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FUTEBOL
De volta, o amigo das criancinhas
MÁRIO MAGALHÃES
COLUNISTA DA FOLHA
O que era para ter sido um
momento sublime do futebol, o reencontro dos dois craques
supremos a que a minha geração
teve a sorte de assistir, constituiu
um episódio-síntese de um tempo
de hipocrisia.
A visita de Pelé a Maradona, no
programa "La Noche del Diez",
consagrou a reconciliação dos ex-desafetos. Foi o que nos fizeram
-ou tentaram fazer- acreditar.
O anfitrião safou-se da morte e
deu a volta por cima. O convidado sofre com um filho preso, e nada se compara à dor de pai e mãe.
A TV mostrou-os como companheiros a oferecer o ombro amigo.
Além de comprovar que Pelé sabe
cabecear com a testa e Maradona, quase inepto, não. Gostaria
muito que fosse só isso. Pena que
não foi. Fora do ar, Maradona
cutucou: "Parece que os fatos o
golpearam. Está mais aberto ao
diálogo". Pelé retrucou, na Globo:
"Pelo contrário. Quem mudou foi
ele". Foi o fim da encenação.
Para Maradona, que há anos se
refere a Pelé com desprezo, o visitante serviu para a decolagem na
TV. Para Pelé, que se escuda na
identidade de Edson para justificar as caneladas, pegou bem prestigiar o renascimento do velho
antagonista. Tudo pelo pragmatismo.
Maradona estampou na camisa
o logotipo do Mastercard, para o
qual Pelé faz propaganda. Guillermo Bassignani, agente do brasileiro na Argentina, jura que não
houve patrocínio para o encontro. No sábado, Antonio Maria
Filho e Jorge Luiz Rodrigues revelaram no "Panorama Esportivo"
do "Globo": o desempenho de Pelé lhe valeu US$ 120 mil, "pagos
por uma operadora de cartão de
crédito". Abraço subsidiado é coisa de tamanduá.
Pior foi saber pelo Rodrigo Bueno, na Folha, que Bassignani ainda é associado a Pelé. Ele falou
em nome do parceiro e de Maradona: "Querem viajar juntos em
campanhas pelas crianças, pela
saúde, essas coisas". Pelé e Bassignani sabem tudo de ajuda às
crianças pobres. Há uma década,
tabelaram na jogada em que a
Pelé Sports & Marketing Inc. abocanhou US$ 700 mil movimentados em torno de um evento pró-Unicef que nunca ocorreu.
Com a seção argentina do Fundo das Nações Unidas para a Infância, a PS&M se comprometeu
a organizar um evento beneficente. Nada cobraria. Na moita, a
empresa das Ilhas Virgens Britânicas arrumou um jeito de embolsar US$ 3 milhões pelos serviços "solidários".
Entrou na parada a Global Entertainment, firma dos EUA. Seu
presidente: Guillermo Bassignani.
O evento não saiu, mas os US$
700 mil que chegaram à PS&M,
em nome do amparo aos meninos
carentes, ficaram com a offshore
presidida por Pelé.
Quando a armação foi revelada, Pelé jogou a culpa no sócio
Hélio Viana e vice-versa. Prometeu apurar e, talvez, entregar a
grana ao Unicef. Não entregou.
Segue a faturar com quem levantou os US$ 700 mil depois repassados à PS&M: Bassignani. A última foi o show com Maradona, a
emoção patrocinada. Privatizaram até a camaradagem.
Um grande garoto
Todo mundo erra. Mulheres e
homens de caráter reconhecem
suas bolas fora. Eis o que
Robinho disse (li no "Lance!")
sobre os procedimentos que
usou para forçar o Santos a
liberá-lo: "Não ter ido treinar
foi um erro. O Santos sempre
pagou meu salário em dia. Eu
fui sincero ao falar que estava
com a cabeça no Real Madrid.
Talvez se eu dissesse que não
era para pagar o meu salário...
Se fosse hoje, viria treinar e
diria para o presidente ir
negociando. [...] Nunca tive
qualquer privilégio no Santos.
As pessoas me vêem como estrela, e estrela deve dar o exemplo". Com Robinho na Espanha, não sei se a espera será
mais longa para ver os seus jogos no Real ou os de Ronaldinho no Barcelona. Boa sorte!
E-mail: mario.magalhaes@uol.com.br
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