São Paulo, segunda-feira, 26 de junho de 2006

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Garra scolariana supera frieza laranja

Frenético, treinador brasileiro vibra ao extremo e xinga à beira do campo, de onde Van Basten viu a derrota impassível

Scolari também aponta catimba dos holandeses, enquanto colega reclama da falta de bola rolando no 2º tempo e critica adversários

DO ENVIADO A NUREMBERG

Ambos têm retrospectos invejáveis no comando de suas seleções. Ambos são muitas vezes apontados como principais responsáveis pela classificação de seus comandados para a Copa. Só que, em campo, Luiz Felipe Scolari e Marco van Basten seguem caminhos opostos.
Ontem, no Frankenstadion, estiveram em harmonia apenas nos 43 segundos iniciais da partida, quando permaneceram sentados no banco de reservas.
O brasileiro, então, levantou-se e deu início a um verdadeiro show particular.
Não só pelas já famosas comemorações efusivas de gol, nas quais soca o ar e invade o campo para cumprimentar seus jogadores, mas principalmente pela participação na catimba que sua equipe utilizou para segurar o jogo durante toda a etapa derradeira.
Suas ordens para que os atletas ficassem o máximo possível de tempo caídos após uma falta ou uma dividida chegaram a produzir cenas engraçadas.
Ao final do segundo tempo, por exemplo, fez sinal para três jogadores portugueses se atirarem ao mesmo tempo no gramado. O juiz não sabia qual deles procurar para resolver a situação. O embuste segurou a partida por quase três minutos.
"Fiz o que sempre faço em jogos complicados, é normal. A gente tem ouvido que Portugal tem uma capacidade de sofrer. Não ganha jogo de 3 a 0. Todo mundo sofre", disse Scolari, 57.
A análise de Van Basten, que ontem não pôs em campo o artilheiro Van Nistelrooy, é menos pautada pela emoção, bem como seu comportamento em campo. Mãos no bolso da calça, olhar fixo nos atletas, poucas palavras. Nem a tensão da etapa final foi capaz de alterá-lo.
"Não fomos capazes de jogar da forma como esperávamos. Só lamento porque praticamente não tivemos futebol no segundo tempo. O juiz perdeu o controle. Dos 45 minutos de jogo, a bola deve ter rolado somente em uns 20", afirmou.
Foi pouco, segundo ele, para que seu jovem time conseguisse virar o marcador. Desde que assumiu a Holanda, que ontem não vestiu o tradicional laranja, Van Basten havia sofrido apenas um revés, diante da Itália.
Afirmou, contudo, não deixar o Mundial decepcionado. "A principal meta que temos traçada é a Eurocopa de 2008."
O ex-artilheiro de 41 anos, com carreira premiada no Milan e na seleção, evitou criticar as determinações que Scolari dava a seus atletas para atrasar o duelo. Mas, após o jogo, não procurou o colega vencedor para o tradicional aperto de mão.
O brasileiro, contudo, não deixou a Holanda passar em branco. Ficou irritado no lance em que seus rivais não devolveram a bola para os portugueses após contusão do goleiro Ricardo. Ainda no gramado, o técnico partiu para cima do árbitro reserva e gritou para Van Basten. "Não ouvi nada do que ele disse", esquivou-se o holandês.
Depois do jogo, Scolari atirou mais. "A Fifa fala em "fair play", mas isso não existiu hoje. Foi um jogo violento, mas aquilo de não devolver a posse de bola não pode acontecer", reclamou.
Para comemorar sua 31ª vitória em 47 jogos comandando Portugal, Scolari fez de tudo.
Primeiro, abraçou colegas da comissão técnica. Depois, cumprimentou individualmente cada um de seus jogadores.
Como "gran finale", já ensopado de suor, participou de um "trenzinho" com outros portugueses, que buscavam saudar a torcida nas arquibancadas.
Já Van Basten nem se preocupou em conversar com seus atletas, estatelados no gramado. Caminhou devagar para o vestiário. As duas mãos no bolso da calça. (GUILHERME ROSEGUINI)

Outras fotos da épica classificação portuguesa www.folha.com.br/061522


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