São Paulo, sábado, 26 de agosto de 2006

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JOSÉ GERALDO COUTO

Homem morde cão em Mônaco

Vitória do Sevilla sobre o Barcelona na Supercopa mostra ao Inter que o time de Ronaldinho não é imbatível

FAZ TEMPO que esta coluna não comenta um jogo de futebol, não é verdade? Mas hoje vai comentar. O jogo é Sevilla 3 x 0 Barcelona, na final da Supercopa européia. Liguei a TV para ver Ronaldinho, acabei vendo Renato e um punhado de jogadores igualmente eficientes, discretos e classudos do time sevilhano.
A vitória do Sevilla, que surpreendeu a todos, sobretudo pelo placar elástico, veio comprovar uma coisa que muitos insistem em ignorar: para vencer um grande time, repleto de atletas fora-de-série, não é preciso dar botinada, nem jogar feio, nem mesmo armar uma triste retranca.
O time de Renato e Luis Fabiano não só foi perfeito na marcação, anulando Ronaldinho, Messi, Eto'o e companhia, mas também soube atacar com veneno e competência.
Além dos três gols que fez, teve um pênalti não marcado a seu favor e ao menos duas chances perdidas cara a cara. Poderia ter sido uma goleada histórica. Ou seja, o antídoto contra o futebol exuberante de um Barcelona não é o antijogo, mas sim um futebol altamente técnico e inteligente. Se um time joga muito, o outro tem que jogar mais ainda. Foi isso o que fez o Sevilla ontem em Mônaco.
Como a maioria dos brasileiros que acompanham o futebol europeu, comecei torcendo pelo Barça, mas não fiquei triste com o resultado. Muito pelo contrário. A partida proporcionou inúmeras alegrias. A primeira foi ver, entre os 22 atletas que iniciaram o jogo, nada menos do que nove brasileiros, cinco do Barcelona e quatro do Sevilla. Entre todos, quem jogou mais foi Renato, perfeito na marcação, na armação e no ataque. Além de ter feito o primeiro gol, em jogada iniciada por ele próprio, o ex-santista ainda bateu o escanteio que resultou no segundo e quase fez outro, de cabeça.
A segunda alegria, que compartilho com os amigos colorados, foi constatar que o Barcelona, por maior que seja, não é imbatível. O time de Rijkaard atuou com todas as suas estrelas, bem preparado fisicamente e com muita vontade de vencer. Perdeu porque o Sevilla foi melhor, simplesmente. Em vista disso, o Inter pode sonhar com a difícil tarefa de vencer a equipe catalã no Mundial interclubes, no fim do ano. Mas convém lembrar que o Barça estará reforçado de Thuram e Zambrotta, enquanto o Inter terá perdido alguns de seus principais atletas.
Uma terceira alegria, que tem a ver com o espírito de porco típico da profissão de jornalista, foi o caráter de "zebra" do resultado. O Barcelona ganhar seria o normal, a não-notícia, como a história do cachorro que mordeu o homem. Notícia, como se sabe, é quando o homem morde o cachorro. Em vista de tudo isso, saúdo aqui o grande triunfo andaluz, que vem nos lembrar a verdade óbvia de que nenhuma partida se decide na véspera e que é jogando bola que se vence o jogo da bola.

RODADA QUENTE
O segundo turno do Brasileirão começa fervendo, com Flamengo x São Paulo, Inter x Vasco, Corinthians x Grêmio, entre outros duelos de soltar faísca. Agora, quase não haverá jogos frouxos, pontos inúteis, perda de tempo. Cada pontinho, cada golzinho feito ou perdido determinará o destino dos clubes. Para alguns, dá para sonhar com a glória; para outros, só cabe correr para escapar do abismo.

TEVEZ X LEÃO
Tevez, o jogador mais importante do Corinthians desde a fase áurea de Marcelinho, sai de forma triste, fustigado por um técnico que não admite ver alguém brilhar mais que ele. Repito o que escrevi há meses: poucos atletas honraram tanto a camisa alvinegra, com talento e garra, quanto o argentino. Vai deixar saudades. Ao contrário de Leão.


jgcouto@uol.com.br

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