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Nadadores agora querem voz
Criação de comissão de atletas, ameaça de boicote e declarações contra maiôs expõem crise no esporte
Antes mais restrita a técnicos, dirigentes e fabricantes, polêmica com a federação internacional chega à piscina às vésperas do Mundial
MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL
A iniciativa parecia despretensiosa. O campeão olímpico
Roland Schoeman postou no
site de relacionamento Facebook seu desgosto com os desmandos da Federação Internacional de Natação (Fina) e propôs a união dos atletas.
Em menos de três dias,
amealhou mais de 1.200 seguidores para o que, planeja ele,
será a primeira associação internacional de nadadores.
Desde o advento dos novos
maiôs tecnológicos e das confusões da Fina na avaliação e na
aprovação dos modelos, pela
primeira vez a crise do esporte
surge com força nas piscinas.
"Ainda não temos uma associação estruturada, a natação é
um esporte amador. Precisamos de profissionalização.
Acho que, se tivéssemos uma
associação que participasse do
debate sobre os maiôs, os resultados teriam sido diferentes",
afirmou Schoeman à Folha.
O nadador, que recebeu oferta de assessoria jurídica gratuita para a empreitada, deve colocar um site no ar em breve.
Seu plano é criar uma entidade
com código de conduta internacional e ter representantes
escolhidos em cada país.
"Eu gostaria de que pudéssemos trabalhar de mãos dadas
com a Fina. Os atletas precisam
ter voz e ser ouvidos", completou o velocista sul-africano.
O levante de Schoeman não
foi uma iniciativa isolada. O
francês Amaury Leveaux, prata
nos 50 m livre em Pequim, protestou com ameaça de boicote
a provas do Mundial de Roma,
a partir de 26 de julho. A alemã
Britta Steffen, ouro nos 50 m e
nos 100 m livre na China, bateu
ontem o recorde mundial dos
100 m livre e deixou a piscina
atirando contra os maiôs.
Desde que o LZR Racer da
Speedo invadiu as piscinas em
2008 e ajudou na quebra de
mais de cem recordes mundiais, a federação internacional
tem causado polêmica ao lidar
com os trajes tecnológicos.
A entidade é acusada por técnicos e dirigentes pelo mundo
de não ter tido pulso para conter as inovações usadas na fabricação dos novos modelos.
Os materiais usados atualmente ajudam muito na flutuabilidade, no alinhamento do
corpo do atleta e facilitam seu
deslizamento na água.
Críticos da Fina declaram
que a entidade agiu movida por
interesses financeiros, já que é
patrocinada por fabricantes de
materiais esportivos.
Medidas radicais foram tomadas para tentar conter o
avanço dos trajes tecnológicos.
Nos EUA, por exemplo, só adolescentes maiores de 13 anos
podem vestir os maiôs.
A iniciativa foi adotada principalmente para evitar que diferenças econômicas afetassem a competitividade dos torneios e a vida das famílias. Um
traje custa cerca de R$ 1.000.
"Acho que precisamos voltar
para a época em que as habilidades individuais do nadador
eram testadas, e não seus
maiôs", disse Schoeman.
Neste ano, novas marcas, como Jaked, Arena e Blueseventy, começaram a apresentar
resultados impressionantes e
modelos cada vez mais avançados. E a Fina decidiu agir.
A entidade chegou a reprovar 146 dos 348 trajes analisados, entre eles maiôs que já haviam recebido sinal positivo.
Recordes ficaram sub judice.
Pouco mais de um mês depois, a Fina recuou na maioria
das proibições -há regras que
limitam os maiôs previstas para entrar em vigor em 2010.
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