São Paulo, domingo, 26 de julho de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FUTEBOL
Time recebe injeção de R$ 6 milhões em troca de ações e volta à elite
Empresários fazem Ponte Preta virar "bom negócio'

MAÉRCIO SANTAMARINA
enviado especial a Campinas

Depois de transformar um time de futebol praticamente falido em um bom negócio, um grupo de empresários de Campinas que conseguiu trazer a Ponte Preta de volta à elite do futebol brasileiro investindo R$ 6 milhões do próprio bolso prepara-se para assumir parte das ações do clube, com a abertura de seu capital.
A transformação da Ponte Preta em sociedade anônima, processo que deve ser concretizado dentro de 60 dias, com a aprovação de seu Conselho Deliberativo, promete trazer ainda dois novos parceiros para investimentos, os bancos Fibra e Liberal, que também terão direito a ações.
Foram 11 anos e sete meses desde a sua última partida em um campeonato nacional de primeira divisão (em dezembro de 86, no empate de 0 a 0 com o Santos, no estádio Moisés Lucarelli). Hoje a Ponte Preta faz a sua reestréia, em um clássico campineiro contra o Guarani, no estádio Brinco de Ouro.
O processo de recuperação começou há pouco menos de dois anos, com a posse do atual presidente, o empresário Sérgio Carnielli, 52, que se tornou o principal investidor no clube, com apoio de conselheiros, também empresários "amantes do futebol".
Nesse período, a Ponte subiu da Série C para a Série A do Brasileiro -contando com a ajuda da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) para, sem jogar, ser içada à Série B após sua queda à terceira divisão em 95.
Proprietário da empresa Tecnol, segundo ele a maior fabricante de óculos da América Latina, Carnielli dá como certo o retorno do capital investido e ainda a atração de novos investidores.
"Conseguimos empréstimos, além de doações, de empresários que acreditavam na abertura de capital da empresa para converter os débitos em ações. Com a criação da Ponte Preta S.A., todo investimento será convertido em ações, inclusive as dívidas", afirma Carnielli.
Além do lado econômico, ele passou a ser visto como uma espécie de "herói" pelos torcedores ponte-pretanos e assediado pelos políticos da cidade.
"Ele faz uma administração heróica. Conseguiu aglutinar todas as alas com o amor inexplicável que tem pelo clube", diz o presidente da torcida Jovem, a maior entre as três organizadas do time, Cláudio Henrique Albuquerque.
Embora ligado ao grupo político do atual prefeito de Campinas, Francisco Amaral (PPB), ele se diz apolítico. "Sou, sim, muito procurado por partidos políticos, mas não tenho nenhum interesse em política. Gosto é de futebol", diz.
"Concordei em passar a presidência ao Carnielli porque ele disse que investiria R$ 1 milhão por mês de seu próprio bolso. Tive que abdicar em favor de uma pessoa que tinha dinheiro, pois só assim seria possível salvar a Ponte Preta", diz o fisioterapeuta Nivaldo Baldo, que dirigiu o clube de janeiro a setembro de 96, período em que Carnielli foi vice.
Sucessor dos ex-presidentes Marco Chedid e Peri Chaib, Baldo afirma que o clube tinha um rombo histórico impossível de se estimar mesmo com auditoria. "A cada dia surgiam novas dívidas. A Ponte estava para fechar."
Os empresários aglutinados em torno do nome de Carnielli custeiam os atuais R$ 350 mil mensais gastos com futebol -R$ 250 mil só com folha de pagamento.
A receita obtida junto aos associados é usada para a manutenção das duas sedes do clube.
A meta inicial, segundo o diretor do departamento de futebol profissional da Ponte, Marco Eberlin, era para que a equipe voltasse à elite do futebol em três anos para só depois começar a pensar em títulos. Como essa meta foi antecipada, os sonhos já aumentaram.
"Agora queremos quebrar a tradição da Ponte de ser apenas vice, como ocorreu nos campeonatos paulistas de 70, 77, 79 e 81 (no Brasileiro, sua melhor colocação foi um terceiro lugar, em 81). Da forma como as coisas caminham, já dá para começar sonhar com o primeiro lugar", afirma Eberlin.
Para o atual técnico do time profissional, Celso Teixeira, o momento que a Ponte vive hoje representa um desafio para o time fazer um bom campeonato e acabar de resgatar a imagem do clube.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.