São Paulo, sexta-feira, 26 de julho de 2002

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BOXE

O homem invisível

EDUARDO OHATA
DA REPORTAGEM LOCAL

Você já imaginou estar a só alguns passos de um campeão dos pesos-pesados, como, digamos, Mike Tyson ou Evander Holyfield, ou mesmo Lennox Lewis, e não reconhecê-lo?
Impossível? Pois esta coluna presenciou tal situação. O único detalhe diferente com relação à cena descrita foi o personagem.
Durante a programação em que Popó unificou os cinturões dos superpenas da AMB e da OMB, em janeiro, um grupo de torcedores, todos fãs de boxe, batia papo na região reservada à imprensa.
Descontraídos, apreciavam as preliminares, sem dar a mínima bola ao grandalhão que, próximo, também observava a ação que se desenrolava sobre o ringue. Até que o proprietário da empresa especializada em cartéis Fight Fax, o argentino Anibal Miramontes, o cumprimentou:
- Olá Johnny, como vai?
- Bem, bem. Obrigado. E você?, foi a resposta, quase tímida.
Como ninguém se manifestava, Miramontes logo engatou um "este é John Ruiz, o campeão dos pesos-pesados da AMB [Associação Mundial de Boxe"".
A reação imediata das pessoas ao anúncio foi a de passar a dar tapinhas nas costas de Ruiz e a pedir seu autógrafo. O pugilista, quase constrangido, fez o que pôde para atender os torcedores.
Ao perceber a reação de Ruiz, Miramontes disse, baixo:
- Desculpe, olha o que acabei provocando, Johnny.
Agora, repetindo a pergunta que abre esta coluna, o leitor consegue imaginar a mesma situação se repetindo com Tyson, Holyfield ou até mesmo Lewis?
Claro, não ajuda em nada a popularidade de Ruiz o fato de ele ser um dos campeões dos pesos-pesados mais criticados de todos os tempos. Por quê?
Primeiro, por ter ganhado um título tomado no tapetão do britânico Lennox Lewis. Segundo, por ter sido nocauteado por David Tua em 19 segundos e, terceiro, pelo fato de sua série de três lutas com Evander Holyfield ter sido marcada pela polêmica.
Pelo que viram na trilogia, os especialistas acreditavam que Holyfield havia chegado ao fim da linha quando enfrentou Ruiz (o fato de posteriormente Holyfield ter batido Hasim Rahman mostra que não era bem isso).
E seu apelido é auto-explicável: "The Quiet Man" ("O Discreto").
Mas, em minha opinião, também pesa contra Ruiz o fato de ele ser latino, algo que nunca havia acontecido quando se tratava de campeões dos pesos-pesados.
Certamente é normal para os americanos ver um afro-americano dominando a categoria máximo -e uma grande parte da população sonha com uma "esperança branca". Mas um latino?
Porém Ruiz merece crédito.
Após ganhar o título de Holyfield, afirmou às agências de notícias que era porto-riquenho. Assim, metade das agências noticiosas e publicações especializadas seguiram informando que Ruiz era norte-americano, e outra parte, que Ruiz era porto-riquenho.
A esta coluna, o pugilista admitiu que era norte-americano.
Explicou que mentiu sobre o local de nascimento por ter muito orgulho dos pais porto-riquenhos.
Se tivesse dito que era norte-americano, talvez os EUA tivessem sido mais simpáticos a ele. Optou por ser fiel às convicções.
E é justamente Ruiz que põe o cinturão em jogo amanhã, contra o canadense Kirk Johnson (com BandSports e Bandeirantes).

Brasil 1
O brasileiro Popó é o favorito na proporção de 4 por 1 nas bolsas de apostas para manter os cinturões no próximo dia 3, nos EUA.

Brasil 2
O campeão dos pesados do Pride (um dos dois torneios mais importantes de vale-tudo ao lado do UFC), Rodrigo Nogueira, o Minotauro, retorna aos ringues no dia 8, após uma ausência de cinco meses, contra o japonês Kikuta. O brasileiro permaneceu inativo enquanto tratava de uma hérnia de disco, na Holanda.

Lewis x Lewis
Mais uma mostra da razão pela qual não se deve levar muito a sério as entidades que dirigem o boxe: a IBO (Organização Internacional de Boxe), cujo campeão dos pesos-pesados é Lennox Lewis, lista Lewis também como o primeiro do ranking. Se esse combate for realizado, não resta dúvida: vou apostar em... Lennox Lewis.

E-mail eohata@folhasp.com.br



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