São Paulo, quarta-feira, 26 de julho de 2006

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TOSTÃO

O favorito é o pior

Como fui um fracasso no bolão da Copa, só vou apostar no time com menos chance de vencer. Vou acertar mais

NA COPA do Mundo, ficou ainda mais evidente que a estratégia de uma equipe depende muito mais da maneira com que os jogadores ocupam os espaços no campo do que do esquema tático desenhado em uma prancheta.
O Vasco, mesmo atuando com dois meias ofensivos e dois atacantes, é um time bastante defensivo.
A estratégia do Renato é recuar, atrair o adversário, iniciar a marcação no seu campo e contra-atacar. Hoje, com a desvantagem de dois gols, deve mudar de estilo.
Já Inter e São Paulo, que sempre pressionam os adversários quando atuam em seus estádios, deveriam mudar de estratégia fora de casa? Muitas vezes, o time visitante é pressionado, acuado, independentemente dos desejos dos técnicos.
Abel e Muricy, como qualquer bom técnico, devem estar com dúvida sobre a postura do time. Só os medíocres e/ou os prepotentes têm certeza de tudo.
O único time do mundo que quase sempre joga da mesma forma, dentro e fora de casa, mesmo contra adversários fortes como Milan, Chelsea e Arsenal, é o Barcelona, dirigido pelo Rijkaard, bicampeão da Espanha e campeão da Europa.
Nos últimos dez anos, os únicos treinadores do mundo que saíram da mesmice tática, por um período longo e regular, foram o Rijkaard e o Marcelo Bielsa, ex-técnico da seleção da Argentina, o que não significa que sempre tiveram êxito.
A Argentina, que tinha um excepcional conjunto durante quatro anos de preparação para a Copa do Mundo de 2002, foi naquele Mundial o Brasil de 2006.
Volto à Libertadores. Pelas características dos volantes Mineiro e Josué, que se destacam pela marcação em quase todo o campo, será difícil para o São Paulo ficar jogando muito atrás, esperando o Chivas para contra-atacar.
Uma dificuldade tática do São Paulo, que não tem sido importante por causa da enorme eficiência do Mineiro e Josué no desarme, são os espaços que o time deixa entre os volantes e os zagueiros. Josué e Mineiro avançam na marcação e os zagueiros ficam lá atrás. Por também desarmar mais à frente, o Estudiantes, na semana passada, tinha com freqüência um jogador livre conduzindo a bola para cima dos zagueiros do São Paulo.
França e Itália mostraram ótimas defesas na Copa porque deixavam pouquíssimos espaços nas costas dos zagueiros e entre esses e os volantes. Os defensores marcavam um pouco mais à frente, na sua intermediária, e os armadores pressionavam o adversário no meio-campo.
Já Gana colocou os zagueiros quase no meio-campo, deixando muitos espaços nas costas dos defensores para os lançamentos longos. Assim saíram os três gols do Brasil.
Teremos hoje e amanhã jogos equilibrados. Como fui um fracasso no bolão que participei na Copa, só vou apostar daqui para frente no time que, teoricamente, tem menos chance de vencer. Agora, o favorito é o pior. Vou acertar mais.
Precisamos também mudar alguns conceitos sobre a qualidade dos jogadores e dos times.
Se o Vasco ganhar o título da Copa do Brasil, será considerado uma grande surpresa, já que o Flamengo tem a vantagem de dois gols? Não sei. Falam muito que 2 a 0 é um resultado perigoso. É mais perigoso que 3 a 0 e menos que 1 a 0.

Atitude
Na sua primeira entrevista, Dunga falou em motivação, doação dos jogadores, vontade de vestir a camisa amarela, garra. Não poderia faltar também a palavra atitude.
Neste momento, tudo isso agrada bastante à opinião pública. Mas é uma grosseira simplificação, uma estreiteza, achar que o Brasil perdeu somente por falta de vibração.


tostao.folha@uol.com.br

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