São Paulo, terça-feira, 26 de agosto de 2008

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nocaute

Alemão é "culpado" por queda cubana

Ex-pugilista Ahmet Öner foi responsável por deserção ou suspensão de cinco campeões olímpicos ou mundiais do país

"Se fossem tratados da maneira correta, esses lutadores nunca teriam deixado Cuba", declara promotor de combates


EDUARDO OHATA
ENVIADO ESPECIAL A PEQUIM

Com as luvas, nos ringues, ele admite nunca ter sido "o melhor boxeador do mundo".
Mas, fora do ringue, o alemão Ahmet Öner interrompeu a série de títulos de Cuba como campeã olímpica de boxe -foi desbancada pelos donos da casa em Pequim-, pois foi responsável pela deserção (ou suspensão) de cinco campeões olímpicos ou mundiais do país.
Nos Jogos, os cubanos não ganharam um ouro sequer, o que não ocorria havia 40 anos.
""Não foi minha culpa que os lutadores cubanos desertaram. Se fossem tratados de maneira correta, não teriam deixado Cuba. Nem fui eu que suspendi [o tricampeão olímpico Guillermo] Rigondeaux da seleção. Essa decisão foi do governo cubano, não minha. [Rigondeaux] teria conquistado o seu quarto ouro", afirmou Öner à Folha.
Após uma carreira amadora de só um ano, Öner, filho de turcos baseados na Alemanha, tornou-se lutador profissional em 1997. Cinco anos depois, aposentou-se com um currículo de 16 vitórias, 5 derrotas e 2 empates, tendo ganhado só uma das últimas cinco lutas.
Ironicamente, foi justamente o que lhe trouxe fama como promotor de lutas que encurtou sua carreira profissional.
""Faltou para mim um longo currículo amador. É a técnica que as estrelas amadoras obtêm que as tornam campeãs no profissionalismo", resumiu, ao apontar que sua experiência lhe serve bem na nova função.
Foi o suficiente para convencer Öner, hoje com 35 anos, de que jamais seria um campeão.
Paralelamente à sua carreira como pugilista, ele já vinha plantando as sementes que anos depois o colocariam no comando da empresa promotora Arena Box-Promotion.
Dividia seus dias entre os treinos, um curso de economia, fazia o trabalho de marketing para um amigo, o peso pesado Sinam Samil Sam, e ainda encontrava tempo para vender ingressos de programações.
Foi natural que, logo após pendurar as luvas, Öner realizasse a transição para empresário de boxe. Sua primeira conquista foi guiar Sam ao cinturão europeu dos pesados.
Desencantado com as firmas promotoras de boxe locais Universum Box-Promotion e Sauerland Events, fundou a Arena Box-Promotion, em 2006. Três meses depois, em setembro, promoveu seu primeiro show, com o desconhecido Mahir Oral, que hoje está entre no top 15 do mundo.
Porém, fora dos ringues, registrou um feito que ninguém havia conseguido: dizimou a esquadra cubana amadora.
Foi ele quem deu abrigo aos desertores Yuriorkis Gamboa, Odlanier Solis e Yan Barthelemy, todos campeões olímpicos, em 2006. Depois, orquestrou a tentativa de deserção, no Pan-07, de outro cubano campeão olímpico, Guillermo Rigondeaux, e do campeão mundial Erislandy Lara, proibidos de retornar à seleção nacional pelo ditador Fidel Castro. Lara depois fugiu para a Alemanha.
""[Fidel] é uma lenda, mas também um homem velho que deveria entender que o conceito de uma sociedade perfeita é simplesmente errôneo. Você não pode ordenar às pessoas que vivam felizes. Deixe o povo decidir, não decida por ele."
O promotor poupa a todo custo sua vida pessoal. Ao ser questionado sobre sua mulher, a filha do técnico Fritz Sdunek, e filhos, pediu privacidade. ""Deixe-os fora disso", disse.
Hoje, Öner é freqüentemente visto ao lado do ringue, torcendo por seus pupilos, diversos dos quais prontos para disputar títulos, em eventos transmitidos por redes de TV com enorme tradição no boxe.
Acompanhou o boxe olímpico, mas pela TV. ""Não fui à China. Não gosto do jeito que tratam as pessoas, do fato de a China estar popular agora porque sediou os Jogos. Tem muita coisa errada na China, e não devemos esquecer disso só por causa da Olimpíada."


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