismo, mas sei que é difícil."
Para alguém que superou tantos problemas, parece que não há dificuldade suficiente para impedi-lo de alcançar esse objetivo.


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