São Paulo, sexta-feira, 26 de junho de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Nadadores agora querem voz

Criação de comissão de atletas, ameaça de boicote e declarações contra maiôs expõem crise no esporte

Antes mais restrita a técnicos, dirigentes e fabricantes, polêmica com a federação internacional chega à piscina às vésperas do Mundial


MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL

A iniciativa parecia despretensiosa. O campeão olímpico Roland Schoeman postou no site de relacionamento Facebook seu desgosto com os desmandos da Federação Internacional de Natação (Fina) e propôs a união dos atletas.
Em menos de três dias, amealhou mais de 1.200 seguidores para o que, planeja ele, será a primeira associação internacional de nadadores.
Desde o advento dos novos maiôs tecnológicos e das confusões da Fina na avaliação e na aprovação dos modelos, pela primeira vez a crise do esporte surge com força nas piscinas.
"Ainda não temos uma associação estruturada, a natação é um esporte amador. Precisamos de profissionalização. Acho que, se tivéssemos uma associação que participasse do debate sobre os maiôs, os resultados teriam sido diferentes", afirmou Schoeman à Folha.
O nadador, que recebeu oferta de assessoria jurídica gratuita para a empreitada, deve colocar um site no ar em breve. Seu plano é criar uma entidade com código de conduta internacional e ter representantes escolhidos em cada país.
"Eu gostaria de que pudéssemos trabalhar de mãos dadas com a Fina. Os atletas precisam ter voz e ser ouvidos", completou o velocista sul-africano.
O levante de Schoeman não foi uma iniciativa isolada. O francês Amaury Leveaux, prata nos 50 m livre em Pequim, protestou com ameaça de boicote a provas do Mundial de Roma, a partir de 26 de julho. A alemã Britta Steffen, ouro nos 50 m e nos 100 m livre na China, bateu ontem o recorde mundial dos 100 m livre e deixou a piscina atirando contra os maiôs.
Desde que o LZR Racer da Speedo invadiu as piscinas em 2008 e ajudou na quebra de mais de cem recordes mundiais, a federação internacional tem causado polêmica ao lidar com os trajes tecnológicos.
A entidade é acusada por técnicos e dirigentes pelo mundo de não ter tido pulso para conter as inovações usadas na fabricação dos novos modelos.
Os materiais usados atualmente ajudam muito na flutuabilidade, no alinhamento do corpo do atleta e facilitam seu deslizamento na água.
Críticos da Fina declaram que a entidade agiu movida por interesses financeiros, já que é patrocinada por fabricantes de materiais esportivos.
Medidas radicais foram tomadas para tentar conter o avanço dos trajes tecnológicos. Nos EUA, por exemplo, só adolescentes maiores de 13 anos podem vestir os maiôs.
A iniciativa foi adotada principalmente para evitar que diferenças econômicas afetassem a competitividade dos torneios e a vida das famílias. Um traje custa cerca de R$ 1.000.
"Acho que precisamos voltar para a época em que as habilidades individuais do nadador eram testadas, e não seus maiôs", disse Schoeman.
Neste ano, novas marcas, como Jaked, Arena e Blueseventy, começaram a apresentar resultados impressionantes e modelos cada vez mais avançados. E a Fina decidiu agir.
A entidade chegou a reprovar 146 dos 348 trajes analisados, entre eles maiôs que já haviam recebido sinal positivo. Recordes ficaram sub judice.
Pouco mais de um mês depois, a Fina recuou na maioria das proibições -há regras que limitam os maiôs previstas para entrar em vigor em 2010.


Texto Anterior: Palmeiras x Santos: Diego Souza x Domingos é atração à parte no clássico
Próximo Texto: Arenas são interditadas em Roma
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.